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Jornais com causas mais altas do que a prosaica notícia

por José Mendonça da Cruz, em 25.01.17

Dois pequenos episódios para o debate sobre se o Diário é realmente de Notícias e se a opinião Público-ada tem a ver com os factos:

Por razões misteriosas DN e Público decidiram combater o presidente eleito de um país democrático estrangeiro. Assim, todos os dias apresentam historinhas sobre Donald Trump com que pensam demonstrar o bom fundamento da sua irritação e nojo. Ontem e hoje foram mais duas.

A primeira história tem a ver com «dois oleodutos controversos» cuja construção Trump autorizou, os quais, segundo os dois jornais, Obama vetara, e que agora vão prejudicar populações e ambiente. Esta é a história.

Agora, a realidade que DN e Público ignoram ou que, caso não ignorem, omitem deliberadamente: os dois oleodutos foram, de facto, chumbados por Obama, mas foram-no contra a opinião do seu próprio departamento de Estado e do estudo científico mandado fazer por este, segundo o qual a construção das condutas teria impacto desprezível sobre solo, áreas pantanosas, recursos aquíferos, vegetação, peixes, vida selvagem, e efeito de gases de estufa. A construção dos oleodutos tinha ainda o apoio de sindicatos e da maioria dos americanos (em sondagem), embora não de Obama e da militância ambientalista. O primeiro ministro da Energia de Obama, Steven Chu, explicou mesmo que «a decisão sobre a construção foi política e não científica». Os dois oleodutos transportariam (transportarão) 1,4 milhões de barris diariamente, de forma muito mais segura do que por camião ou comboio, como actualmente.

Mas, claro, Obama é santo e os nossos media seus profetas, pelo que contrariar a ciência, os sindicatos, o próprio governo e a maioria da população só revela sabedoria e visão.

A segunda  história é sobre o muro entre EUA e México. A julgar pelos media portugueses não existe qualquer muro ao longo da fronteira entre México e EUA, é apenas a perfídia trumpiana que pretende erigi-lo. Esta é a história.

Agora a realidade: a fronteiro mexico-norte-americana tem 3094 km de comprimento. O muro completo separaria (separará) o México dos estados americanos da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas. A extensão da fronteira com a Califórnia é de 220 km; a vedação estende-se, hoje, ao longo de 185 km. A extensão da fronteira com o Arizona é de 597 km; estão construídos 490 km de vedação ou muro. A fronteira com o estado do Novo México tem 290 km; estão construídos 186 km; é no estado do Texas que há menos muro construído (e mais policiamento): a fronteira estende-se ao longo de 1980 km, estando construídos 184 km de muro.

Assim, e segundo os nossos media, as centenas de quilómetros de muro construídos ou não existem apesar de se verem, ou, caso existam, são de geração espontânea. É isto que dizem aos seus leitores.

Eis, pois, em duas pequenas historinhas, dois pequenos instantâneos sobre preguiça ou desinformação (escolha que deixo ao gosto de cada um).

Eis, ainda, uma terceira historinha: já sabemos que segundo os nossos media a oposição ao governo não deve fazer oposição, e se os partidos apoiantes do governo não o apoiam a culpa é da oposição. Na esteira deste credo, a Sic contou e mostrou-nos que, hoje, na AR, PS, PCP, Bloco e Verdes zurziram o PSD devido às «contradições» sobre a TSU. A Sic deixou-nos ouvir e ver governantes e deputados do PS, do PCP, do Bloco e dos Verdes. Do PAN e do PSD é que não. Donde, a crer na Sic, o PSD entrou mudo e saíu calado. A menos que não tenha sido assim, e, então, deve-se a «erro técnico» ou a critério editorial (de novo, escolha cada um).

 

 



7 comentários

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De vasco riobom a 26.01.2017 às 01:13

Concordo em absoluto. No entanto não são só os jornais, a terem esses critérios editoriais,mas também os canais de televisão,pelo menos a RTP 3 .
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De Bernardo Hourmat a 26.01.2017 às 10:36

Em relação ao primeiro episódio, talvez fosse importante distinguir as coisas. Num dos casos (o Keystone XL, que ligaria (ligará?) campos de petróleo no Canadá a refinarias no Nebraska, houve, de facto, desde 2011 um forte lobby ambientalista desencorajando a construção do mesmo. Posição que se viu reforçada com o facto de a jurisdição sobre o mesmo recair sobre o Departamento de Estado que, efectivamente, sob a iniciativa do Presidente deixou “cair” o mesmo. Desde logo porque, aparentemente, o retorno para a própria economia norte-americana não era assim tão espantoso.

Por outro lado, no que diz respeito ao Dakota Access Pipeline, a questão ambiental parece ser mais delicada, já que o mesmo vai “assentar” debaixo do lago Ohae que, aparentemente, é a principal fonte de água potável para a tribo Standing Rock Sioux, na região. Aparentemente, estariam receosos que algum problema com o pipeline poderia afectar directamente as comunidades que dependem do dito lago. Fizeram tanto barulho durante boa parte de 2016, que o Army Corps of Engineers (o qual, aparentemente, está encarregue de gerir o reservatório/barragem do dito lago), decidiu que era importante fazer um estudo completo de impacto ambiental, em Dezembro, estudo esse que parece ainda estar pendente...

Curiosamente, de acordo com a The Atlantic, o CEO da empresa responsavel pela construção deste último pipeline, contribuiu generosamente para a campanha do actual Presidente e, também interessante, este último teria alguns milhares de dólares em acções da dita empresa. Acções essas que foram entretanto vendidas (para evitar conflitos de interesse, claro), muito embora a Casa Branca ainda não tenha apresentado provas de que tal foi efectivamente feito (tendo em conta a obsessão que Trump teve com a certidão de nascimento de Obama, não deixa de ter piada...)

Isto tudo para dizer que, se boa parte da comunicação social (e boa parte dos comentadores e opinião publicada) se ter “acomodado” a uma postura relativamente menos agressiva em relação à Administração Obama, também era importante para a restante opinião publicada que parece querer pintar Obama como o “pior Presidente de todos os tempos” e fazer de Trump uma espécie de novo Reagan, parar para fazer uma análise mais rigorosa e ponderada deste novo Presidente...
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De José Mendonça da Cruz a 26.01.2017 às 13:32

Como (vejo que) sabe os Sioux foram abundantemente consultados e decidiram protestar apenas quando a construção do Dakota estava a arrancar. E tem razão, não simplifiquei e não distingui as obras para não estender o post para além do razoável. Verifico é que o que leu aqui e sabia antes não o foi buscar aos media nacionais, que não se deram ao trabalho de o informar.
De resto, não faço de Obama o diabo nem de Trump o novo Reagan. Mas acho interessantes os sinais que se vêem na bolsa, na economia e nas empresas americanas (de novo, elementos passados inteiramente em claro pelos nossos media).
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De José Mendonça da Cruz a 26.01.2017 às 13:38

emenda: «tem razão, simplifiquei e não distingui»
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De Anónimo a 26.01.2017 às 10:39

Portugal é um país tão "africano" como Angola
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De Anónimo a 26.01.2017 às 12:18

"....hoje, na AR, PS, PCP, Bloco e Verdes zurziram o PSD devido às «contradições» sobre a TSU ....".

Se a maioria oficial dos funcionários votadores na AR se contradiz, a contradição é dos outros ?. Grau zero em democracia.
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De PSC a 26.01.2017 às 12:21

É o jornalixo! no seu melhor!
Simplesmente Vergonhoso!
Mas o pior de tudo é que não existe espírito crítico para se distinguir o trigo do joio.
" uma apagada e vil tristeza"! ( Os Lusíadas - Camões - Séc.XVI)

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