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Uma das minhas irmãs vai dizendo, regularmente, que usa um princípio geral quando lê alguma coisa: se uma história parece mal contada, de maneira geral é porque está mesmo mal contada.
Quando li que um deputado do Chega tinha chamado aberração a Ana Sofia Antunes (no pressuposto de que isso decorria de ser cega), pareceu-me uma história mal contada.
No entanto, para a generalidade das pessoas que ouvi falar no assunto, incluindo muitos dos meus amigos por cujas capacidade intelectuais tenho grande apreço, a história não parecia mal contada.
Tenho ideia de que a razão para isso é que eu considero todos os deputados, à partida, como pessoas normais, e boa parte dos meus amigos não partem desse princípio, esperando coisas extraordinárias dos deputados de algumas bancadas (quer a sua argúcia e lucidez permanente, quer a sua irreformável boçalidade, dependendo das bancadas em que se sentam), razão pela qual acham admissível que um qualquer deputado (desde que da bancada certa) possa chamar aberração a uma pessoa cega no parlamento, porque é uma pessoa horrível.
Prudentemente, não fiz qualquer comentários sobre a peixeirada que se seguiu a uma afirmação tonta de uma deputada do Chega, e assim continuaria, não se desse o caso de ter lido a versão que o Observador apresenta do que os serviços da Assembleia da República terão registado do assunto (na dúvida, eu teria ir ver a transmissão da sessão, mas tinha várias indicações, de pessoas com pontos de vista diferentes, dizendo que não se percebia nada do que era dito sem os microfones ligados, só quem estava na Assembleia ao vivo é que poderia saber o que se passou).
Ressalvando que não li o documento a que se refere o Observador (o borrão do registo da sessão), lá aparece a confirmação de que uma história que parece mal contada, de maneira geral, é por ter sido mesmo mal contada.
O insulto da aberração (sim, é um insulto no meio do peixeirada cheia de insultos) não era dirigido a Ana Sofia Antunes nem tinha qualquer relação com o facto de ser cega, mas aparecia num bate-boca de muito baixo nível entre Filipe Melo, do Chega, e Isabel Moreira, do PS, e foi dirigido por Filipe Melo a Isabel Moreira (que, aparentemente, se enganou no deputado do Chega que queria atingir, falando de uma eventual falta de pagamentos da pensão de alimentos do filho, questão relacionada com outro deputado do Chega, com a agravante de, com esse engano, se estar a dirigir a um deputado que tem um filho autista).
Tudo isto é bastante deprimente, e parece-me uma fabulosa ilustração do artigo de hoje de Patrícia Fernandes, no Observador, sobre o chão comum que parece estar a desaparecer do mundo ocidental, à medida que a erosão de uma moral comum nos deixa à mercê de um individualismo excessivo, que não reconhece no outro o mínimo comum quer permite a liberdade e o dissenso.
Sugiro o artigo completo, nesta ligação:
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