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Não, não é neste parágrafo que está a alienação. Posso discordar que no texto de que tirei este parágrafo haja uma excessiva permeabilidade da linha que separa a publicidade de um texto de opinião forte sobre a devastação social que nos entra pelos olhos, mas não há ponta de alienação nesta crua descrição da realidade.
A alienação está no longo e interessante artigo de Manuel Carmo Gomes sobre o que nos espera no Outono, do ponto de vista da epidemia.
Manuel Carmo Gomes começa por informar que vai dividir o seu texto em três grupos de questões, o primeiro relacionado com o nosso comportamento em relação ao vírus, o segundo com o grau de imunidade já adquirida e a terceira relacionada com as intervenções das autoridades de saúde pública, sobre as quais Manuel Carmo Gomes avisa que tem uma visão pessoal totalmente aberta à discussão e escrutínio.
Na verdade este truque de retórica não chama a atenção para o carácter aberto e discutível do terceiro grupo de questões, o que o truque faz é dissimular o argumento de autoridade em que assentam os dois primeiros grupos de questões, caracterizando-os como sendo "abordados recorrendo aos conhecimentos científicos adquiridos nos últimos meses".
É extraordinário que Manuel Carmo Gomes omita, totalmente, que qualquer coisa como 70% do contágio se faz em coabitação e gaste quase todo o espaço dedicado à questão da transmissão e contágio à transmissão por aerossóis em contexto social, matéria que está longe de totalmente clarificada e, sobretudo, que consensualmente se sabe que não representa uma percentagem muito grande no contágio e, menos ainda, está associada a uma percentagem relevante de hospitalizações e mortes. Mesmo assim, conclui que a nossa capacidade de evitar uma segunda vaga da epidemia está na nossa capacidade para minimizar o contágio por aerossol, uma afirmação ousada e muito pouco fundamentada, quer no texto que escreve, quer nos dados conhecidos da epidemia.
Mais grave, no entanto, é o que Manuel Carmo Gomes refere sobre o grau de imunidade, referindo mais uma vez os famosos 60% de imunidade na comunidade para se atingir imunidade de grupo, sem dedicar uma linha à investigação de Gabriela Gomes sobre o efeito da heterogeneidade na diminuição desse número, nem à evidência empírica de que, mesmo em condições de forte prevalência da infecção, a infecção ter parado com percentagens da população muito abaixo desse número.
Na verdade, e no essencial, o artigo resume bem ao que vem: "uma média de 300 casos por dia é um valor muito alto (escusando-se a fundamentar esta afirmação), não afasta o risco de descontrolo (mas há alguma maneira de afastar o risco de descontrolo? O que precisamos é de o gerir, pretender risco zero é uma pretensão absurda, cara, ineficiente e que qualquer gestor de risco sabe ser uma infantilidade), dada a capacidade para propagação exponencial deste vírus na população (ainda está na conversa do risco de propagação exponencial? Não aprendeu nada neste seis meses?)".
E quanto ao problema de Isabel Jonet levanta o primeiro parágrafo deste meu texto, tem alguma a dizer, caro Manuel Carmo Gomes?
Ou acha que a pobreza é um risco menor para a saúde pública que a covid?
É que se acha, está na altura de começar a explicar, preto no branco, por que razão entende que a covid é um risco para a saúde pública maior que a pobreza, já chega de omitir partes essenciais do problema na definição de políticas públicas, como se fosse possível gerir a economia omitindo a ameaça sanitária ou gerir a saúde pública omitindo o contexto económico e social em que a epidemia se desenvolve.
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