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Lembrete

por henrique pereira dos santos, em 04.07.22

Em Outubro de 2015, imediatamente depois das eleições perdidas por António Costa, o Partido Socialista tinha a seguinte posição "António Costa frisou que os socialistas terão “sentido de responsabilidade, espírito de diálogo e de compromisso”, lembrando que o PS partirá para estas conversações com todos os partidos" (verificar aqui).

Com base nisto, António Costa aceitou participar numas reuniões de negociação com Passos Coelho, com vista a encontrar uma solução de governo, apesar de ir dizendo que estava também a negociar com o BE e o PC, até porque as propostas da direita eram insuficientes "A segunda reunião entre a coligação PSD/CDS e o PS terminou num clima de impasse. O secretário-geral socialista António Costa reiterou estar a trabalhar, com o PCP e com o BE, num governo alternativo e considerou a proposta da direita “insuficiente”".

A 18 de Outubro, quase duas semanas depois das eleições, ainda Passos Coelho mandava cartas a António Costa sobre o facto de António Costa andar a fingir que estava empenhado em negociar com todos os partidos.

Pois bem, na última campanha eleitoral, num debate com Rui Rio, António Costa assegurava, mostrando uma primeira página do Expresso, da qual ele era a fonte que a jornalista omitiu - tornando-a objectivamente numa cúmplice de uma manobra manipulação da opinião pública -, que desde sempre, isto é, mesmo antes das eleições de 2015, toda a gente sabia que António Costa ia fazer a gerigonça se, perdendo as eleições, como se verificou, houvesse uma maioria de deputados hostil a Passos Coelho.

António Costa era o número dois de Sócrates quando o Partido Socialista inventou a famosa iniciativa de manipulação da opinião pública que consistiu em pôr o Banco de Portugal - dirigido por Vítor Constâncio - a calcular um défice fictício para o ano em causa, de modo a que o governo de Sócrates pudesse dizer que estava a baixar o défice, ao mesmo tempo que o aumentava.

Vem de longe a tradição manipuladora do Partido Socialista e uma das grandes vantagens de António Costa dentro do partido é a sua maestria nessa capacidade manipuladora.

É por isso que não deixo de me espantar por tanta gente levar a sério a putativa "falha de comunicação" de Pedro Nuno Santos, acreditando piamente que sabendo-se em Portugal que um Ministro decide fazer aeroportos a esmo, seja possível que António Costa não o tenha sabido imediatamente (coitadinhos, não há em Madrid uma alma caridosa que consiga entregar um papelinho urgente a um primeiro-ministro que está numa cimeira).

Quem é o beneficiário de toda a confusão?

António Costa, evidentemente.

Quer internamente, quer entalando Montenegro que fica sem grande margem de manobra para ser sensato na questão do aeroporto e, ao mesmo tempo, afirmar a sua oposição às políticas do governo (a solução apresentada é uma solução bastante sólida sob vários pontos de vista e é difícil tirar da cartola outra solução tão sólida e tão exequível, num prazo curto), António Costa reforça na opinião pública o seu estatuto fundamental: aquele que reúne o menor número possível de pessoas zangadas com a sua governação.

Consegue decidir sobre o aeroporto, pondo o ónus de eventuais atrasos no PSD e no amor incontrolável de António Costa pelo consenso, que tenta sempre até ao fim, como se viu nesta palhaçada.

Para isso é preciso um bocadinho de teatro?

O que é isso comparado com os quinze dias de teatro que se seguiram às eleições de 2015?

Ou com o teatro do pôr o Banco de Portugal a calcular um défice fictício que se adopta como referencial?


12 comentários

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De Ricardo a 04.07.2022 às 18:05

Achei curioso(para não utilizar outro adjectivo)estar o sr Montenegro a discursar(por exemplo dizer que o psd não tem cismas ideológicos) e ao mesmo tempo em roda-pé(na rtp3) a noticia que o inquilino de Belém-Cascais estava reunido com o polvo...perdão,com o Lula da Silva.E pronto,é isto.
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De Carlos Sousa a 04.07.2022 às 18:56

Não percebo porque é que há tantos anticorpos em relação ao Sócrates, o Lula não era igual? Parece que o Marcelo até prefere falar primeiro com o corrupto do que com o presidente eleito. 
Será que o Marcelo quando chegar também vai falar primeiro com o Montenegro?
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De Jorge a 04.07.2022 às 19:27

Bem visto  . A política é a arte da mentira ou da ilusão e qdo o povo é ingénuo .....
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De Anónimo a 05.07.2022 às 07:38

Como disse? O HPS afirma que " António Costa reforça na opinião pública o seu estatuto fundamental: aquele que reúne o menor número possível de pessoas zangadas com a sua governação."'???
Olhe que não, olhe que não! Nestas questões não convém generalizar:
Cá vai um "Lembrete" também (desculpe, por ser tão "curto", mas seria 
 fastidioso enumerar o tanto que falta e seria abusar deste espaço):



"Este Governo, aparafusado em 2015, relegitimado em 2019 e consagrado em 2022, é materialmente o mesmo Governo que: nomeou um procurador com falsidades no currículo, em detrimento da procuradora escolhida pelas instituições europeias; adjudicou golas anti-fumo inflamáveis num negócio que envolveu dirigentes do próprio partido do Governo; afastou a Procuradora Geral da República e o Presidente do Tribunal de Contas com base em critérios substantiva e formalmente discutíveis, embora politicamente claros; viu funcionários do SEF torturar e assassinar um cidadão estrangeiro no aeroporto, e acabou a nomear para a direcção-geral do SEF um membro do gabinete do próprio ministro da tutela; deixou roubar armas à instituição militar, dizendo o ministro, primeiro, que nem tinha havido roubo, e acabando a dizer que afinal o roubo até foi bom porque apareceram mais armas do que as que tinham sido roubadas; teve uma ministra que, quando era autarca, adjudicou (https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2019-10-29-ministra-da-agricultura-fez-outro-ajuste-direto-polemico/) 515 mil euros ao filho de um deputado do próprio partido, e essa mesma ministra adjudicou também 30 oliveiras por 60 mil euros, ainda quando era autarca, a sociedade gerida por familiares de um secretário de Estado; indicou para o Banco de Portugal o seu ministro das Finanças, que acabaria, naquelas funções, a fiscalizar os seus próprios actos enquanto ministro; tem sido composto por redes infindáveis de laços familiares, com nomeações feitas a maridos, filhos, primos e cunhados" (cont.)
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De henrique pereira dos santos a 05.07.2022 às 12:32

E, depois disso tudo, teve uma maioria absoluta.
Q.E.D.
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De Anónimo a 05.07.2022 às 17:54

Até ver! Não há mal que sempre dure. Há muito trabalho pela frente. Quando começar a doer....
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De Anónimo a 05.07.2022 às 07:42

(Cont.)

" ... a propósito da pandemia, limitou direitos, liberdades e garantias sem fundamento legal e constitucional; ainda quanto à pandemia, exigiu aos portugueses que se enfiassem em casa e cometessem suicídio económico e social para «dar tempo ao SNS de se reforçar», e afinal o SNS não está mais forte.  

A lista é, de facto, grande: sete anos de condições financeiras e económicas internacionais vantajosas que nem assim foram utilizadas para tirar o país da lista dos mais pobres da Europa; uma incapacidade gritante de fazer face à inflação; a demonstração inequívoca de que, ao fim de quase uma década, os serviços públicos não funcionam melhor, a burocracia não foi reduzida, a corrupção não diminuiu, não somos capazes de atrair investimento, o sistema fiscal não foi simplificado, os salários não aumentaram, a pobreza, excluindo transferências sociais, não diminuiu de forma significativa."

https://observador.pt/opiniao/a-ultima-janela-de-esperanca/

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De Anónimo a 05.07.2022 às 07:47

«uma série de episódios que ensombram decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o país vive, (…) sucessivos incidentes e declarações, contradições e descoordenações, que contribuíram para o desprestígio do Governo, dos seus membros e das instituições em geral». A citação é do discurso do presidente da República Jorge Sampaio, aquando da dissolução do Parlamento, em 2004.

 (É preciso mais?)
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De Martim Moniz a 05.07.2022 às 10:14

Acho que ainda vai haver mais(e quando tudo estiver escavacado faz-se uma reunião na Suiça para criar um fundo de "reconstrução",parece que a troika meteu reforma ou ficou fora de moda ou lá o que é) entretanto continuemos a apreciar o circo https://grandefantochada.blogspot.com/2022/07/marcelada-no-brasil.html
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De Anonimo a 05.07.2022 às 09:00


Passos Coelho é o culpado desta situação.
O Costa, bem alavancado pela prole intelectual do país, é o paradigma do português, elevado à maior potência do esteriótipo.
Não só não faz um traque, como se justifica com outrém.

Primeiro, a culpa do atraso do país era do Salazar, depois foi o Cavaco que desmantelou tudo, agora é o Passos. Como se os excelsos socialistas não tivessem mais que tempo para recuperar, ou pelo menos iniciar a recuperação.
O SNS está de rastos, o aeroporto não existe, a ferrovia não passa de rabiscos num papel (já deve cobrir o país todo), a educação é uma paródia, e a economia assenta nos camones ricos virem passear e largar umas notas.
Que fazer, o Passos lixou isto tudo.
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De balio a 05.07.2022 às 09:26

Tendo a concordar com o Henrique, esta cena da demissão-que-não-o-foi de Pedro Nuno Santos foi demasiadamente perfeita (e com um final feliz) para não ter sido encenada. Fez-me lembrar a destruição das Torres Gémeas em 2001, que também foi tão perfeita que me parecia, ao assistir a ela, estar a ver um bom filme de Hollywood. Não sei qual foi a motivação para todo este episódio mas, que ele parece ter sido encenado, lá isso parece.
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De Anonimo a 05.07.2022 às 12:04


Resta dizer que esta fantochada só serve para entreter, ou melhor, dar de comer, aos Oliveiras e Judices. O país fica na mesma.
Depois dizem que os portugas em geral e pessoas em particular não ligam à política, pudera, que interesse tem para o comum mortal estas jogadas palacianas? Põe pão na mesa?
No caso concreto, o que "interessa" à nação seria o aeroporto, e esse continua enfiado em estudos e consensos.
Daqui a 4 anos, quando houver debates na campanha eleitoral, a narrativa será de que faltou um PSD forte e decidido para o aeroporto avançar. O Governo tinha tudo, mas a oposição não se decide... Nisso o PS é impecável, pusesse ao serviço do país toda a qualidade propangadística que possui, este rectângulo punha a Noruega num chinelo.

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