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Incendiários e condutores de automóveis

por henrique pereira dos santos, em 22.07.19

Ontem acabei a jantar tardíssimo (como eu gosto de sandwiches de carne estufada, com manteiga, por mim substituía todas as sandwíches de carne assada por carne estufada, desde que a carne passe pelo menos cinco hora em lume brando, e o copo de vinho branco depois soube-me pela vida) porque depois de me ter comprometido a ir a uma das televisões, pediram-me para ir a outra e entre os dois programas (à hora de jantar) tinha de atravessar Lisboa de lés a lés.

O assunto era fogos. Eu bem explico que do que sei alguma coisa e gosto de falar é de paisagem, e lá vou contrabadeando ideias sobre a paisagem no meio dos fogos, mas fogos é que é o assunto.

No primeiro sítio onde estive, pressionado pelo tempo para me ir embora (tinha sido a outra televisão a falar comigo primeiro, portanto não queria chegar atrasado por causa da concorrência) e ao fim de meia hora em estúdio a ouvir falar de incênciários e afins, já se devia ver o fumo a sair das orelhas, tal era a minha irritação, quer com a insistência no tema, quer com a trafulhice política do ministro da administração interna usar a percepção pública errada para fugir às suas responsabilidades.

Depois dos dois programas, fui vendo aqui e ali comentários e, inevitavelmente, aparece o argumento sistemático, usado como sendo definitivo: sem ignições não há incêndios, portanto a questão está nas ignições.

Meus amigos, não vou maçar-vos a repetir que ignições há sempre, que se eliminarmos todas as ignições de origem humana apenas estamos a criar fogos mais violentos e extensos quando houver uma ignição natural, que 1% das ignições dão origem a qualquer coisa como 90% da área ardida, que a geografia das ignições não coincide com a geografia dos grandes incêndios (o maior número de ignições ocorre onde há mais gente, os problemas com os maiores incêndios estão nas zonas onde há menos gente), que 80% das ignições ocorrem num raio de dois quilómetros das aldeias, onde os fogos são mais fácil e rapidamente dominados, que nos últimos anos reduzimos as ignições em um terço, ou seja, dimuímos as ignições em mais de 30%, e que isso não teve qualquer reflexo na área ardida, e outros argumentos factuais e racionais porque sei que o argumento: "não havendo ignições, não há fogos" não é do domínio da racionalidade mas do domínio da fé.

Por isso, num último esforço, venho apenas falar-vos de uma analogia.

Todos temos a ideia de que sinistralidade rodoviária é um problema sério no país. E também sabemos que é hoje um problema de muito menor dimensão do que já foi.

Pois bem, se não houver condutores de automóveis, não há sinistralidade rodoviária, mas o facto é que a sinistralidade rodoviária diminuiu, ao mesmo tempo que aumentou o número de condutores rodoviários. E nunca ouvi ninguém defender que para resolver a sinistralidade rodoviária a questão chave é acabar com os condutores porque sem condutores não há acidentes rodoviários.

Era só isto.


4 comentários

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De Anónimo a 22.07.2019 às 11:22

até chamam reacendimento a uma 'ignição' mal apagada
mais 34 anos de geringonça e parece que estou na Lua quando for ao concelho de Mação onde passei férias 50 anos
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De António a 22.07.2019 às 13:40

E no entanto tudo se encaminha para acabar com os condutores. Ironias.
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De Luís Lavoura a 23.07.2019 às 10:03

Pus-me ontem a pensar porque é que no concelho de Mação há tantos fogos grandes, enquanto que no concelho da Idanha-a-Nova há tão poucos.
Talvez seja porque em Mação as árvores são sobretudo eucaliptos e pinheiros, enquanto que na Idanha são mais azinheiras.
Mas talvez tenha também a ver com o queijo da Idanha. Na Idanha todas as terras são pastoreadas por cabras e ovelhas, de cujo leite se faz queijos afamados. Em Mação não há pastoreio.
Habituámo-nos a só beber leite de vaca e comer queijos de leite de vaca. É mais barato. Mas em Portugal o que se deveria subsidiar era a produção e o consumo de queijo e leite de cabra.
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De Luís Lavoura a 23.07.2019 às 14:54

Há também a mixomatose e a doença hemorrágica viral.
Dantes em Portugal havia montes de coelhos. Os quais comiam muita vegetação, certamente. A partir da década de 1960 os coelhos foram dizimados por essas doenças. Isso estará a promover o crescimento desmesurado da vegetação.

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