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A escolha do nome, Leão XIV, assegura a continuidade com outros grandes Papas, começando em Leão I, o Grande, que defendeu Roma dos Bárbaros, e culminando em Leão XIII, o Papa das Encíclicas, cuja Rerum Novarum (1891), sobre a questão dos operários, tanta influência teve no seu tempo e continuou a repercutir-se entre várias gerações.
Ninguém nos media referiu, mas um dos católicos mais influenciados pelos ensinamentos de Leão XIII foi Salazar, educado e formado em pleno despontar teológico na viragem do século. Integrou pois uma geração de activistas católicos que respondiam ao chamamento que entrecruzava as várias crises políticas, assim em França emergiram nomes como Jacques Maritain, ou Étienne Gilson, e em Portugal (entre outros) Abundio da Silva, António Lino Neto, Gonçalves Cerejeira.
Numa era marcada pelo anticlericalismo os ensinamentos do Papa ofereceram uma resposta às ideologias do tempo, fosse o socialismo, fosse o liberalismo capitalista. Neste paradigma, as encíclicas de Leão XIII serão fundamentais na construção do que ficaria conhecido como Democracia Cristã. Logo em 1901, em resposta a este apelo do Santo Padre, para que os católicos participassem na vida política e influenciassem as decisões públicas, nasce em Coimbra o Centro Académico de Democracia Cristã, onde Salazar se formou politicamente e moldou o seu pensamento. Mas também outros militantes católicos aceitaram o chamamento, importante após 1910, com o jacobinismo do partido de Afonso Costa a assumir as formas mais ditatoriais e sinistras, um anticatolicismo que separaria profundamente o povo do regime republicano e contribuiria para a sua queda (entre outros factores de crise interna).
Fosse em França, fosse em Portugal, as relações entre a Igreja de Roma e os regimes republicanos e liberais eram difíceis (mesmo na nossa monarquia dita liberal as relações com a Igreja foram complicadas). Discutivelmente o Santo Padre procurou uma nova abordagem para apaziguar os ânimos com a República Francesa, política que ficaria conhecida como "Ralliement", marcada pelo brinde (conhecido como o "brinde de Algier") do Cardeal Lavigerie, num jantar com a marinha francesa, chamando os católicos a aderir “sem segundas intenções” à República (embora não invocasse directamente o nome).
Decisão papal que já vinha sendo anunciada (ou pelo menos preparada) em três importantes encíclicas, a Diuturnum (1881), a Immortale Dei (1885) e a Libertas (1888), em cada uma delas, o Papa recordou os ensinamentos da Igreja em relação ao espaço público e à liberdade política e humana. Culminando mais tarde, em 1892, na derradeira encíclica Au milieu des sollicitudes, onde pede aos católicos que aceitem a República em França, por razões de ordem prudencial certamente, evitando o divisionismo e a guerra civil entre católicos. Não querendo dizer o Santo Padre que seja a República o melhor regime, mas pretendia impedir que os católicos continuassem a estar divididos por questões políticas. Boas intenções que não lograram vingar como pretendia.
Este modelo teve impacto no movimento monárquico em França e fracturou a militância (não sei até que ponto não terá prejudicado uma restauração em Portugal, pois nos meios católicos colocou de parte a questão do regime, Salazar é disso exemplo).
Mas Leão XIII deixou marcas de grande clarividência de pensamento, assumindo-se também como historiador apaixonado pela Idade Média. O estudo levou-o a reflectir numa "terceira via" entre o liberalismo e o socialismo. Inspiração que encontrou nas antigas corporações medievais. O importante não era a luta de classes, como queria o marxismo, nem a exploração capitalista, mas a harmonia social. O corporativismo não era necessariamente novidade, de Bonald a René de La Tour du Pin já tinha sido pensado. A contra-revolução já propugnara as linhas cimeiras para uma alternativa ao liberalismo, no que Marx ironicamente designará como “socialismo feudal”, caricaturado como “metade eco do passado e metade ameaça do futuro”. Também na viragem para o novo século o corporativismo será retomado por Maurras e pelo Integralismo Lusitano. Mas com o Papa ganha um novo fôlego e terá grande influência no Estado Novo português.
Na Rerum Novarum deixou o entendimento:
"(...)as corporações antigas, que eram para eles uma protecção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada."
Foi um Papa inovador e reformista. Se as políticas que propôs tiveram bons resultados? Nem sempre. Os laivos "liberais" e de "reconciliação" não foram sempre produtivos. Resposta que o seu sucessor, Pio X, terá depois de resolver. De resto, Leão XIII deixou um legado e um pensamento para a posteridade, devemos muito aos seus ensinamentos.
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A Europa inteira tem este problema comum, que não ...
A lei foi escrita, essencialmente, por Almeida San...
Exactamente. Este país tem aturado tanta aberração...
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Caro Henrique,Normalmente estou de acordo consigo....