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Fiz um comentário simples numa coisa em que uma pessoa qualquer eolgiava a coragem de alguém que no parlamento israelita criticava duramente a intervenção israelita em Gaza, fazendo o habitual número de citar a contabilidade de mortos.
O meu comentário era só a lembrar que para criticar o governo israelita, ou a política do Estado israelita, não é preciso grande coragem porque é um estado de direito com liberdade de expressão, coragem era preciso para criticar as políticas de utilização de escudos humanos do Hamas, Hezbollah ou Irão, em Gaza, no Líbano ou no Irão.
Sem surpresa apareceram logo uns corações muito grandes, cheios de fúria e amor, manifestando a sua ofensa pela morte de inocentes, sobretudo crianças inocentes.
Até aqui acho normal, mesmo que não seja evidente para mim que estas pessoas saibam que a definição de criança vai pelo menos até aos 18 anos, numa região do mundo em que se adere facilmente a organizações armadas com 14 ou 15 anos.
O que acho menos normal é o grau de irracionalidade usado para falar de uma situação imensamente complexa, em que não há bons de um lado e maus do outro, o que há é bons e maus em todos os lados, e vítimas inocentes em todos os lados.
"o importante é o facto do exército israelita ter assassinado milhares de pessoas, deixando feridos e/ou sem casas muitos mais, numa “guerra”/morticínio sem justificao possível nem objetivo claro (ver demissão do Ministro da Defesa de governo de extrema direita)", foi a abertura das hostilidades, com uma referência à extrema-direita incompreensível (será que se fosse a extrema-esquerda ou o extremo-centro a decidir tudo isto já seria menos dramático?), um manifesto exagero ao classificar as mortes de civis como assassinatos e não danos colaterais de uma guerra e a afirmação, delirante, de que não há qualquer justificação para a intervenção israelita em Gaza (estão por lá uns reféns, mas deve ser só para lhes proporcionar um bocado de praia, com certeza).
Perante a observação (factual) de que os ataques israelitas são precedidos de pedidos (ou ordens, como escreve frequentemente a imprensa) para que as populações civis abandonem algumas áreas, para além de grande parte das acções com mais potencial de provocar vítimas civis serem precedidas de avisos, a resposta é estranhamente absurda: "Israel avisa sempre? Nesse caso os 40.000 mortos palestinianos (incluindo talvez uns 1000 ou 2000 guerrilheiros) andavam distraídos".
É absurda no tom, é absurda na negação de uma coisa facilmente verificável (o aviso prévio às populações e o pedido de abandono das zonas de risco, frequentemente contrariado Hamas, que tenta manter a população civil nas áreas sob ataque, mesmo pela força) e é absurda na utilização dos números de vítimas: ninguém sabe bem os números de vítimas, mas existem estimativas que dos cerca de 30 mil combatentes que o Hamas tinha em Outubro do ano passado, pouco mais de metade tenham entretanto morrido, ou seja, dez vezes mais que o número evidentemente irrisório que é referido para dramatizar o que já é dramático à partida, a morte de civis inocentes.
"40 civis por cada soldado morto, não me lembro de guerra assim", diz-se ignorando o relativamente vizinho Sudão, só para não ir muito longe, nem no espaço, nem no tempo, para já não falar do ataque do Hamas a Israel que foi exclusivamente centrado no ataque a civis.
"Israel só quer matar", diz-se sem medo de que afirmações tão absurdas possam minar a credibilidade do que é dito, conhecendo-se os factos referidos acima que demonstram o cuidado do exército israelita evitar mortes civis (e pode nem ser por razões morais ou de respeito pelas leis da guerra, pode ser mesmo porque a morte de civis é um enorme problema reputacional para Israel, que qualquer pessoa com dois dedos de testa tentaria evitar).
Eu sei que discussões sobre assuntos tão polarizados são sempre difíceis, mas será impossível que pessoas razoáveis, sensatas, informadas, façam um esforço de rigor na avaliação da situação, de modo a permitir a discussão civilizada de assuntos difíceis?
É que se isso for impossível, significa que estamos condenados a conversar sobre o tempo, ao mesmo tempo que os problemas reais da sociedade crescem como tumores que nem sempre é possível resolver mais tarde, sem dor.
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