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Jornalismo com contexto

por henrique pereira dos santos, em 29.08.24

"Maria Luís Albuquerque não é de boa memória".

David Pontes, o director do Público, tem esta opinião e não tem dúvidas, eu, e por acaso a boa parte dos eleitores que deram a vitória a Passos Coelho em 2015 (a legitimidade da coligação de derrotados para formar governo é inquestionável, mas isso não altera o facto de Passos ter ganho as eleições e Costa as ter perdido), temos a opinião contrária.

Até aqui, são meras opiniões, eu não sei em que se baseia o director do Público para não ter dúvidas na afirmação que faz, eu baseio a minha opinião no resultado das eleições que julgaram o governo de que fazia parte Maria Luís Albuquerque.

Mais grave, muito mais grave, é a manchete do mesmo Público ("A "senhora swap" e a cara da troika a caminho de Bruxelas", uma manchete imensamente menos rigorosa que "O "senhor bancarrota" e a cara da troika vive na Ericeira"), a peça em que se baseia e a generalidade do li e ouvi na imprensa.

O rigor teórico do senhor director do Público é notável: "Alguém que fez parte do seu percurso profissional em gestoras de créditos, como a Arrow Global, ou num gigante de serviços financeiros como o Morgan Stanley personifica aquilo que muitos vêem como um governante "liberal" sem problemas em passar pelas portas giratórias".

Lê-se e não se acredita, é como eu agora escrever que alguém que é director de um jornal que vive da caridade de uma família que vive da grande distribuição e outros negócios cotados em bolsa é o que muitos vêem como um jornalista "liberal" sem problemas com conflitos de interesses, parágrafo que, evidentemente, não faz sentido nenhum.

"Hoje a União é bem mais solidária e bem mais respeitadora dos desníveis entre países do que no período da troika", escreve David Pontes, sugerindo que o período da troika só existiu porque a União era pouco solidária e isso resulta das opções de Maria Luís Albuquerque, não tem nenhuma relação com o facto da imprensa ter levado o "senhor bancarrota" ao colo, ao ponto de atrasar semanas a divulgação de informações confirmadas sobre as trafulhices do seu percurso académico para não o incomodar, tal como evitava incomodá-lo perante o evidente desvario da sua governação que o levou a chamar a troika.

Há dias o Provedor do Público fez duas peças a bramar contra uma notícia sobre um excelente livro, porque a notícia era bastante boa e factual, mas tinha passado entre os pingos da chuva do férreo controlo ideológico do jornal.

O argumento usado pelo provedor foi o de que não se poderia falar do desempenho económico dos principais grupos económicos do fim do Estado Novo, em especial do grupo CUF, sem referir o contexto social negativo do Estado Novo.

O argumento, no caso, era muito pouco razoável, mas espero agora ver o Provedor do Público zurzir as senhoras Liliana Borges e Rafaela Burd Relvas (com David Santiago) por terem feito uma peça, em destaque, sobre Maria Luís Albuquerque, sem uma linha de contexto sobre o que motivou a entrada da troika e a forma como foi gerida a crise da dívida nacional, que deu origem a uma recuperação notável da economia e das finanças, depois do desastre governativo de José Sócrates (eleito secretário geral do PS, já depois da chamada da troica, como mais noventa por cento dos votos).

O Observador, e muitos outros, demonstra, nesta matéria, fazer parte da carneirada cujas redacções não se distinguem das do Público, balindo alegremente atrás das tretas que a esquerda insiste em repetir sobre as razões para a entrada da troica, o contexto do governo que teve de lidar com a troica e a surpresa de como, depois de todas as professias da esquerda (e do jornalismo, desculpem-me o pleonasmo) a garantir que o governo ia falhar, o país conseguiu mandar a troica de volta por causa dos bons resultados obtidos.

Ide pastar e irem à falência é mais que justo, a forma como reagiram à indicação de Maria Luís Albuquerque demonstra que a esquerda e o jornalismo (isto hoje está cheio de pleonasmos) são como os outros: não esqueceram nada, e não aprenderam nada.


13 comentários

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De Carneiro a 29.08.2024 às 17:12


"o jornalismo é hoje parte da solução, ou é hoje um problema na Democracia?"
Germano Silva: "é um problema".


Claro e lúcido.



Pelo minuto 26.35
https://www.rtp.pt/play/p12800/e754644/primeira-pessoa
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De Anónimo a 29.08.2024 às 17:38

E é só a esquerda?
Cadê os outros, os monstros do jornalismo, sabedoria e do, já agora, pastoreio, onde há quem vá balindo, também tem que haver quem va pastoreando.
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De Albino Manuel a 29.08.2024 às 19:16

O Público vive da caridade da família Azevedo? Tanto quanto a Fundação Francisco Manuel dos Santos vive da caridade dos descendentes daquele benemérito. Em ambos os casos são instrumentos de poder. Da fundação dizia um da família que não lhe dava dinheiro. Directamente não. Indirectamente, propalando ideias favoráveis ao ambiente de negócios da família, sim. O mesmo vale para o jornal. Com mais comentador aqui e ali, com mais ou menos Rafaela, na hora da verdade o Público está do lado em que está o patrão. Pelo que tenho lido dos títulos, bem que tem apertado o leader do PS.


Com que então o Observador de Carrapatoso também é de esquerda. E a Folha Nacional? Vamos a ver e o grupo 1143 é uma associação de rapazes moderados, ligeiramente centro-esquerda. 
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De lucklucky a 02.09.2024 às 11:25

Mas há alguma duvida que o Observador é de esquerda? 
Tirando alguns comentadores quase todas as notícias são de esquerda.
É só olhar aos títulos.



Veja-se como Observador noticiou o assassinio de reféns pelo Hamas.
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De maria a 29.08.2024 às 19:43

Apesar de ter 3 filhos é uma mulher de inteligência superior. Há por aí muita dor de cotovelo e facciosismo.
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De Anónimo a 30.08.2024 às 17:48


Apesar de ter 3 filhos é uma mulher de inteligência superior.


!!!
Parir três filhos retira inteligência a uma mulher? Quando é que a inteligência se esvai - um bocadinho ao parir cada filho, ou toda de uma vez ao parir o terceiro?

Só mulheres estúpidas é que decidem ter (três) filhos?
Francamente, não entendo esta frase!
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De lucklucky a 02.09.2024 às 11:33

Entende se perceber que para a "modernidade progressista para a igualdade" ter 3 filhos é algo que só acontece para brancos ainda com laivos de cultura do patriarcado.
Note que se forem de outra cultura - o que para os progressistas que se intitulam anti racistas quer dizer outra cor da pele  -já pode.
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De JM a 30.08.2024 às 07:41

Não se percebe como alguém que não seja iliterado pode discordar do que diz, como factos podem ser tão omitidos e ou convenientemente esquecidos num apego de cegueira ideológica.
A Política em Portugal está futubilizada e uma grande, enorme, parte dos "jornalistas", por uma razão ou outra, sentem-se mais seguros optando por aderira uma claque, o que não os faz ficar nada bem na fotografia.
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De Andre A. a 30.08.2024 às 09:19

Está a comparar o tratamento a uma pessoa (José Sócrates) que viu a sua vida devassada e destruída por um processo interminável e que é, hoje, e para o país em geral, a epítome do bandido (e que nem numa banca de fruta arranjaria emprego), com o de Maria Luís Albuquerque, PROMOVIDA a comissária depois de uma série de casos muito duvidosos (para não dizer escandalosos, mesmo que, sim, inferiores em gravidade dos atribuídos a José Sócrates -e a serem todos verdade, coisa que hoje em dia temos infelizmente de duvidar da extensão do delito)? Ainda acompanho a ideia do exagero da colagem do rótulo da Troika e derivados, mas… tente imaginar as cachas caso José Sócrates fosse designado para um qualquer cargo público.
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De Francisco Almeida a 30.08.2024 às 10:12

A indigência, se não for má fé, torna-se ainda nais ecidente comparandio as reacções da imprensa internacional (retirado de Joana Petiz, no Sapo)
:

"Maria Luís Albuquerque é uma de apenas seis mulheres apresentadas como comissárias", tem formação e currículo na área de finanças e acumula "décadas de experiência" em políticas públicas económicas", escreve o Politico (https://www.politico.eu/article/portugal-nominates-ex-finance-minister-albuquerque-for-european-commission/) antes de concluir que isso põe a portuguesa como uma "boa candidata a assegurar uma pasta relevante na Comissão nessa área" ou, em alternativa, uma vice-presidência. Recorrendo às opiniões de dois diplomatas contactados, o site especializado aponta que Von der Leyen deverá compensar as poucas mulheres na comissão com cargos de maior relevo. E ao contrário do que se repete por cá, o papel de Maria Luís Albuquerque nas Finanças durante a implementação do programa de resgate da troika soma pontos positivos ao seu currículo.

Sendo as pastas económico-financeiras as mais disputadas e com os perfis dos candidatos que já avançaram a revelar maioritariamente essa ambição, Portugal pode ganhar vantagem em relação aos demais graças ao currículo de Maria Luís Albuquerque e ao brilho que a antiga ministra das Finanças tem em Bruxelas, adianta também o L'Observatoire de l'Europe (https://www.observatoiredeleurope.com/les-portefeuilles-economiques-sont-essentiels-dans-les-negociations-pour-choisir-les-nouveaux-commissaires-europeens_a39764.html), destacando-lhe ainda pontos extra pelo facto de ser mulher. "A escolha de Portugal permite a Ursula von der Leyen voltar a respirar", resume ainda o Les Echos (https://www.lesechos.fr/monde/europe/ue-le-casse-tete-dursula-von-der-leyen-pour-former-son-college-de-commissaires-2115706). E o italiano Corriere della Sera (https://www.corriere.it/politica/24_agosto_26/commissione-ue-poche-donne-cosi-ursula-von-der-leyen-prova-a-correggere-il-tiro-b0d154b1-1490-4659-a052-0d68d65bdxlk.shtml?refresh_ce) arrisca mesmo que o facto de ser uma candidata será "um incentivo para abraçar uma pasta de maior importância, apesar de já haver um português escolhido para liderar o Conselho Europeu, António Costa".


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De Anónimo a 30.08.2024 às 17:55


Von der Leyen deverá compensar as poucas mulheres na comissão com cargos de maior relevo


Aquilo que von der Leyen deveria fazer (na minha modesta opinião) seria dizer àqueles países que somente apresentaram um candidato-homem (a comissário europeu) que apresentem também uma candidata-mulher.
De facto, todos os países estão instruídos para apresentarem dois candidatos a comissário, sendo um homem e o outro mulher, e parece-me inaceitável que a maioria dos países tenha o desplante de desobedecer a essa instrução.
Assim, a União Europeia vai de mal a pior.
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De Octávio dos Santos a 30.08.2024 às 18:35

David Pontes é, pois, o terceiro director do Público consecutivo que se comporta não como um jornalista mas sim como um activista político-ideológico. O que não me surpreende, também devido à minha própria experiência pessoal. Os dois anteriores directores, David Dinis e Manuel Carvalho, ratificaram a censura (não publicação) de dois artigos meus (um por cada um) decidida pelos seus então «capatazes», respectivamente Nuno Ribeiro e Tiago Luz Pedro. Eu, que era um colaborador do jornal há mais de 20 anos, com dezenas de textos, um dos quais nos proporcionou um prémio, decidi depois da segunda vez que não haveria uma terceira. Com muito poucas excepções, aquela é uma redacção de gente sem categoria.   
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De Anónimo a 31.08.2024 às 22:37

Parabéns pela coragem

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