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Que existem problemas na habitação, não há menor dúvida.
Que as coisas sejam como as pintam é que já tenho mais dúvidas.
Comecemos por Ana Sá Lopes, penso que dos melhores exemplos do jornalismo que trocou os factos pelas emoções.
“Não há nenhuma conversa entre pessoas normais que não seja sobre a impossibilidade de arranjar uma casa a um preço que os salários nacionais possam pagar”.
Penso que por “pessoas normais” Ana Sá Lopes entenda “pessoas como eu”.
Isso, naturalmente, exclui os que precisam de encontrar um lar ou outra solução que possam pagar para resolver o problema dos pais ou avós.
Ou as grávidas que não entendem bem a que urgência se dirigir, se alguma coisa anormal as assustar.
Ou os que precisam de fazer uma PET o mais cedo possível.
Ou os pais dos alunos que não sabem bem com o que podem contar das escolas.
Ou as pessoas que desesperam por uma decisão do tribunal.
Mas mesmo que estejamos apenas a falar de habitação, talvez seja útil saber que em 61,6% dos alojamentos ocupados pelo proprietário não existem encargos com a habitação.
O valor médio da renda mensal, em Portugal, em 2021 (quando foram feitos os censos) era de 334 euros.
A evolução da construção de casas pode ser vista neste gráfico, a que convém juntar a informação de que Portugal, entre 2011 e 2021, perdeu cerca de 200 mil habitantes.
Em 2021, 63.6% dos alojamentos de residência habitual estavam sub-lotados, o que parece apontar para problemas associados ao preço, enquanto indicador para melhoria da eficiência na alocação de recursos: aparentemente, em Portugal, a maioria dos agregados familiares não tem estímulos suficientes para ocupar casas mais pequenas, quando o espaço de que dispõem é excessivo para o uso que dele fazem.
Dos 4 142 581 alojamentos familiares clássicos de residência habitual, 2 900 093 (cerca de 70%) são ocupados pelo proprietário (nos restantes 30% ainda há mais 200 mil ascendentes ou descendentes do proprietário a usar a casa como residência habitual), o que, associado ao indicador do parágrafo anterior, parece apontar para um problema de rigidez que impede os proprietários de venderem uma casa grande de mais para comprar outra mais pequena, provavelmente com aumento de recursos disponíveis.
Dos quase três milhões de alojamentos usados pelo proprietário como residência habitual, menos de 40% (1 112 875) tinham encargos com a sua aquisição, o que imediatamente deixa de fora das angústias das subidas de renda ou de juros quase metade da população do país. Se a este indicador somarmos o facto de que apenas um terço dos que estão a pagar a sua casa habitam nela há menos de dez anos, rapidamente percebemos como se vai estreitando o número dos que ficaram com o coração nas mãos com a recente subida dos juros.
Dos alojamentos arrendados, os escalões de renda estão no gráfico seguinte, sendo notável que, em 2021, ainda 16% dos arrendamentos fossem inferiores a 100 euros por mês.
Resumindo, se os senhores jornalistas se interessassem mais por factos que por emoções, provavelmente conseguíamos discutir soluções mais racionais para a crise da habitação que matar os ricos.
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