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Incêndios

por João Távora, em 20.09.24

Tudo isto tem uma história. Nos meados do século XIX, fora das áreas de cultivo, Portugal tinha uma paisagem de areais, charnecas e cumeadas nuas, muito adequada para impressionar os estrangeiros pela poeira que era capaz de produzir. Foi essa desolação que o Estado decidiu alcatifar de árvores. Para não demorar, escolheu espécies de crescimento rápido, como o pinheiro e mais tarde o eucalipto. Os primeiros incêndios foram atribuídos à má vontade dos pastores, que não gostaram de ver os serviços florestais vedarem as serras e os baldios para onde levavam os rebanhos. No fim do século XX, a revolução florestal cruzou-se com o êxodo rural: às árvores do Estado, juntou-se o matagal sempre em expansão dos campos abandonados. Num país de Verões quentes e ventosos, com um relevo de acesso difícil, o resultado foi os fogos tornarem-se tão recorrentes no Verão como a gripe no Outono. (...)

A demagogia adora planos tonitruantes – prisões em massa, novas revoluções florestais. Não recomendo que se deixe tudo na mesma. Mas não seria preferível começar por apurar estratégias com o objectivo mais realista de, em caso de incêndio, proteger povoações, garantir vias de comunicação, e salvaguardar o património natural valioso? Para isso, porém, teremos talvez de desaprender a lição do velho Marx, e compenetrar-nos de que convém compreender o mundo antes de tentar transformá-lo.

Rui Ramos no Observador


14 comentários

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De Anónimo a 20.09.2024 às 10:53


Foi essa desolação que o Estado decidiu alcatifar de árvores. Para não demorar, escolheu espécies de crescimento rápido, como o pinheiro e mais tarde o eucalipto.



A maior parte da florestação de Portugal não foi efetuada pelo Estado e sim por privados. Aliás, a imensa maior parte da floresta portuguesa tem proprietários privados.
Também foram os privados quem escolheu preferencialmente (no Norte e no Centro) espécies de crescimento rápido.
O pinheiro não é uma espécie de crescimento propriamente rápido, demora uns bons 40 anos a ficar pronto para corte, comparado com os 12 anos de um eucalipto ou um choupo.
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De Albino Manuel a 20.09.2024 às 11:36

Estranho...não foi no tempo do Estado Novo que arborizaram o país? Que história é essa de Marx? O homem também foi ministro de Salazar?
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De cela.e.sela a 20.09.2024 às 14:44

onde entra a ideologia e a ignorância estraga-se o país e a paisagem.
entregue à esquerda a CS desinforma e contrainforma.
gostei de ouvir os comentários da Anabela. 
Arrium porrrium
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De Nelson Goncalves a 20.09.2024 às 15:41


"A demagogia adora planos tonitruantes – prisões em massa, novas revoluções florestais"



Eu aqui discordo em parte do Rui Ramos. Sim, boa parte dos maluquinhos no parlamento adorariam mandar para o Campo Pequeno, quem eles consideram culpados pelos incêndios.


Mas o outro lado da moeda é que se os culpados dos incêndios são "os grandes interesses do capital/eucaliptal/minas/etc" então não é necessário gastar tempo a compreender o mundo. A teoria da conspiração é a cábula dos políticos preguiçosos.

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De Silva a 20.09.2024 às 17:37



"... teremos talvez de desaprender a lição do velho Marx..."


Muito pelo contrário, as lições de Marx são verdadeiras lições, têm de ser aprendidas para fazer exactamente o contrário que Marx defendia.
Marx defendia o aumento gradual (para passarem despercebidos) dos impostos, e é isso que acontece todos os anos com o aumento do salário mínimo (trata-se duma imposição, logo é um imposto).
O que há a fazer é exactamente o contrário que é o de abolir o salário mínimo.
Com mais outras reformas estruturais  como a liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos, que são outra redução significativa dos impostos haveria muito mais condições para o repovoamento do interior e para o aproveitamento por parte da população mais efectivo sobre as actividades do sector primário e dos recursos naturais do interior nomeadamente as florestas.
É assim que se evitam os incêndios e não com pseudo-bombeiros que mesmo com um óptimo empenho têm um péssimo desempenho.



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De Anónimo a 20.09.2024 às 17:54

Não é por acaso que grande parte da floresta portuguesa é constituída por eucaliptos, isto é, por uma espécie de crescimento rápido. Os privados, que são quem efetua a florestação, privilegia, naturalmente, extrair rapidamente valor dela - o que só é possível com eucaliptos ou choupos, que estão prontos para corte daí a somente 12 anos. (Os choupos só crescem em solos bastante húmidos, são casos particulares.) Em países nos quais a floresta pertence predominantemente ao Estado - a maior parte dos países desenvolvidos - este pode dar-se ao luxo de plantar árvores de crescimento lento. Os privados, geralmente, não podem ou não querem.
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De lucklucky a 21.09.2024 às 01:58

E?
DO ICNF
 
Inventario Florestal 6  
Está concluído o 6º Inventário Florestal Nacional (IFN6), uma peça fundamental para a implementação da Reforma da Floresta iniciada em 2016. Os trabalhos de fotointerpretação terminaram no final de 2018, contudo os dados finais só foram entregues este mês.

Uma primeira análise dos dados recolhidos permite desde já concluir que:
A maior área de floresta (1 063 000 ha) é coberta por montado (sobreiro e azinheira) 
A área de eucalipto (844 000 ha) cresceu abaixo das estimativas 
A área de pinheiro bravo (714 000 ha) diminuiu 
A área de pinheiro manso (193 000 ha) aumentou
  
Além destas conclusões, salienta-se que:
Os espaços florestais (floresta, matos e terrenos improdutivos) ocupam 6,1 milhões de hectares (69%) do território nacional continental.
A floresta, que inclui terrenos arborizados e temporariamente desarborizados (superfícies cortadas, ardidas e em regeneração), é o principal uso do solo nacional (36%).  
A tendência de diminuição da área de floresta, que se verificava desde 1995, inverteu-se, registando-se com este inventário um aumento de 59 mil ha (1,9%) face a 2010 (data da última avaliação).
Os matos e pastagens representam a segunda categoria mais expressiva de uso do solo (31%), registando um crescimento contínuo da área ocupada desde 1995.
A floresta nacional é maioritariamente constituída por espécies florestais autóctones (72%).
Os “montados”, sobreirais e azinhais são a principal ocupação florestal, com mais de 1 milhão de hectares de superfície, representando um 1/3 da floresta. São ecossistemas florestais de uso múltiplo, que têm na produção de cortiça a sua principal função. 
Os pinhais são a segunda formação florestal, ocupando uma área superior a 900 mil ha. Apesar do crescimento da área de pinheiro manso, regista-se um decréscimo da área ocupada pelo pinheiro bravo. Em termos globais, mantem-se a tendência de redução da área ocupada com pinho, que vem desde 1995, embora o ritmo da redução esteja a abrandar, revelando a capacidade de resiliência destas árvores às perturbações, como é o caso das pragas que afetam os pinhais.  
Os eucaliptais ocupam 844 mil hectares, área inferior à que tem sido estimada e que representa cerca de 26% da floresta continental. Os dados recolhidos revelam um incremento sistemático da área ocupada ao longo dos últimos 50 anos.
As folhosas caducifólias (carvalhos, castanheiros e outras) registam um aumento sistemático de área ocupada ao longo dos últimos 20 anos, sendo o crescimento dessa área mais significativo no período entre os dois últimos inventários (2005 e 2015), apesar de constituírem a formação florestal menos representativa em área ocupada.
Em termos estruturais, funcionais e paisagísticos, a floresta do continente está organizada em quatro grandes grupos, ou formações florestais: pinhais (constituídos por povoamentos de pinheiro-bravo e pinheiro-manso); folhosas perenifólias (“montados”, sobreirais e azinhais); folhosas caducifólias (carvalhos, castanheiros e outras); e as folhosas silvo-industriais (eucaliptais). 
Em todos os pontos de amostragem no terreno procedeu-se à identificação das espécies exóticas ou invasoras (de acordo com a classificação do Decreto-Lei n.º 565/99), tendo-se confirmado a presença destas espécies pelo território continental de forma generalizada, apesar de as situações de presença maciça (grupos de plantas ou extensão por toda a superfície) sejam significativamente raras. As acácias e háqueas, canas e chorão-das-praias são as espécies mais detetadas. 
(...)




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De lucklucky a 21.09.2024 às 02:34

"Não é por acaso que grande parte da floresta portuguesa é constituída por eucaliptos, isto é, por uma espécie de crescimento rápido."


A área de eucalipto era inferior ao de pinheiro no ultimo inventário florestal.




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De Anónimo a 21.09.2024 às 15:43


A área de eucalipto era inferior ao de pinheiro


Só se se juntar o pinheiro manso com o bravo. São duas árvores muito diferentes. Não me parece legítimo juntá-las.


Enquanto que o pinheiro manso se usa basicamente para produzir pinhão, um fruto de muito alto valor, o pinheiro bravo só se usa para madeira (e madeira de qualidade razoavelmente fraca).
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De lucklucky a 21.09.2024 às 19:18

Também há diferentes espécies de eucalipto. Por exemplo o eucalipto vermelho que é comum é habitualmente considerado de mais baixo valor e não aceite para papel habitualmente. 
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De Luis a 21.09.2024 às 07:55

Claro que plantam eucaliptos. Se não plantarem eucaliptos, qual o rendimento que tiram das terras? Nas zonas onde não existe regadio se não forem eucaliptos plantam o quê? Ou plantam eucaliptos ou abandonam a terra ao mato, é simples.
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De Anónimo a 21.09.2024 às 15:45


Ou plantam eucaliptos ou abandonam a terra ao mato


Exatamente. Aliás, uma grande vantagem do eucalipto é que cresce muito rapidamente e, ao fazê-lo, combate eficazmente os matos, de tal forma que o proprietário não tem que ir limpar a propriedade. Outras árvores não combatem eficazmente os matos e requerem que o proprietário tenha que limpar a propriedade durante alguns anos antes de elas crescerem.
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De lucklucky a 21.09.2024 às 02:32


A área de floresta(1000ha) era de:
No ano de 1902 de 1957    No ano de 1966 de 2825 
No ano de 1989 de 3085
E andamos acima de 3000 desde aí.
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De Anonimus a 21.09.2024 às 08:19

Quando era miúdo, e já depois do 25A, um dos empregos da malta do liceu nas semanas seguintes ao fim da escola era ir limpar a mata. Isso ainda se faz?

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