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A discussão sobre a criação de um imposto sobre a riqueza como medida visionária imediata para reduzir igualdades tem tido desenvolvimentos interessantes.
Há, no entanto, uma questão central que convém clarificar.
Os impostos não servem para distribuir rendimento, os impostos servem para financiar o Estado.
Se o Estado decidir aplicar o resultado da colecta de impostos no apoio aos pobres e deserdados, pode ser que isso resulte em alguma distribuição de rendimento, mas não é o imposto que faz essa redistribuição, é a decisão de aplicar recursos em políticas de apoio aos pobres e deserdados (por exemplo, não há redistribuição socialmente útil se o Estado gastar ineficientemente os recursos de que dispõem, essa é uma das razões pelas quais é criminosa a passividade com que olhamos para usos ineficientes dos recursos que os contribuintes entregam ao Estado).
O mecanismo central de redistribuição de rendimento tem muito pouca relação com o Estado, ou melhor, com a colecta de impostos pelo Estado, porque é um mecanismo contratual entre pessoas: a justa remuneração do trabalho e do capital.
Este é o principal mecanismo de redistribuição de rendimento, que pode ser uma redistribuição justa, quando capital e trabalho concorrem para a criação de riqueza e a remuneração de trabalho e capital é adequada.
Ou pode ser uma redistribuição perversa quando serve a acumulação progressiva de riqueza baseada na assimetria de poder e informação entre os intervenientes.
Por exemplo, quando a actividade económica se faz em sistemas de baixa concorrência ou outro tipo de mercados imperfeitos (os únicos que existem, os mercados perfeitos só existem em livros que falam de mercados), permitindo que alguém (que até pode ser o Estado) fique com uma percentagem da riqueza criada que é subtraída a quem realmente a produziu.
A esquerda que desistiu de Marx tem vindo a desenvolver cada vez mais a ideia de que a redistribuição de riqueza e rendimento se basseia essencialmente na política fiscal, mas está tão errada como o Marx que renegam, com a agravante de potenciar os erros de Marx ao renegar igualmente uma das suas ideias certas e justas: o Estado é um instrumento de repressão nas mãos das classes dominantes.
Por mais que as classes dominantes desenvolvam mecanismos mais abertos e democráticos de deposição do poder temporário nas mãos de alguns, o Estado continua a ser um instrumento que serve o poder e não o garante do bem comum.
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