Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Luzes de Natal

por João Távora, em 23.12.23

Presepio 2023.jpg

Não raro, até por parte de insuspeitos mas austeros cristãos, ouço protestos a respeito de eventuais excessos mundanos e ostensivos enfeites de Natal nas nossas casas ou ruas e cidades engalanadas com vistosas e resplandecentes luzes, como que a anunciar uma grande festa.

Mas nem sempre foi assim. Não há muito tempo, quando a escuridão nocturna dependia dos astros, o sustento dependia das colheitas, a saúde dependia da sorte, a distância dependia do andar, o comércio dependia das tréguas, a luz irradiada pelo Deus Menino em cada Natal era incontestável. Tento imaginar como nesses tempos remotos, quando o escuro da noite era difícil de aclarar, se engalanavam os templos para a Missa do Galo, alumiados de velas dispendiosas e aquecidos de famílias inteiras, gente de toda a condição. As igrejas engalanadas eram pólo de encontro dos cristãos, e o Natal tempo de consolo para os nossos antepassados, que numa trégua nos combates, trabalhos oficinais, agrícolas ou outras aflições, se juntavam a celebrar a vinda do Messias. Imagino os sombrios carreiros entre povoados, pontilhados pela luz das lanternas dos grupos de pessoas caminhando para se juntarem nas casas umas das outras. A festa fazia-se iluminada e aquecida por uma grande fogueira, com uma ceia melhorada com esmero e vinho bom.

Acredito que sob um céu estrelado e silencioso era então mais fácil a devoção à Natividade, o mistério da encarnação de Deus que do seio da Virgem Maria num recôndito estábulo vem comungar com a humanidade os seus padecimentos. Era por certo na altura mais evidente para cada um a importância da vida espiritual e da oração, fonte preciosa da esperança que move montanhas e conforta as angústias. Já as pessoas, na sua humanidade, eram intrinsecamente como nós, com as nossas dores, alegrias, angústias e esperanças.

Curioso como o improvável local do nascimento do menino Jesus foi revelado por uma estrela luminosa que guiou os sábios, reis e pastores para o Presépio. Foi com recurso a uma grande luz que se operou o mais bem-sucedido anúncio da história, que mudou o rumo da história. Mesmo que nos nossos dias a maior parte das pessoas não tenha verdadeiro interesse em conhecer o protagonista do Natal, certo será que a Natividade merece todo o espalhafato que uma incomensurável alegria naturalmente transborda e irradia, feita de cores vivas, brilhos e reflexos e… estrelas cadentes.

Natal é tempo de consolo, de tréguas, de nos juntarmos e nos fazermos presentes. Trocar sentimentos e palavras azedas por palavras benignas, o ruído por cânticos, a austeridade por festejos e luzes, são tudo coisas que estou certo farão sorrir o Menino Jesus nas palhinhas. Folguedos que, com o espírito certo, conferem nobreza à nossa dura existência. Era isso que Deus queria quando se fez carne e nasceu em Belém, com luz própria para nos ajudar a vencer as trevas.

Publicado também aqui

Tags:


13 comentários

Sem imagem de perfil

De urinator a 23.12.2023 às 11:27

já nem se ouvem os bonitos cânticos de Natal do Menino Jesus.
sobrou a manjedoura da política e um ASNO político. em Belém está o PR
Sem imagem de perfil

De Cá não há bar a 23.12.2023 às 13:38

O quê!? O inquilino de Belém-cascais está em Belém??
Sem imagem de perfil

De Anonimo a 23.12.2023 às 15:49

Estou certo de que o Jesus, já não menino, se envergonha da hipocrisia em que se transformou o Natal. Fá-lo-á sorrir tudo o descrito nos restantes 360 dias do ano, e não numa semana por decreto.
Imagem de perfil

De Vagueando a 23.12.2023 às 18:09

Sou do tempo dos carreiros entre aldeias, das velas e das lanterna a petróleo.O céu era mais lindo mas as gentes das aldeias almejavam pela chegada da electrcidade.
Sem imagem de perfil

De IMPRONUNCIÁVEL a 23.12.2023 às 19:46

Nesse tempo, nas aldeias do Portugal recôndito, as pessoas sabiam que não podiam contar com o Poder Central (Corte ou Estado). Nem na água, nem na luz, nem em nada. Estavam entregues à relação entre o que a Terra e o Céu lhes podia dar.
Nesse tempo, não se faziam negócios e turismo com o sagrado da Terra e do Céu.
Sem imagem de perfil

De urinator a 23.12.2023 às 20:37

só conheço o estado velho socialista leninista com aumento de  Sem Abrigo e imigrantes
nos últimos 8 anos perdi 10% de poder de compra
nem se fala em criação de riqueza, só da esmola da UE 
Sem imagem de perfil

De Cá não há bar a 24.12.2023 às 08:04

Mas diz que a malta dos unicórnios e da vaga "nómada" diz e tal vai criar muitas grutas de Ali-babás. Estou a pensar partir o outro mealheiro(parti já um para comprar a massa das filhós)que tenho no cofre para investir na far festas ou como é que se chama ou catano.
Sem imagem de perfil

De IMPRONUNCIÁVEL a 24.12.2023 às 14:49

E este país é socialista-leninista?

(sic, 24/12/2023): "Alemanha soma mais de 600 mil pessoas sem moradia, das quais 50 mil são moradores de rua. Governo alemão quer erradicar problema até 2030, mas até agora tem falhado em cumprir suas metas. Os primeiros sem-teto começam a chegar à igreja Tabor em Berlim meia hora antes da abertura das portas. Às quartas-feiras, a igreja oferece um café onde eles podem comer, beber e usar o duche. Em breve, espera oferecer também refeições quentes".
Sem imagem de perfil

De urinator a 25.12.2023 às 10:06

o estado velho leninista deste país é o verdadeiro reino de PANGLOSS, DE CÁNDIDO  ou o  optimismo, de Voltaire.
viva a esmolinha alemã! vivó!
Sem imagem de perfil

De urinator a 25.12.2023 às 10:08

resultado da unificação ao incorporar a desgraçada Alemanha proveniente da implosão da urss
Sem imagem de perfil

De urinator a 25.12.2023 às 11:16

Merkel 'importou' 5 milhões de sírios.
hoje a Polizei, de arma em punho, guarda a reconstruída Catedral de Köln
Imagem de perfil

De O apartidário a 24.12.2023 às 15:03

De outro blog que estou a seguir  (um aviso,especialmente a quem tem filhos/ as) 

https://identdegeneroideologiaouciencia.blogs.sapo.pt/o-que-se-esta-a-fazer-as-criancas-e-15466


Imagem de perfil

De Ricardo A a 25.12.2023 às 13:29

A maioria de nós,ocupada como está com as nossas familias, os nossos amigos, os nossos trabalhos e actividades, preferiria passar ao lado de todos esses conflitos,controvérsias e cancelamentos que dividem a nossa sociedade. Mas tal como aconteceu aos dissidentes na era soviética e a tantos outros antes deles, a neutralidade já não é uma opção.

( do capítulo 25 do Manual do Bom Cidadão)


Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2024
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2023
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2022
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2021
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2020
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2019
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2018
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2017
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2016
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2015
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2014
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2013
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2012
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2011
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2010
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2009
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2008
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2007
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D
    248. 2006
    249. J
    250. F
    251. M
    252. A
    253. M
    254. J
    255. J
    256. A
    257. S
    258. O
    259. N
    260. D