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"As montanhas temperadas e mediterrânicas oceânicas estão a ser deglutidas pela Acacia dealbata, por vezes, secundada pela A. melanoxylon, Cortaderia e por Paspalum, e outras gramíneas de fora. E pela regeneração de semente de Eucalyptus, não vale a pena meter a cabeça na areia".
O que cito é de Carlos Aguiar, das pessoas que mais respeito no mundo da conservação da natureza e um dos melhores botânicos e ecólogos do país (declaração de interesses, conheço-o há muitos anos, foi um dos orientadores da minha tese de doutoramento, e o que lhe devo em compreensão do mundo rural é incalculável, em especial naquilo em que Carlos Aguiar é único, o conhecimento que tem das interacções entre a química do solo e a vegetação).
Na altura em que o Carlos escreveu isto não fiz qualquer comentário, mas à segunda referência à questão das invasoras, resolvi fazer este post.
A estratégia de gestão das invasoras (para efeitos deste post, estou sobretudo a falar das plantas lenhosas invasoras, mas muito do que digo é parcialmente aplicável a todas invasões biológicas que estão a ocorrer) tem um traço comum com algumas das estratégias de gestão do fogo ou de controlo de epidemias.
Sendo certo que é muito mais fácil e eficaz controlar invasoras (ou fogos, ou doenças contagiosas) no início do processo de invasão, as estratégias para as invasoras assumem como primeira prioridade controlar a entrada de invasoras num novo território (ou as ignições, ou os contágios).
Tal como no caso do fogo ou das epidemias, há um erro central nesta estratégia, o de não se aceitar que haverá sempre focos (ou ignições ou contágios) que fogem desse controlo inicial, e depois é tudo uma questão de gestão e contexto.
No caso das invasoras o problema central não está em estar tudo cheio de acácias ou háqueas, que progridem explosivamente pós-fogo, o problema está na falta de gestão e nos conceitos de gestão errados que esquecem o contexto, esquecem a doença, para se concentrar nos sintomas.
Por exemplo, a reverência ao mainstream de que o Carlos dá mostras ao referir o eucalipto (que se expande lentamente por semente e cuja expansão é fácil de controlar), tem consequências concretas quando o Fundo Ambiental inclui o controlo de eucalipto no financiamento a projectos de controlo de invasoras, desviando recursos que são mais que escassos para gerir uma ameaça real e explosiva (a expansão de háqueas e acácias) para os aplicar numa ameaça inexistente e facilmente controlável (a expansão não económica do eucalipto).
A questão não está em financiar o controlo de invasoras, a questão está em criar contextos menos favoráveis à expansão de invasoras, o que significa, forçosamente, encontrar sustentabilidade económica para actividades que possam resultar no controlo das invasoras, seja pelo seu uso e gestão, seja pela reconversão de áreas que possam representar melhores opções para o seu proprietário que o abandono.
Tal como no fogo, ou nas epidemias, o caminho que temos pela frente é aprender a conviver serenamente com estas ameaças, compreendê-las, perceber em que contexto se desenvolvem desfavoravelmente para nós, e encontrar as tecnologias, o conhecimento e os modelos de gestão que nos permitam limitar os seus efeitos negativos.
É disto que se trata, de aumentar a nossa sabedoria, reconhecendo que saberemos sempre menos do que precisaríamos e podemos sempre menos do que desejaríamos, o que nos impede, felizmente, de criar mundos de risco zero.
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