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Há esperança na academia

por henrique pereira dos santos, em 03.03.21

Há dias foi a ligeira polémica desencadeada por uma investigação sobre a PIDE, que pôs nervosos os que se consideram donos da investigação sobre a PIDE.

Hoje li este artigo, de Nuno Palma e Jaime Reis, muito interessante, em que se discutem as razões para o sucesso da escolarização durante a primeira fase do Estado Novo, por comparação com o insucesso da primeira República no mesmo tema.

Esta ideia, por exemplo, é muito interessante e, pelo menos a mim, dá-me esperança de que as tentativas de engenharia social através da escola tenham pouca sustentabilidade, a prazo:

"The Estado Novo's ideology was undoubtedly more closely aligned with the culture of the population than had been the case under the Republic. Our view is that this led to an increase in culture-driven demand for education under the Estado Novo. The Republic had strongly promoted secularization and other values looked at with suspicion by the masses, while the Estado Novo was seen as a pro- catholic regime. This allowed parents to worry less about the perceived indoctrination effects of sending their children to school. The main ideologue behind the Republic's educational practices, J. de Barros, wrote that “The Republic liberated the Portuguese child, eliminating the Jesuit influence" (our translation, cited in Marques 1991, p.527). For the republican elites, secularization did not mean only separation of state and church but even the takeover of the church by the state; the state would administer the church while destroying its internal hierarchy (Ramos2001; Ramos et al.2009, pp.586-7). Throughout the country, priest stook the opportunity to communicate their anger in their parishes. The Republic banned crucifixes from the walls of the school, while the Estado Novo put them back, along with the slogan “God, Fatherland, Family: The Trilogy of National Education"(Rosas1992)".

Aparentemente, nem mesmo nas ciências sociais se conseguiu capturar toda a academia para as campanhas das identidades politicamente correctas, e ainda há em quem gaste o seu tempo simplesmente a estudar e a dizer o que viu pelo caminho.


18 comentários

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De SAP3i a 04.03.2021 às 08:54

O problema é simultaneamente epistemológico e axiológico: a crença de que a Verdade é uma Ideologia. Paradoxalmente no século de Heisenberg e Gödel.
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De SAP3i a 04.03.2021 às 09:06

A história repete-se. Assisti, ao vivo, a essa luta pela supremacia da ideologia do Relativismo Cultural na academia.
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De SAP3i a 04.03.2021 às 09:08

Num 1.º momento, após Abril74, entre V. Magalhães Godinho e J. Mattoso (ambos de Esquerda)
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De SAP3i a 04.03.2021 às 09:10

E depois, como F.Rosas e o BE a impuseram nos curriculae da FCSH/NOVA.
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De balio a 04.03.2021 às 10:01

Asneiras. Isto não tem nada a ver com a ideologia nem com a forma autocrática/democrática do Estado. Tem simplesmente a ver com o natural progresso social. Em todos os países e lugares do mundo, houve e há uma progressão da escolarização, independentemente dos regimes políticos.
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De Tiro ao Alvo a 04.03.2021 às 11:39

Prontos! Está dito!
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De balio a 04.03.2021 às 12:09


Exato.
Até na Arábia Saudita há mais mulheres que homens a estudar nas universidades.
Até no Afeganistão praticamente todas as crianças (incluindo meninas) fazem a escola primária.
É o progresso social, que ocorre e ocorreu em todos os lugares do mundo, em larga medida independentemente do regime político, da religião, etc.
Dizer que em Portugal a escolarização progrediu no Estado Novo porque o povo se sentia mais identificado com o regime político do que sob a Primeira República é um perfeito disparate. A escolarização progrediu porque a sociedade estava para aí orientada e porque tinha mesmo que progredir.
Só mesmo historiadores de direita (estilo Rui Ramos) para dizerem parvoíces destas.
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De SAP3i a 04.03.2021 às 12:49

Não. É comparar estatisticamente o que foi feito entre 1928-1974, e entre 1974-2011.
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De balio a 04.03.2021 às 14:36


Acredito, de facto não tenho dúvidas, que o Estado Novo tenha feito muito pela escolarização.
Fê-lo porque isso era uma exigência social daquele tempo.
Com toda a probabilidade, isso teria sido feito de qualquer forma, qualquer que tivesse sido o regime político. Da mesma forma que atualmente todos os países, independentemente dos seus regimes políticos e das preferências religiosas das suas populações, têm praticamente toda a população escolarizada e têm nas universidades uma maioria de mulheres. Pura e simplesmente, isso acontece devido a uma evolução natural da sociedade, e não devido às caraterísticas dos regimes políticos vigentes.
É completamente ridículo afirmar, como fazem os ideólogos disfarçados de historiadores citados neste artigo, que a eduação em Portugal se desenvolveu porque a população se sentia culturalmente identificada com a ideologia política do Estado Novo e por isso deixou de impedir as crianças de irem para a escola ser endoutrinadas. A educação desenvolveu-se porque a população sentia uma crescente necessidade dela e via crescentemente os seus benefícios, independentemente do regime político vigente.
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De henrique pereira dos santos a 04.03.2021 às 15:53

Estudaste o assunto, ou acordaste um dia e sabias isso?
Ao menos leste o artigo para saber que variáveis usaram para separar os efeitos do que estás a dizer dos efeitos das opções políticas?
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De balio a 04.03.2021 às 16:09


(1) Quando leio num artigo "the Estado Novo was seen as a pro-catholic regime. This allowed parents to worry less about the perceived indoctrination effects of sending their children to school", com mais abundantes citações de Rui Ramos, não desejo ler mais. Já vejo qual é a linha política da investigação histórica em questão.



(2) Estudei o assunto. Não este em particular, mas a história da escolarização nos países do mundo. Ela mostra, de forma muito clara, claríssima, que a escolarização progrediu substancialmente em todos os países do mundo (embora em diferentes épocas), em larga medida independentemente da orientação política - ditadura ou democracia, religiosa ou secular, de direita ou de esquerda - dos governos. Os pais enviam as crianças para a escola, não porque gostem da orientação político-cultural do governo - como neste artigo disparatadamente é afirmado - mas porque e quando sentem necessidade e benefício na educação.
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De henrique pereira dos santos a 04.03.2021 às 16:39

Luis,
Que não leste o artigo é uma evidência, a minha pergunta era retórica.
É que o artigo explica longamente os passos dados para as conclusões, incluindo as variáveis usadas para controlo das hipóteses, incluindo logo quase um início um gráfico de evolução da escolaridade em Portugal e Espanha que demonstra haver uma ruptura em Portugal que não aparece em Espanha e que invalida a tua hipótese de que foi um crescimento meramente semelhante ao dos outros países (se assim fosse, Portugal não seria um dos países com menor escolaridade na Europa no fim da primeira república).
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De balio a 05.03.2021 às 09:52


logo quase um início um gráfico de evolução da escolaridade


Um gráfico??? Eu vejo somente quatro pontos!


que demonstra haver uma ruptura


Não demonstra nada. Mostra ter havido um período de 15 anos durante o qual houve um crescimento mais acentuado do que anteriormente a esse período e do que posteriormente a esse período. Sendo que não se sabe se esse crescimento se verificou no princípio, meio ou fim desse período de 15 anos, ou na totalidade dele. Somente com quatro pontos, pouco se pode afirmar.
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De Tiro ao Alvo a 04.03.2021 às 16:16

Até parece que o Henrique não conhece o balio. Ah! ah! ah!
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De SAP3i a 04.03.2021 às 21:40

Portanto, no seu argumento, o Abrilismo nada acrescentou ao Estado Novo.
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De balio a 05.03.2021 às 11:31


o Abrilismo nada acrescentou ao Estado Novo


Não acrescentou grande coisa, em matéria de educação básica. O analfabetismo prosseguiu a sua trajetória descendente. Atualmente está praticamente eliminado, tal como estaria se o Estado Novo não tivesse sido derrubado.
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De SAP3i a 05.03.2021 às 15:32

Estou de acordo. Basta constactar a situação de Portugal em 1926.
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De Anónimo a 05.03.2021 às 20:19

HPS, deixei de ter esperança depois de ter lido um excelente texto, um alerta, deixado pelo Carlos M. Fernandes sobre o darwinismo ideológico. Só podem  progredir/evoluir os "puros" que, segundo a "selecção natural" concebida pelos neomarxistas, são aqueles mais capazes de se "adaptar" para "evoluir", se pretenderem sobreviver aos cancelamentos. Vergar-se às exigências e à censura dos novos "Torquemadas", eis a proclamação da anulação do indivíduo. 
Teorias perigosas  e amorais. É assustador!

"Os vigilantes da correcção política e instigadores dos «cancelamentos» são os eugenistas da mente, os racistas das ideias".

Daqui:
https://observador.pt/opiniao/evolucao-e-eugenia-das-ideias/


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