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As democracias caracterizam-se por darem mais importância aos processos que aos resultados: se a eleição é justa, o que se avalia pela forma como decorre, é irrelevante quem ganha e daqui a algum tempo o processo repete-se, criando novas oportunidades para ir mudando os governos, sem efusão de sangue.
Por definição, nenhum eleitor acha que o que é dito pelos candidatos em campanha eleitoral é um contrato blindado, todos os eleitores sabem que uma eleição é uma mera transferência de poder do eleitor para o eleito, poder esse que é devolvido ao eleitor no momento da eleição seguinte, eleição essa em que o eleitor volta a delegar em alguém o seu poder.
Se Miguel Albuquerque afirma, em campanha, que se vai embora se não tiver maioria absoluta e depois da eleição diz que estava a falar de um governo de maioria absoluta, o eleitor pode ficar irritado, mas aceita com relativa facilidade que o desfasamento entre o que foi dito em campanha e a realidade do dia seguinte, está dentro dos largos limites que caracterizam a necessária imprecisão da linguagem sobre o futuro que é usada em campanha.
O problema está quando o eleitor fica com a impressão de que o que foi dito em campanha foi manifestamente enganador, no sentido em que o eleito fez todos os esforços para que o eleitor pensasse que o eleito ia fazer uma coisa, quando o eleito já sabia, ou pelo menos admitia, que faria outra.
É manifestamente o caso de António Costa em 2015, em que em campanha jamais admitiu que estava disposto a fazer um governo com o apoio do PC e do BE, sabendo que essa possibilidade era considera impossível pelos eleitores, ou o caso de Pedro Sanchez que jamais admitiu que iria negociar com os independentistas da Catalunha nos termos em que o está a fazer.
Neste caso os eleitos, na verdade, estão simplesmente a aldrabar o eleitor para captar o poder que ele delega, para fazer coisas que o eleitor não está a pensar que ele vá fazer.
Ao proceder assim (lá está, o que conta são os processos), estes candidatos estão a dissolver o contrato que serve de base à eleição: eu delego o meu poder, mas tu mais ou menos exerces esse poder dentro dos limites largos em que sabes que te estou a delegar poderes.
A eleição passa a ser uma mera de escolha de pessoas que se sentem legitimadas a usar o poder discricionariamente, ou seja, os eleitores sentem que o seu voto é desvalorizado, crescendo a sensação de que as democracias não funcionam bem, só servem para escolher pessoas que consideram não ter obrigações para com os seus eleitores.
Este sentimento é uma das mais fecundas fontes de populismo, e não há nada de estranho na evidente aliança entre PS e Chega no reforço da ideia de que o que é preciso é escolher as pessoas certas, independentemente do desfasamento entre o que fazem e o que disseram que iam fazer.
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Boa tarde, Henrique P. SantosTem a certeza que o p...
A ideia de que as decisões do Estado são imunes à ...
Parece é que poucos estão preparados para discutir...
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