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Há anos, percorrendo de automóvel a estrada entre Florença e Siena, testemunhei com surpresa e, logo, bom humor o funcionamento de uma série interminável de radares de controlo de velocidade, cuja disposição se destinava a promover segurança, e não a caçar multas. Os radares estariam dispostos a uns 5 km entre si, cada um deles bem identificado, com novo aviso a distância imediata. Quem quisesse ultrapassar o limite de 120 km/h depressa constatava que essa condução aos arrancos era tão desconfortável como inútil, e passava a respeitar o limite, por ser a melhor opção. A isto poderá chamar-se prevenção, e esta preocupação de prevenir é um sinal de civilização.
Há, ao contrário, aqueles países onde o Estado não é pessoa de bem; não pretende prevenir, pretende sobretudo lucrar com os faltosos e os distraídos; deseja até que faltosos e distraídos reincidam para assim «arrecadar» mais.
Ontem, a Tvi emitiu uma reportagem -- uma reportagem jornalística -- sobre essa atitude dissimulada, ávida de saque do Estado português, que coloca sinais arbitrários de limite de velocidade em localizações absurdas para sorver mais euros aos incautos através de multas denunciadas por radares escondidos ou dissimulados. Os jornalistas da Tvi investigaram e informaram, ainda, que PSP e GNR são pressionadas para atingir objetivos de x milhões com multas, sob ameaça no caso de incumprirem. Foi o retrato de um Estado venal e inimigo, feito por jornalistas em missão de serviço público.
À mesma hora, na Sic, uma outra reportagem indignava-se com o atraso na entrega de radares, e proclamava que o atraso na sua instalação impedira o Estado de «arrecadar» -- era a palavra -- milhões de euros. Era o mesmo retrato (agora involuntário) de um Estado venal, inimigo e disfuncional nas boas como nas más coisas. Só que a redacção da Sic não pretendia que deixasse de o ser; apenas lamentava que uma questão de prazos tivesse impedido que o fosse mais.
Na estrada para Siena vi prevenção e civilização. Nas nossas vejo avidez e atraso. Na reportagem da Tvi vi jornalismo e serviço públivo. Na da Sic a expressão sombria das almas de lacaio.
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