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Tudo isto tem uma história. Nos meados do século XIX, fora das áreas de cultivo, Portugal tinha uma paisagem de areais, charnecas e cumeadas nuas, muito adequada para impressionar os estrangeiros pela poeira que era capaz de produzir. Foi essa desolação que o Estado decidiu alcatifar de árvores. Para não demorar, escolheu espécies de crescimento rápido, como o pinheiro e mais tarde o eucalipto. Os primeiros incêndios foram atribuídos à má vontade dos pastores, que não gostaram de ver os serviços florestais vedarem as serras e os baldios para onde levavam os rebanhos. No fim do século XX, a revolução florestal cruzou-se com o êxodo rural: às árvores do Estado, juntou-se o matagal sempre em expansão dos campos abandonados. Num país de Verões quentes e ventosos, com um relevo de acesso difícil, o resultado foi os fogos tornarem-se tão recorrentes no Verão como a gripe no Outono. (...)
A demagogia adora planos tonitruantes – prisões em massa, novas revoluções florestais. Não recomendo que se deixe tudo na mesma. Mas não seria preferível começar por apurar estratégias com o objectivo mais realista de, em caso de incêndio, proteger povoações, garantir vias de comunicação, e salvaguardar o património natural valioso? Para isso, porém, teremos talvez de desaprender a lição do velho Marx, e compenetrar-nos de que convém compreender o mundo antes de tentar transformá-lo.
Rui Ramos no Observador
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