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Ir além da troika

por henrique pereira dos santos, em 29.10.22

A mentira mais frequente, mais insidiosa, mas também mais sólida, sobre Passos Coelho, é a de que Passos Coelho queira ainda mais austeridade que a troika.

Esta mentira, largamente difundida pela imprensa, e largamente usada pelas pessoas que, não tendo votado Passos Coelho, se consideram enganados por ele durante a campanha eleitoral - ou seja, pessoas que votariam Passos Coelho mas afinal não votaram nele porque foram enganadas durante a campanha eleitoral - baseia-se numa frase que, com variações, Passos Coelho usou umas quantas vezes, com significados muito claros quando se põe a frase no contexto em que foi dita.

Em nenhum caso a interpretação dominante da frase - a de que Passos Coelho estaria a defender uma maior austeridade que a defendida pela troika e expressa no memorando assinado e negociado pelo Partido Socialista - é admissível.

A primeira vez que Passos Coelho falou em ir para além da troika foi ainda antes das eleições - na tal campanha em que dizem que prometeu o leite e o mel, para depois roubar as pessoas sem piedade - quando apresentou o seu programa, dizendo que iria cumprir integralmente o memorando, contando com a possibilidade de aqui e ali poder negociar ajustamentos das medidas acordadas com os credores, mas que o programa ia para além da troika, no sentido em que o programa não era apenas executar o memorando. No fundo, disse o mesmo que Jorge Sampaio quando este lembrou, ainda antes, que havia vida para além do orçamento.

É claríssimo o que estava a dizer Passos Coelho: cumpriremos as obrigações com que o país está comprometido para que os credores nos emprestem dinheiro, mas o nosso programa político não se restringe a isso e queremos fazer reformas que consideramos necessárias ao país.

Não estou a discutir se o programa era bom ou mau, estou apenas a constatar que o significado do além da troika era um, e a generalidade da imprensa (e a oposição, incluindo o partido que tinha metido Portugal na alhada da dependência excessiva dos mercados financeiros) resolveu pegar na letra das frases e fazer a interpretação que entendeu, mesmo sabendo perfeitamente que estava a dar curso ao velho ditado "com a verdade me enganas tu".

Das outras vezes que Passos Coelho falou em ir para além da troika foi mais ou menos sempre no mesmo contexto: quando a generalidade da opinião publicada falava em espiral recessiva e na inevitabilidade do segundo resgate, mais tarde, verificando-se que não havia segundo resgate, em reestruturação da dívida para a tornar sustentável, Passos Coelho garantia o cumprimento das metas negociadas com os credores pelo Partido Socialista (e depois, à medida da sua execução, com adaptações já negociadas por Passos Coelho) iria ser alcançada e, talvez, mesmo se conseguisse ir além dessas metas.

Qualquer pessoa percebe que conseguir ir além dos resultados pretendidos, necessários e benéficos para o país e para as pessoas, é muito diferente de querer ir além da medicação e tratamentos dolorosos necessários para atingir esses resultados.

A ninguém passa pela cabeça não ficar satisfeito porque um tratamento difícil e doloroso, cheio de efeitos secundários negativos, está a correr melhor que o esperado e o doente está a melhorar mais que o previsto.

Pois foi exactamente essa a opção da opinião publicada (grande parte da imprensa publica opinião disfarçada de informação, portanto opinião publicada inclui as notícias), pretender que o médico que constatava as melhorias do doente, admitindo que a terapia até poderia dar resultados melhor que os esperados, estava era a defender que se deveria carregar na terapia com o objectivo de aumentar o sofrimento do doente e aumentar os efeitos secundários da terapia.

Em relação a Passos Coelho, ainda hoje o lema se mantém, quer por parte da imprensa, quer por parte do Partido Socialista que nos levou ao hospital: "com a verdade me enganas tu".

Passos Coelho falou várias vezes em ir além da troika, é verdade, mas em nenhuma dessas vezes ele disse o que dizem que disse, isto é, em nenhuma dessas vezes ele defendeu um programa de maior austeridade quando falou em ir além da troika.

Claro que escrever isto é inútil, nem um dos que foram enganados por Passos Coelho na campanha eleitoral, e portanto não votaram nele, irá alguma vez admitir que está a esquecer o contexto das afirmações, para lhe ser possível citar um frase verdadeira como demonstração de que Passos Coelho disse o que na verdade nunca disse.


34 comentários

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De Anónimo a 30.10.2022 às 08:51

O que lá vai, lá vai!
Por mais que zurrem, por mais que ladrem, por mais que miem, todos sabemos quem levou o país à situação de ruptura, quem, em consequência, nos meteu cá a Troika, quem negociou os memorandos da Troika, assim como todos nós sabemos quem a pôs a andar em 4 anos, (metade dos anos que demorou a Grécia) quem conseguiu uma saída limpa, quem prescindiu do último cheque da troika que nos estava destinado, quem concluiu o programa de assistência financeira em 17/Maio/2014,  quem nos tirou do sufoco , quem fechou os dossiers com continhas certas, ((esse Alguém foi elogiado pelos credores, que nem queriam acreditar e por isso ainda hoje é um nome por essa Europa)) quem pôs o país a crescer , quem deixou uma "almofada" financeira para que o governo seguinte tivesse uma folga e um alívio para poder respirar melhor e por fim  _não sendo o mais importante em relação ao que se enumerou _  ainda lhes deu um baile quando ganhou as eleições!!! Tudo isso lhes dói até hoje! A dor de cotovelo é lixada. E ainda não conseguiram ultrapassar o trauma .
Mas há lição que o Passos Coelho lhes deu: a importância do rigor das contas certas . 


Os socialistas aprenderam com ele ((e até "já" copiam!)), a importância das contas certas, não porque lhes esteja na índole, mas porque perceberam que isso dá  vitórias, como aconteceu no caso de Passos Coelho. E perceberam mais: que o rigor lhe deu credibilidade e que isso conquistou os eleitores e foi determinante na avaliação que os portugueses fizeram do governo de Passos dando-lhe  o seu voto de confiança para continuar a governar. Borrifaram-se para a propaganda esdrúxula da esquerda e votaram nele!. Essa é que é essa.
Passos Coelho foi (é)  aquela pessoa com quem se mediram e perderam! Quanto isso deve doer!  Percebe-se na actualidade que ainda é uma questão traumática para os socialistas. Passos Coelho é uma "espinha encravada" na garganta dos socialistas, ou aquela pedrinha no sapato que mói, mói, e magoa e incomoda. Até hoje. A famosa pedrinha pequena, do latim "scrupulum" (escrúpulo) que se alojava na consciência.  
Acho que no fundo da consciência sentem por Passos Coelho um inconfessável fascínio e  reconhecem o seu valor. Temem-no e exorcizam-no, numa tentativa desesperada de expulsar das mentes dos portugueses a boa imagem dum Homem competente que superou uma enorme crise do país . A admiração que compreensivelmente escondem, acaba, no entanto, por revelar-se : camaleonicamente vêmo-los a recuperar algumas das fórmulas do governo de PCoelho, a apropriarem-se delas e... coisa impensável!  até fazem gala nisso. Tanto que as repetem aos portugueses como um mantra, como "coisa própria" e não... uma cópia.
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De Anónimo a 30.10.2022 às 14:48

É lamentável que os portugueses sejam um povo demasiado distraído. Deixam que lhes passe ao lado coisas gravíssimas. Por exemplo, exigir uma justificação para isto isto: 
 "...  temos de saber porque recusou [Santos Silva]que fosse mostrada no parlamento a exposição “Totalitarismos na Europa”, dedicada aos crimes cometidos por regimes fascistas e comunistas em diversos países europeus. Ou porque bloqueia a atribuição de uma vice-presidência ao Chega…" - Helena Matos
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De Anonimo a 30.10.2022 às 17:12

Coelho: piegas. Costa: resiliente.


Boa imprensa, concordo que não se deva morder a mão que alimenta, e aqueles 15 milhões são um bom combate à pobreza.
Fosse o Passos a dizer para nao o fazerem rir após um incêndio como o de Pedrogão,  ou PM quando um estrangeiro foi morto à pancada pelas autoridades,  era faxismo para cima .


Vá,  sejam menos piegas e mais resilientes. Estão aqui estão a dizer que se vive melhor em monarquia  
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De anónimo a 30.10.2022 às 19:31


Quando o PCP ensinou ao PS o buraco que estava à disposição deles, escondido, subrepticiamente, na Constituição, o PS avançou feliz e contente. Vou ser Primeiro Ministro mesmo perdendo, pensou alguém. O dogmático PR nem percebeu o que tinha acontecido.


Como é que 3 tribus de gatos que na campanha eleitoral se tinham furiosamente bufado e arranhado mutuamente, uns aos outros, entram tão facilmente, os 3, para o mesmo saco?. Grande Constituição, made in PCP claro, mas nunca sufragada, diga-se.

Entretanto os "deputados" não mexem naquilo porque na verdade é a sua, a deles, Lei Eleitoral. Grandes vidas.

Se amanhã PSD e Chega resolverem juntar os trapinhos, para dividir o espólio entre eles ... aqui del-Rei!, crime leza-majestade. Não dá para rir, só que realmente não há vergonha.
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De Anónimo a 30.10.2022 às 21:06


Quando é que o psitacídeo condecora o Sócrates, quando?


Condecorem o Sócrates! Condecorem o Sócrates!

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