Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Parece que hoje, em gloriosa jornada parlamentar, a República proíbiu o uso da burca em espaços públicos, assim pretendendo "libertar" as mulheres desse atavio e da sua eterna submissão ao poder masculino. E a única conclusão que logrei tirar foi - eu afinal não sei o que é a liberdade.
Depois ouvi um breve debate sobre o tema, na CNN, entre um cavalheiro do Chega, uma senhora deputada (muito atrapalhada) do PSD e o sempre sereno Álvaro Beleza - alguém que prezo e recuso situar à esquerda, mesmo que ele se diga como tal - e reorganizei as ideias. Parece que tudo poderá ser resumido assim:
- A burca usada por muçulmanas contra a sua vontade, v. g. por imposição familiar - não, jamais! (E por esta via iriamos dar à violência familiar..) A burca usada por vontade própria é uma tão legítima opção quanto o turbante dos sikhs, a batinas dos eclesiásticos católicos romanos ou a longa barba dos ortodoxos. A circunstância de viverem em Portugal e terem de seguir o normativo jurídico da República Portuguesa nada contende com isso.
- Donde a péssima colocação do problema. Aliás: da jacobina colocação do problema.
- Depois sobram as imprescindíveis questões de segurança, para as quais uma defesa eficaz é a vídeo-vigilância. E aí, na realidade, debaixo de uma burca poderá estar um(a) terrorista, quem quer que seja animado dos piores propósitos, e a cara destapada é sempre um dado de valia.
- Tudo somado acarreta uma só conclusão: legislar assim à pressa, só na República portuguesa, ou nas demais afectadas pelo jacobinismo. Há lugares e lugares, propensões e propensões. Valeria proíbir uma burca como o uso de um barrete de esquiador, seja verão ou inverno. O legislador, em vez de pretender chatear, devia estudar e prever e só depois estatuir. Devia tirar os óculos escuros que, às vezes, são o disfarce dos meliantes. Também poderia pressupor que uma mulher de burca por convicção religiosa não se passeia por aí, à noite, em lugares atreitos a navalhas, rebentamento de caixas-multibanco ou de lojas de conveniência. E, então, o diploma legal sairía mais centrado nas condições de tempo e local do que no pano enroscado nas cabeças islamitas.
Mas isso dá trabalho, não provoca o outro lado do hemiciclo parlamentar e até pode ser consensual. Tudo uma monotonia, uma maçadora sessão. E não foi para isso que a Assembleia da República Portuguesa foi criada.
Ou então passem ao capítulo seguinte: o dos turbantes, batinas, balandraus e - sejamos coerentes - gajas em sapatos-andaime que atacam à noite na escuridão das avenidas.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Subscrevo e partilho das mesmas preocupações.Algum...
Em todo o caso creio que o grande desafio, muitíss...
Creio que no essencial as coisas caminham, se não ...
Sou assalariado desde que comecei a trbalhar, desd...
Desde que disseram esse disparate que eu pensei, b...