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Há uns dias (a peça jornalística está morta, mas as peças jornalísticas, ao contrário das pessoas, ressuscitam facilmente), o Observador (mas podia ser outra secção de política de qualquer rádio, TV, disco e cassete pirata) deu destaque a uma coisa feita por duas pessoas com carteira de jornalista que se intitulava "Quezílias, exonerações e uma inusitada mudança de gabinete. Ministra da Cultura provoca embaraço no Governo".
Não faço a menor ideia se Dalila Rodrigues é quezilenta, se as exonerações são razoáveis e, muito menos, se é uma boa ministra da cultura (eu nem sei bem que critérios usar para essas classificações, a não ser a minha percepção das coisas, é por isso que os governos se escolhem a partir das percepções dos eleitores e não através de empresas de recrutamente de recursos humanos), nem estou muito interessado nessa discussão, quero mesmo discutir se a dita peça jornalística é jornalismo ou conversa de comadres.
O lead da notícia é o seguinte: "Dalila Rodrigues saiu do Campus XXI, sede do Governo, para regressar ao Palácio da Ajuda. Não gostava do espaço e precisava de "respirar". Recebeu ordens para voltar. Perfil conflituoso preocupa.".
Ou seja, o Observador, da quantidade de "diz que disse" de que é feita a notícia, escolheu destacar a saída de Dalila Rodrigues do Campus XXI, que descreve, no lead, como um facto.
A peça jornalística, no entanto, não confirma o lead.
"um episódio com contornos algo bizarros ia deixando António Leitão Amaro, ministro da Presidência, de cabelos em pé ... Dalila Rodrigues e demais equipa mudaram-se de armas e bagagens para o Campus XXI e por lá ficaram uns tempos — até que a própria ministra mudou de ideias. Numa decisão que terá sido unilateral, a governante reuniu a equipa e decidiu regressar a um Palácio da Ajuda já despido de mobília, de computadores e de serviços de apoio, e sem condições objetivas para receber o Ministério. Decisão que causou enorme estranheza junto de alguns elementos do Governo e do partido".
A mim, o que me causa estranheza é uma situação destas ter sido impossível de confirmar pelos jornalistas.
Não há secretárias, não há pessoas que contactam com o ministério da cultura, não há funcionários que trabalham no palácio da Ajuda, não há motoristas, não há membros do gabinete, não há assistentes operacionais, não há jornalistas e assessores de imprensa, não há vizinhos, não há empresas de mudanças, não há seguranças, quer do edifício da João XXI, quer do palácio da Ajuda, nada, nem uma pessoa que confirme que do dia tal ao dia tal, a cúpula do Ministério da Cultura se mudou, de armas e bagagens, do edifício da João XXI para o palácio da Ajuda?
Para este jornalismo isso é uma coisa irrelevante: "Numa troca de emails com o Ministério da Cultura, o Observador perguntou três coisas muito concretas: é verdade que a ministra saiu, em algum momento, do Campus XXI para se reinstalar no Palácio da Ajuda?; quem é que avisou dessa decisão?; e regressou do Palácio da Ajuda porquê? O Ministério da Cultura preferiu não responder a essas três questões e enviou uma nota onde diz, genericamente, que o Ministério da Cultura “está sediado e trabalha normalmente a partir do Campus XXI”".
Está feito, os jornalistas confiam em fontes anónimas que lhe sopraram a história, fazem umas perguntas, o ministério responde o que entende, mas o jornalistas fazem notar que não negaram a história, logo, por omissão, a história está confirmada, mesmo que tendo toda a cúpula de um ministério mudado de um sítio para outro (onde já não havia qualquer infraestrutura de apoio, desde computadores e rede informática a secretárias e cadeiras), os jornalistas não encontrem uma única fonte identificada que a confirme.
Em toda a peça só há fontes anónimas (não, não é numa matéria em que identificar a fonte represente qualquer risco para a fonte) e nada, rigorosamente nada que confirme os adjectivos e opiniões de que os jornalistas se vão aliviando, quer em relação ao caso que o lead destaca, quer em relação ao resto.
Se isto é jornalismo, eu sou a Brigitte Bardot (nos seus tempos áureos).
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