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Por acaso, ouvi Mariana Mortágua a dizer que a igualdade é uma condição de liberdade.
Nada de novo "só há liberdade a sério, quando houver, a paz, o pão, a habitação, saúde, educação, quando pertencer ao povo o que o povo produzir", cantava Sérgio Godinho há largos anos, dando forma à ideia querida do marxismo que entende que condições objectivas de igualdade, a liberdade é meramente formal.
A mim parece-me que a aceitação da desigualdade é uma condição essencial para que cada um tenha liberdade para ser diferente, mas percebo quem queira argumentar que estou a falar de condições de chegada, quando Mariana Mortágua estava a falar de condições de partida.
Patrícia Fernandes é das cronistas mais interessantes que vou lendo por aí e hoje ajuda-me a fazer este post (involuntariamente).
"O que quer dizer Rawls com esta ideia de lotaria? O filósofo norte-americano pretende chamar a atenção para o facto de as circunstâncias que rodeiam o nosso nascimento não serem responsabilidade nossa, mas serem resultado de mera sorte: não escolhemos nascer numa família com recursos materiais ou com pais capazes de estimular intelectualmente os seus filhos, tal como não escolhemos nascer saudáveis, inteligentes ou como filhos mais velhos. É uma questão de lotaria social e natural, o que significa que as vantagens que retiramos dessas condições de sorte não podem ser vistas como resultado de um esforço da nossa parte – isto é, não são resultado do nosso mérito".
O artigo de hoje de Patrícia Fernandes segue por caminhos diferentes do que eu gostaria de realçar neste post.
Sim, é verdade que grande parte da trilogia em que se baseiam as nossas carreiras profissionais e o nosso sucesso social - capacidade, conhecimento e contactos - resulta, em grande parte, da lotaria genética, da lotaria no lugar de nascimento, da lotaria no contexto social, da lotaria nos professores que nos calham em sorte, etc..
Não é só lotaria, até porque grande parte da forma como lidamos com o nosso contexto, isto é, com os resultados da lotaria, é opção de cada um, mas há uma esmagadora quantidade de lotaria da qual depende a nossa vida.
O que me interessa realçar é que com a justa procura de menor injustiça - a lotaria, por definição, não tem qualquer relação com a justiça - desvalorizámos o princípio aristocrático de respeito pelo "favor dos deuses" que, em tese, fundamentava a ética aristocrática de estar ao serviço dos outros, como forma de estar à altura desse "favor dos deuses".
Um aristrocrata tinha obrigações éticas, pelo menos teóricas, de prover os que dele dependiam e de servir aqueles de quem dependiam as mercês que sobre ele caíam.
Pelo menos parte dessa ética, a que, por exemplo, Warren Buffett dá corpo com a sua promessa de doar 99% da sua fortuna para fins filantrópicos, motivando o movimento entre ultra-ricos americanos para se comprometerem a doar pelo menos 50% da sua fortuna para organizações filantrópicas, deveria ser revalorizada.
A mim parece-me bem mais útil aceitar que a desigualdade é uma consequência inevitável da liberdade, implicando a criação de uma dívida dos mais favorecidos sobre os que ficaram na mó de baixo, que tentar resolver os problemas de desigualdade limitando a liberdade, como resultou sempre da ideia de que a liberdade, e não a justiça, é um bem social a perseguir.
O resultado prático dos paladinos da igualdade foi sempre a perda da liberdade, sem grandes ganhos na redução das desigualdades e da injustiça.
E não me incomodem com os grandes ganhos motivados pelas lutas sociais dos paladinos da igualdade, por exemplo, o que verdadeiramente diminuiu a desigualdade entre os estatuto das mulheres e dos homens não foi sobretudo a luta das operárias por salário igual, foi a invenção da máquina de lavar roupa e dos contraceptivos baratos e acessíveis.
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