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Hoje o Público tem duas páginas de opinião da jornalista Rita Ferreira (editora de sociedade no Público), que desenvolve a ideia do título "Quando o hospital fez tudo o que devia, a ministra caiu".
Sobre a substância desse artigo de opinião não vou dizer mais do que referir que fiquei com a sensação de ter sido escrito pela assessora de imprensa de Marta Temido.
O que me interessou foi isto: "Com a grávida estabilizada, procedeu à transferência para um hospital com vaga na neonatologia. As vagas não são infinitas. Nem no Santa Maria, nem em qualquer hospital privado - onde, já agora, refira-se, esta grávida nunca poderia ter tido o seu bebé, visto que não fazem partos com gestações abaixo das 32 semanas porque os bebés acabariam transferidos para os hospitais públicos -, nem em nenhum país do mundo".
Rita Ferreira tem toda a razão: em cuidados muito diferenciados, como são os da neonatologia de grandes prematuros, as vagas em cada sítio são limitadas, é evidentemente preciso geri-las em rede.
Naturalmente, quantos mais pontos de acesso à rede houver, mais eficiente pode ser essa gestão.
Até aqui, absolutamente de acordo e não tenho nada a dizer sobre o facto de Santa Maria apenas ter duas vagas, que estavam ocupadas por gémeos.
O meu problema está na forma como Rita Ferreira mete os privados ao barulho, a martelo, em especial por causa desta frase: "visto de que não fazem partos com gestações abaixo das 32 semanas porque os bebés acabariam transferidos para os hospitais públicos".
Como sei pouco sobre o assunto, fui ver o que era isto.
E o que vi deixou-me estupefacto, não só pelo que vi, como pela distância que vai do que vi ao que a jornalista descreve.
Não há muitas outras maneiras de dizer isto: a jornalista mente quando diz que os privados não fazem partos com gestações inferiores a 32 semanas porque os bebés acabariam transferidos para hospitais públicos.
Em Agosto de 2010, o governo proibiu os privados de fazer partos com gestações inferiores a 32 semanas, estes é que são os factos.
Sabendo que as vagas são sempre finitas, e que uma rede forte é uma rede com muitos pontos de ligação, o Estado resolveu amputar a rede proibindo que os privados dessem algum contributo para a rede.
É verdade que o Governo argumentou que isso era para evitar que bebés com três dias fossem transferidos para hospitais estatais, porque isso era desumano, mas eu não encontrei quaisquer números sobre o assunto, nem a proibição de partos com gestações inferiores a 32 semanas era a única forma de evitar essas transferências, no caso de existirem (como existem transferências de grávidas a precisar de vaga na neonatologia).
Logo na altura os privados protestaram, mas doze anos passados, a situação é a mesma: os privados não fazem partos com gestação inferior a 32 semanas por imposição do Estado, não porque não tivessem capacidade para o fazer e, desta forma, contribuir para a rede geral de apoio a estas situações.
Só que, para a jornalista, que resolveu meter os privados ao barulho nesta história sem qualquer justificação, parece estar fora de causa deixar que os factos influenciem as suas ideias.
Se for preciso sugerir que os privados são incapazes de lidar com situações médicas complicadas (coitados dos países em que a generalidade da prestação de cuidados de saúde é feita por privados, guardando-se o Estado para assegurar o acesso universal, sem pretender ser o prestador universal) e, mais que isso, sugerir que a opção de amputar a rede de cuidados diferenciados do contributo dos privados não é uma opção estritamente ideológica, mas uma opção razoável de defesa do Serviço Nacional de Saúde, pois venha de lá a sugestão, e apague-se do espaço público tudo o que possa contrariar essa ideia, mesmo que para isso seja preciso torcer um bom bocado os factos verificáveis.
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