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A mentira mais frequente, mais insidiosa, mas também mais sólida, sobre Passos Coelho, é a de que Passos Coelho queira ainda mais austeridade que a troika.
Esta mentira, largamente difundida pela imprensa, e largamente usada pelas pessoas que, não tendo votado Passos Coelho, se consideram enganados por ele durante a campanha eleitoral - ou seja, pessoas que votariam Passos Coelho mas afinal não votaram nele porque foram enganadas durante a campanha eleitoral - baseia-se numa frase que, com variações, Passos Coelho usou umas quantas vezes, com significados muito claros quando se põe a frase no contexto em que foi dita.
Em nenhum caso a interpretação dominante da frase - a de que Passos Coelho estaria a defender uma maior austeridade que a defendida pela troika e expressa no memorando assinado e negociado pelo Partido Socialista - é admissível.
A primeira vez que Passos Coelho falou em ir para além da troika foi ainda antes das eleições - na tal campanha em que dizem que prometeu o leite e o mel, para depois roubar as pessoas sem piedade - quando apresentou o seu programa, dizendo que iria cumprir integralmente o memorando, contando com a possibilidade de aqui e ali poder negociar ajustamentos das medidas acordadas com os credores, mas que o programa ia para além da troika, no sentido em que o programa não era apenas executar o memorando. No fundo, disse o mesmo que Jorge Sampaio quando este lembrou, ainda antes, que havia vida para além do orçamento.
É claríssimo o que estava a dizer Passos Coelho: cumpriremos as obrigações com que o país está comprometido para que os credores nos emprestem dinheiro, mas o nosso programa político não se restringe a isso e queremos fazer reformas que consideramos necessárias ao país.
Não estou a discutir se o programa era bom ou mau, estou apenas a constatar que o significado do além da troika era um, e a generalidade da imprensa (e a oposição, incluindo o partido que tinha metido Portugal na alhada da dependência excessiva dos mercados financeiros) resolveu pegar na letra das frases e fazer a interpretação que entendeu, mesmo sabendo perfeitamente que estava a dar curso ao velho ditado "com a verdade me enganas tu".
Das outras vezes que Passos Coelho falou em ir para além da troika foi mais ou menos sempre no mesmo contexto: quando a generalidade da opinião publicada falava em espiral recessiva e na inevitabilidade do segundo resgate, mais tarde, verificando-se que não havia segundo resgate, em reestruturação da dívida para a tornar sustentável, Passos Coelho garantia o cumprimento das metas negociadas com os credores pelo Partido Socialista (e depois, à medida da sua execução, com adaptações já negociadas por Passos Coelho) iria ser alcançada e, talvez, mesmo se conseguisse ir além dessas metas.
Qualquer pessoa percebe que conseguir ir além dos resultados pretendidos, necessários e benéficos para o país e para as pessoas, é muito diferente de querer ir além da medicação e tratamentos dolorosos necessários para atingir esses resultados.
A ninguém passa pela cabeça não ficar satisfeito porque um tratamento difícil e doloroso, cheio de efeitos secundários negativos, está a correr melhor que o esperado e o doente está a melhorar mais que o previsto.
Pois foi exactamente essa a opção da opinião publicada (grande parte da imprensa publica opinião disfarçada de informação, portanto opinião publicada inclui as notícias), pretender que o médico que constatava as melhorias do doente, admitindo que a terapia até poderia dar resultados melhor que os esperados, estava era a defender que se deveria carregar na terapia com o objectivo de aumentar o sofrimento do doente e aumentar os efeitos secundários da terapia.
Em relação a Passos Coelho, ainda hoje o lema se mantém, quer por parte da imprensa, quer por parte do Partido Socialista que nos levou ao hospital: "com a verdade me enganas tu".
Passos Coelho falou várias vezes em ir além da troika, é verdade, mas em nenhuma dessas vezes ele disse o que dizem que disse, isto é, em nenhuma dessas vezes ele defendeu um programa de maior austeridade quando falou em ir além da troika.
Claro que escrever isto é inútil, nem um dos que foram enganados por Passos Coelho na campanha eleitoral, e portanto não votaram nele, irá alguma vez admitir que está a esquecer o contexto das afirmações, para lhe ser possível citar um frase verdadeira como demonstração de que Passos Coelho disse o que na verdade nunca disse.
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