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Liberdade de imprensa: para além dos rankings

por Miguel A. Baptista, em 27.11.24

Portugal tem um bom nível de liberdade de imprensa. De facto, não há por cá presos por delito de opinião e as poucas pessoas condenadas por opiniões veem, normalmente, as suas sentenças revertidas pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. 

Tendo formalmente boas condições para o exercício da liberdade de imprensa, não creio que um jovem jornalista, a iniciar-se, tenha, de facto, as condições subjectivas para o exercício dessa liberdade. 

Um factor, ainda que menor neste contexto, são as condições de baixos salários e precaridade. Eu penso que algum conforto económico é uma condição de liberdade e de não-condicionamento. Estando os media a viver momentos economicamente menos bons, não estarão em condições de proporcionar esse conforto que potencia a independência. 

Mas não considero que esse seja o principal factor que limitaria a liberdade do nosso jovem jornalista. Na minha opinião, o principal factor é o enorme "groupthinking" que enferma a classe jornalística. 

Imaginem o que seria de um jovem, com a natural necessidade de aceitação e validação social pelos seus pares, a colocar as questões incómodas e a ter uma perspectiva diferente da dominante. 

Imaginem esse jovem a querer saber quais eram as queixas acerca dos ciganos na zona de Elvas, a ter questões acerca das vacinas ou a não ter Kamala Harris como referência. Facilmente seria olhado de lado nas redações, almoçaria sozinho e seria visto como muito pouco sexy e trendy. Seria apelidado de chegano, chalupa e trumpiano. Como as pessoas tendem a ajustar os seus comportamentos, o nosso jovem cedo abandonaria a quixotesca conduta e afinaria pelo diapasão dominante. 

Sim, a liberdade não é feita só de condições objectivas, que, felizmente, até são boas por cá. Existe uma enorme dimensão subjectiva que poderá explicar muita coisa. 

press.jpg


17 comentários

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De Anonimo a 27.11.2024 às 23:08

Por essa ordem de ideias, poucos são livres em Portugal. 
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De César a 27.11.2024 às 23:38

Concordo, na essência,com o texto.
Parece-me uma boa reflexão.
Já discordo da mania dos anglicismos frequentemente usados, quando a língua portuguesa é tão rica.
Groupthinking??? Não existe "pensamento de grupo" para definir o mesmo?
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De M.Sousa a 28.11.2024 às 12:45

Neste caso, a tradução não será bem pensamento de grupo, mas sim comportamento de manada ou de rebanho... talvez mais adequado seja este último termo ...
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De Anonimus a 28.11.2024 às 13:25

Por acaso ambos os dois, como diria jota jota, estão incorrectos, na minha opinião. Pensamento de grupo (ou pensar fora da caxa, ou atirar para debaixo do autocarro) é um aportuguesamento palavra por palavra, de uma expressão anglófona. Pensamento unânime, julgo que terá o mesmo significado.
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De Anonimus a 28.11.2024 às 15:21

Ou nem sequer pensamento, mas raciocínio
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De Anónimo a 28.11.2024 às 09:33


as poucas pessoas condenadas por opiniões veem, normalmente, as suas sentenças revertidas pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos



Se Portugal tivesse verdadeiramente boa liberdade de imprensa, nem seria preciso recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.



O facto de ter que se recorrer a essa instância supranacional mostra que, no próprio país, a liberdade de imprensa é limitada.
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De Nelson Gonçalves a 28.11.2024 às 09:38


Interessante que tenha mencionado as vacinas. Eu acho perfeitamente normal que se coloquem questões, e não existem vacas sagradas.


A dificuldade (nas vacinas e regra geral tudo o que requer um pouco de conhecimento especializado) está em 1) compreender o assunto, 2) ser capaz de escrever de forma a que o público em geral compreenda o problema em questão.



Contam-se pelos dedos de uma mão os jornalistas que conheço capazes de fazer ambas. ... mas por outro lado, também não conheço assim tantos jornalistas. Posso estar errado
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De Antonio Maria Lamas a 28.11.2024 às 09:45

Muito bom texto. 
Fico espantado com o lugar que a Espanha ocupa. 
Sigo regularmente a imprensa e a TV espanholas, e não tinha essa percepção. 
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De O apartidário a 29.11.2024 às 09:30

Eis uma reportagem importante que não passará nos média espanhois (Rtve etc etc.).
A verdade oculta por trás da Dana de Valência(video do canal Sintoma em 24 Novembro:

En este nuevo documental, te llevaré al corazón de Valencia, una ciudad devastada por la Dana de 2024. Calles convertidas en ríos, barrios sumergidos y familias enfrentándose no solo a la naturaleza, sino también a la tardanza en la ayuda y los fallos de las instituciones. Mientras los vecinos muestran solidaridad y esfuerzo, surgen conflictos delictivos, saqueos y un ambiente de incertidumbre alimentado por la sospecha de que las cifras oficiales de víctimas no están contando toda la verdad.

En este viaje, exploraremos tanto la tragedia como la fuerza de una comunidad que, a pesar del abandono y el caos, lucha por salir adelante. Desde historias de supervivencia hasta las sombras de lo que las noticias no muestran, descubrirás una realidad cruda que merece ser conocida.

https://youtu.be/EXC1Ud4biks?si=iCEXhD4n_nIAbMao
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De JPT a 28.11.2024 às 10:48

É só ver a preocupação da Clara de Sousa a demarcar-se de tudo o que diz (dizia) o José Miguel Júdice. Senão, coitada, ainda ficava a almoçar sozinha na SIC.
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De lucklucky a 28.11.2024 às 19:41

Muito bem.
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De Francisco Almeida a 28.11.2024 às 12:08

O autor subestima a questão. Se o jovem jornalista sair da escola superior com fama de direitista, nem sequer passa na admissão às redacções. Era prática habitual no regime anterior, mesmo em empresas particulares, pedirem-se referências que ficavam no processo. As pessoas ficavam sempre receosas que se fizesse algo de muito errado, o empregador fosse incomodar as referências.
Não que o processo fosse minucioso e exigente. Tive um colega comunista que vinha da Segurança Social e trazia referência de dois chefes de serviço.
Durante algum tempo - muito pouco - pensei que esse tipo de controlos desapareceria depois do 25 de Abril.
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De M.Sousa a 28.11.2024 às 12:42

Não só não desapareceu como se intensificou... 
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De Silva a 28.11.2024 às 13:05

O papel da comunicação social (imprensa incluída) actualmente é o de manipulação, contra-informação, desinformação e controle social.
Em Portugal, o problema é ainda maior, pois, salvo erro, só o Público escreve em português correcto, ou seja, outro dos objectivos é o de emburrecer e imbecilizar os leitores.
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De O apartidário a 28.11.2024 às 15:27

Quem disser que este é um dos países mais seguros do mundo é um demagogo(e um desinformador e manipulador),do canal Alexandre Sousa (video de hoje 28-11)

https://youtu.be/sF_ulG1lWxM?si=QvZH3k6t0CoEix4o
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De anónimo a 28.11.2024 às 17:46


Source: Reporters Without Borders. 
"Good grief" diria o Snoopy.
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De lucklucky a 28.11.2024 às 19:54

Reporters Without Borders  defenestraria um jornalista que saísse da linha Kamala.

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