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Geringonças e populismo

por henrique pereira dos santos, em 25.09.23

As democracias caracterizam-se por darem mais importância aos processos que aos resultados: se a eleição é justa, o que se avalia pela forma como decorre, é irrelevante quem ganha e daqui a algum tempo o processo repete-se, criando novas oportunidades para ir mudando os governos, sem efusão de sangue.

Por definição, nenhum eleitor acha que o que é dito pelos candidatos em campanha eleitoral é um contrato blindado, todos os eleitores sabem que uma eleição é uma mera transferência de poder do eleitor para o eleito, poder esse que é devolvido ao eleitor no momento da eleição seguinte, eleição essa em que o eleitor volta a delegar em alguém o seu poder.

Se Miguel Albuquerque afirma, em campanha, que se vai embora se não tiver maioria absoluta e depois da eleição diz que estava a falar de um governo de maioria absoluta, o eleitor pode ficar irritado, mas aceita com relativa facilidade que o desfasamento entre o que foi dito em campanha e a realidade do dia seguinte, está dentro dos largos limites que caracterizam a necessária imprecisão da linguagem sobre o futuro que é usada em campanha.

O problema está quando o eleitor fica com a impressão de que o que foi dito em campanha foi manifestamente enganador, no sentido em que o eleito fez todos os esforços para que o eleitor pensasse que o eleito ia fazer uma coisa, quando o eleito já sabia, ou pelo menos admitia, que faria outra.

É manifestamente o caso de António Costa em 2015, em que em campanha jamais admitiu que estava disposto a fazer um governo com o apoio do PC e do BE, sabendo que essa possibilidade era considera impossível pelos eleitores, ou o caso de Pedro Sanchez que jamais admitiu que iria negociar com os independentistas da Catalunha nos termos em que o está a fazer.

Neste caso os eleitos, na verdade, estão simplesmente a aldrabar o eleitor para captar o poder que ele delega, para fazer coisas que o eleitor não está a pensar que ele vá fazer.

Ao proceder assim (lá está, o que conta são os processos), estes candidatos estão a dissolver o contrato que serve de base à eleição: eu delego o meu poder, mas tu mais ou menos exerces esse poder dentro dos limites largos em que sabes que te estou a delegar poderes.

A eleição passa a ser uma mera de escolha de pessoas que se sentem legitimadas a usar o poder discricionariamente, ou seja, os eleitores sentem que o seu voto é desvalorizado, crescendo a sensação de que as democracias não funcionam bem, só servem para escolher pessoas que consideram não ter obrigações para com os seus eleitores.

Este sentimento é uma das mais fecundas fontes de populismo, e não há nada de estranho na evidente aliança entre PS e Chega no reforço da ideia de que o que é preciso é escolher as pessoas certas, independentemente do desfasamento entre o que fazem e o que disseram que iam fazer.


29 comentários

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De balio a 25.09.2023 às 11:26


É manifestamente o caso de António Costa em 2015, em que em campanha jamais admitiu que estava disposto a fazer um governo com o apoio do PC e do BE



Não é o caso.


António Costa em campanha jamais admitiu que faria, mas, que eu me recorde, jamais afirmou taxativamente que não iria fazer.


Ou seja, ele não disse que iria negociar com o PCP e o BE, mas também nunca disse claramente que não o iria fazer.


Eu, pelo contrário, em 2011 senti-me bastante enganado pelas afirmações de Pedro Passos Coelho, que deram claramente a entender que não iria seguir um caminho de austeridade.


Mas talvez tenha sido eu quem entendeu mal, tanto Passos Coelho como António Costa.
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De henrique pereira dos santos a 25.09.2023 às 11:42

Resumindo, estás a reafirmar o que escrevi no post e, ao mesmo tempo, a dizer que apesar de haver um memorando com a troica achaste que o governo saído das eleições de 2011 não iria ser um governo de austeridade.
A primeira afirmação é redundante e inútil, a segunda é uma tremenda burrice.
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De balio a 25.09.2023 às 11:48


Não, não estou a reafirmar.


O que o Henrique escreveu no post foi que "o eleito [António Costa] fez todos os esforços para que o eleitor pensasse que [ele] ia fazer uma coisa".


Ora, António Costa não fez todos os esforços para que o eleitor pensasse que ele não se iria coligar com o PCP e o BE.


Eu não achei que o goveno a sair das eleições de 2011 não iria ser de austeridade. O que estou é a afirmar que Pedro Passos Coelho disse, em campanha, que o seu eventual governo não seria de austeridade. Ou seja, esteve a tentar a enganar os eleitores.
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De henrique pereira dos santos a 25.09.2023 às 11:58

Fez todos os esforços sim, e com êxito, visto que ninguém sabia que era essa a sua intenção (nem na noite eleitoral, sequer, isso apareceu como um cenário), ao ponto de ter andado a fazer reuniões com a PAF a fingir que dependeria do programa que a PAF apresentasse o PS abster-se ou não na votação do programa do governo.
Quanto à segunda parte, se tivesses acreditado que Passos Coelho disse que não iria ter um governo de austeridade, seria burrice mesmo, mas como ele nunca disse isso, é mentira.
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De Francisco Almeida a 26.09.2023 às 11:30

Responder ao Balio é cansativo. Mas quero acrescentar que se é factualmente verdade que António Costa nunca disse que não faria coligações com o PCP e e o BE, também é factualmente verdade que, vários candidatos PS em campanha incluindo António Costa atacaram ambos os partidos e, em alguns casos, com violência de linguagem. E isso foi o que passou para o eleitorado.
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De Anonimo a 25.09.2023 às 13:32


Passos Coelho ou "mentiu", ou foi confrontado com outro cenário após ter sido eleito. Um dos dois.
Quanto ao Costa, verdade, não disse que faria coligação, mas também não disse que não faria. Quem nada diz, nunca mente.

Voltando à Geringonça, pessoalmente nada tenho contra a dita (embora tenha apreciado as piruetas de quem escolhia Governos e PM- o Santana por exemplo, não tinha legitimidade - e passou a escolher deputados e maiorias parlamentares), mas pelo menos admito, e gostaria que a "verdadeira" esquerda o fizesse, que aquilo é uma jogada política com zero, repito, ZERO de ligação à vontade popular. Aquelas tretas argumentativas de que o povo deu maioria à esquerda, logo era uma coligação legítima, é uma valente tanga. Quando voto PS (salvo seja), estou a votar PS, não estou a votar PS para se juntar ao PCP. O nosso voto dá um mandato para um determinado prtido, a aprtir daí, manobrar como ele acha melhor, independentemente da nossa vontade.
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De henrique pereira dos santos a 25.09.2023 às 14:26

Toda a gente sabia (menos o Luís Lavoura, pelos vistos), que o governo que saísse das eleições de 2011 teria de aplicar o programa que o PS negociou com a troica e Passos Coelho sempre disse que o faria, portanto não percebo essa conversa de que mentiu.
Ou melhor, percebo quando depois leio que "Quem nada diz, nunca mente" a típica aldrabice usada por Costa: omitir ou dizer meias verdades são formas de mentir como outra qualquer.
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De Anónimo a 26.09.2023 às 07:45

Ó Balio, deixe-se de tretas! Pensa que engana quem?! Se perdeu a memória, é melhor revisitar as semanas em que dr.Costa cantava vitórias (garantidas) e depois o dia fatídico em que o mesmo dr.Costa sofreu o seu  maior vexame político. Todos temos presente o seu ar enfiado na célebre noite em que foi humilhado numa derrota eleitoral. Se ele tinha alguma na manga escondida?  Pelos vistos tinha, mas ninguém sabia... Agiu, pois, com premeditação, com "reserva mental" ao omitir aos portugueses os seus planos. (São sempre pouco claras as suas actuações). 


O que é certo é que os portugueses, até à data, estavam plenamente convictos de que quem ganha, governa! Na mente do país esse era um princípio inquestionável e inviolável. Por isso afirmo com uma certeza absoluta que nessa noite (e nos dias seguintes) nenhum eleitor  supunha que António Costa andava a conspirar na sombra o derrube do governo eleito, com esses 3 parceiros. Todos eles omitiram aos eleitores o que andavam a engendrar. E não é difícil adivinhar porque é que o ardiloso o escondeu ao país, pois não?


 E assim nasceu _ não uma estrela_  mas um "habilidoso" que é a designação eufemística para um oportunista cuja ambição desmesurada, o leva a jogar "o vale tudo" desde que os embustes o levem onde quer, como quer e com quem quer. Usa e descarta conforme precisa para os seus "lances".
 
Imaginamos que tenha sido um acordo bastante difícil, uma vez que esses partidos não morriam de amores uns pelos outros e _lembramo-nos bem_  o PC e o BE recusavam reuniões simultâneas e encontros conjuntos. Mas o que é que um habilidoso não consegue?!?  Nada havia em comum entre eles _ não por acaso ter-se arranjado o nome "geringonça" para uma maquineta que junta estas peças e força-as a "encaixarem-se"  umas nas outras. Mas diga-se em abono da verdade que havia um cimento que os colava muito bem: não engoliam  a direita ter ganho as eleições. Isso era uma inadmissível usurpação de poder. O poder  é um desígnio "natural" da esquerda. De facto é um poder "tão natural como a sua sede!"
Isto tudo Balio, para lhe recordar que tudo quanto sucedeu posteriormente foi um arranjo inédito, uma "estreia" que apanhou toda a gente de surpresa  e o país inteiro de queixo caído, estupefacto... 
Em suma, para  lhe lembrar que esta gente não disse aos eleitores ao que vinha,  não clarificou previamente o país e,  como diz o HPS, «ao proceder assim (lá está, o que conta são os processos), estes candidatos estão a dissolver o contrato que serve de base à eleição» e que  «a eleição passa a ser uma mera escolha de pessoas que se sentem legitimadas a usar o poder discricionariamente, ou seja, os eleitores sentem que o seu voto é desvalorizado, crescendo a sensação de que as democracias não funcionam bem»


É esta malta que vem exigir (são de topete!) ao maior partido da oposição uma clarificação sobre as coligações que tencionam ou não fazer!!! E até lhes traça as linhas vermelhas! Que anedota...
Eu, no lugar da oposição sabia como lhes responder (sei onde lhes dói): Sim, temos linhas vermelhas. Há pessoas com quem nunca faremos entendimentos nem negociaremos nenhuma estratégia de fundo para o país. Essas pessoas são as que estiveram ao lado de José Sócrates e com ele governaram. Essas são as nossas linhas vermelhas! 
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De Anónimo a 26.09.2023 às 08:56

Faltou acrescentar que não está só no jogo do "vale tudo". Tem parceiro (ou discípulo?) de igual calibre, do mais viperino deserto moral: Pedro Sanchez.  São eles os obreiros desta infame decadência ética e cívica .
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De Anónimo a 26.09.2023 às 09:30

Se o outro conseguir formar governo (mas ainda vai correr muita água debaixo da ponte) o dr.Costa lá irá ligar a dizer: «Porreiro, pá!»

"Aves da mesma pena voam no mesmo bando".
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De urinator a 25.09.2023 às 14:33

há vários tipos de democracia. a que suportamos com impostos, dita burguesa e representativa, nada tem que a qualifique como tal quando a abstenção é o partido mais votado. o ps tem maioria absoluta com o voto de menos de 1/4 dos eleitores. sabendo que se vai ser aldrabado não compensa desperdiçar tempo a deitar a papeleta na urna. 
resultado até ver:
indigentes, sem abrigo, filas para a saúde e sopa dos pobres 
3-bancarrotas-3
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De O apartidário a 26.09.2023 às 10:42

Diz-se por aí que em Belém a sopa dos pobres dá "bilhete" para os gelados santinhos. 
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De lucklucky a 25.09.2023 às 14:37

Continua a conversa do "populismo". 
Como sempre é conversa de quem se julga da elite, traduzindo quer dizer se o elitista concorda com o povo num determinado argumento, esse argumento é democrático, se não concorda com o povo num determinado argumento para que o povo é atraído então é populismo.


Isto quando o  Regime é Populista por definição, afinal há alguma coisa mais populista que o Socialismo.
O valor da dívida e os escalões de IRS são uma das muitas coisas que estão aí para o demonstrar.
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De jo a 25.09.2023 às 16:08

Tomemos por hipótese que Costa não fazia a geringoça: Ou fazia um governo de coligação com Passos Coelho, ou deixava Passos governar sózinho e aprovavava ou abestinha-se em todas as votações sobre medidas do governo.
Nesse caso não se poderia dizer que Costa teria traído os eleitores que votaram nele por não quererem Passos?
Para haver uma coligação PS-PàF seria necessário fazer concessões de parte a parte. Nesse caso não seriam os eleitores de Passos e os eleitores de Costa traídos?
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De henrique pereira dos santos a 25.09.2023 às 16:35

A possibilidade de os partidos que perdem as eleições não governarem e deixarem governar é uma das regras fundamentais do modelo parlamentar que temos.
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De balio a 25.09.2023 às 16:58


A possibilidade de os partidos que perdem as eleições deixarem governar é uma das regras fundamentais do modelo parlamentar


Creio que só o Henrique é que inventou essa regra: ela não se encontra em nenhuma constituição. Nem, aliás, o conceito de "partidos que perdem as eleições" tem qualquer fundamento constitucional. Na constituição não está o conceiro de "partido que perde a eleição" nem o de "partido que ganha a eleição". As eleições não são um jogo de futebol, em que um ganha e outro perde; as eleições são uma competição em que muitos ganham alguns votos e elegem alguns deputados.

O que dizem as regras constitucionais é que o programa de Governo tem que ser aprovado por uma maioria dos deputados. Nada se diz sobre esses deputados (os que aprovam o programa de Governo) serem de quaisquer partidos, muito menos de esses partidos terem "ganhado" ou "perdido" a eleição em que esses deputados foram eleitos.
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De henrique pereira dos santos a 25.09.2023 às 17:52

Luís, obrigado pela demonstração prática do que estou a dizer: não existem regras não escritas, tudo o que não tiver explicitamente na lei não existe.
Foi assim que as democracias parlamentares do fim do século XIX e princípio do século XX foram perdendo o apoio social, envoltas em acusações de corrupção.
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De jo a 25.09.2023 às 17:14

Penso melhor de Passos Coelho do que o Henrique.
Vejamos, as eleições legislativas têm por objetivo único escolher o governo para os anos seguintes. Se Passos ganhou, então tinha condições para formar um governo viável. 
Se tinha condições e não formou, não tendo havido nada ilegal que o impedisse, então é completamente inábil e não serve para primeiro ministro. Quem ganha e não consegue recolher o prémio deve ser um bocadinho limitado.
Ou então pensemos que, ao não ter conseguido juntar o número de deputados suficientes para viabilizar o governo, Passos perdeu as eleições. O que não tem diretamente a ver com a sua inteligência, acontece a todos os que concorrem, uma vez ou outra.
Mas vejo que a sua opnião é que o Passos Coelho é um morcão que nem quando ganha consegue governar.
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De Anonimo a 25.09.2023 às 18:27

Passos não tinha condições de formar um governo de maioria. Podia governar... mas sempre refém do PS e com moções de censura por cimz da cabeça. 
Não juntou deputados suficientes. Pois, nem o PS...
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De Anónimo a 25.09.2023 às 21:43


A modos que é fácil de compreender o baldio (um antónio costa dos pequeninos). O baldio não é carne nem é peixe - é socialista!
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De Anónimo a 26.09.2023 às 11:14

" Nada se diz sobre esses deputados (os que aprovam o programa de Governo) serem de quaisquer partidos, muito menos de esses partidos terem "ganhado" ou "perdido" a eleição em que esses deputados foram eleitos."



Bem... as coisas são muito claras e há regras em democracia. A ser assim como descreve, tudo parece tão pouco claro, tão fluído, tão volátil e sem regras... que seria muito perigoso.
Mas é precisamente essa indefinição que se instalou nos eleitores que os afasta. e os leva à abstenção. Desde 2015 deixaram de ter a certeza de que o seu voto conta  e será valorizado ou se, pelo contrário; será descartado, deitado ao lixo para não ser usado  conforme as conveniências de alguém.
 
Sejamos claros: num acto eleitoral, as pessoas quando se dirigem às urnas e depositam o seu voto, fazem a sua escolha num determinado programa partidário e no seu líder. Ora, naturalmente  isto significa que estão a rejeitar e a excluir todos os outros programas partidários e os respectivos líderes.  E mais: desejam e torcem para que o seu voto se some ao maior número possível de votos como o seu  e têm esperança de que sejam também a primeira escolha do maior número possível dos eleitores. É ou não é assim?


É preciso dizer mais? Isso foi gorado e impedido em 2015 e os eleitores sentiram-se defraudados.  A geringonça  foi a soma dos partidos menos escolhidos, i.e.,  rejeitados pelos portugueses nas urnas. Foi, pois, uma soma de votos negativos. Portanto, para muitos a geringonça continua a ter uma legitimidade duvidosa.  E com isso instituíram uma prática perigosa, porque pode correr-se o risco de captura do poder e "mexicanização" do regime, eternizando-se o mesmo partido no poder, sem a saudável alternância democrática. 
 
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De anónimo a 25.09.2023 às 23:47


"...Ao proceder assim (lá está, o que conta são os processos), estes candidatos estão a dissolver o contrato que serve de base à eleição...".

 

Exacto HPdS, só que o termo a utilizar nestas análises -com o devido respeito e para ser mais preciso- terá que ser "partido(s) no poder". O vencedor nas eleições ... ou não.  

Em Portugal vota-se, infelizmente, num partido, como muito bem sabemos. Quem falha nos acordos eleitorais são o(s) partido(s) no poder. Caricato, como bem menciona, é vencidos assumir constitucionalmetente o poder!.

Mas há solução e é simples.

Quando o eleitorado português poder votar, votar a sério, escolhendo uninominalmente um candidato na lista de candidatos no seu círculo eleitoral a abstenção certamente que diminuirá. Voto uninominal.

Se um cidadão/candidato a deputado for o vencedor e tiver anteriormente feito um qualquer acordo com um partido, ou não, isso é outra questão e é pessoal. Que se levanta, ou não, em momento de voto é alguém responsabilizável.

Claro que os partidos abominam semelhante alteração ao sistema eleitoral pois querem ser eles os detentores do todo o poder político, escolhendo eles os seus deputados. Os deputados em Portugal podem ser pessoas brilhantes e tudo mais, mas são deputados dos partidos e assim se têm comportado, com raras e honrosas exepções.

"Estabilidade" bovina não enobrece, pior, nem resulta.

Tem que ser o cidadão eleitor a escolher, uninominalmente, entre os candidatos a deputado e na lista de candidatos.

Os vencedores sabem que como Deputados terão que ser fieis ao prometido em campanha eleitoral sob pena de nunca mais serem eleitos.

Este (justo e necessário) controle do eleitor em relação ao eleito é impossível num sistema com votos em partidos, como o actual. Votar em "partidos" não é nada politicamente saudável para o País, como se constata, vai para meio século.

O voto uninominal está previsto na Constituição.
Já é tempo de ver um Presidente da República em Portugal, ou uma maioria parlamentar de Deputados na AR, a pensar como realmente preferem ser vistos hoje e na História do seu País. Apenas uma decisão pessoal, claro.
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De Anónimo a 26.09.2023 às 12:50

As pessoas que vivem no litoral, em geral não se defrontam com alguns problemas que existem no resto do país:  esquecem-se que em actos eleitorais, nas legislativas, há mais de 700 milhões de votos  que são desperdiçados e simplesmente nem sequer entram na contabilidade da contagem de votos.  Tal acontece, porque esses eleitores vivem em regiões do interior, pouco populosas. A contagem de votos segundo o método de hondt, penaliza os eleitores de partidos menores, pois não têm qualquer hipótese de se fazer ouvir e representar. Os votos não chegam para fazer a diferença. Devia ser mudada a regra. É injusta e pouco democrática. Muitos votos da região interior que são rejeitados por esse método, se fossem somados fariam a diferença ao nível dos resultados nacionais. 700 milhóes é muita coisa!
Só vejo uma solução para esses votos contarem e irem todos parar ao saco: Os partidos em vez de se dispersarem, aglutinam-se a um grande partido da sua área  e concorrem às eleições em conjunto. Assim, nenhum voto será desperdiçado e todos passam a ter o mesmo peso. É a única
 solução: uma coligação.
Nas eleições presidenciais não corre esse risco, cada voto é contabilizado  no final, a nível nacional. É assim que deve ser!
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De anónimo a 26.09.2023 às 15:08


Sim, "injusta e pouco democrática", nada que preocupe os tão democratas donos de esta "democracia", claro.

Uma outra solução -em vigor nos EUA devido à heterogénea demografia entre Estados- é uma segunda Câmara que espelha o poder político devido às regiões (Estados) com menor número de eleitores. De notar que a aprovação de legislação importante (Orçamento "Nacional", dito Federal) terá que passar por ambas as Câmaras.

Já existiu em Portugal um esboço de esse desenho Constitucional. Imagine-se, em Portugal, uma segunda Câmara, Regional, a fiscalizar para decidir aprovação dos Orçamentos de Estado do Governo/AR minados de centralismos. como menciona. 
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De Anónimo a 26.09.2023 às 12:59

Corrijo: 700 Mil votos  (E não 700 milhões como escrevi por lapso) 
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De Anónimo a 26.09.2023 às 20:18

« uma segunda Câmara, Regional, a fiscalizar para decidir aprovação dos Orçamentos de Estado do Governo/AR minados de centralismos. como menciona» 
Bem dito! Era a forma de pôr os governantes em sentido! E de pôr essa gente a olhar com mais atenção para o interior despovoado e esquecido. Talvez se corrigissem algumas assimetrias escandalosas do país.
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De Carlos Sousa a 26.09.2023 às 10:30

"Se Miguel Albuquerque afirma, em campanha, que se vai embora se não tiver maioria absoluta e depois da eleição diz que estava a falar de um governo de maioria absoluta, o eleitor pode ficar irritado, mas aceita com relativa facilidade que o desfasamento entre o que foi dito em campanha e a realidade do dia seguinte, está dentro dos largos limites que caracterizam a necessária imprecisão da linguagem sobre o futuro que é usada em campanha."
Mas qual eleitor? Só se for um eleitor totó. 
Desde quando é que um político, que diz à boca cheia que se demite se não tiver a maioria absoluta fica com credibilidade senão cumprir aquilo que diz?
Falta-lhe um voto para a maioria absoluta mas se lhe faltassem três lá ia o acordo com o Chega para a frente.
Não há dúvida que o efeito de halo é terrível, e então quando há cegueira partidária até conseguimos encontrar imprecisões de linguagem nos aldrabões. 
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De Hugo Filipe a 26.09.2023 às 14:45

Aliança entre PS e Chega, chega a ser insultuoso. Já iremos chegar à conclusão que quem perdeu as eleições foi o Chega. Antigamente havia sempre um que ganhava, agora parece existir um que perde sempre. Voltando à aliança, pode desenvolver um pouco sobre o que a torna tão evidente? Um abraço.
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De balio a 27.09.2023 às 15:43


Pedro Sanchez jamais admitiu que iria negociar com os independentistas da Catalunha nos termos em que o está a fazer


Era evidente, para qualquer eleitor espanhol minimamente informado, que Pedro Sánchez (1) queria formar governo sem se associar ao PP, (2) teria que negociar com os independentistas catalães para formar tal governo, porque não haveria outra forma de obter maioria, e (3) essa negociação teria que ser feita nos atuais termos, porque somente nesses termos os independentistas catalães aceitariam negociar.


Logo, nenhum eleitor espanhol se pode queixar de ter sido enganado ou de Sánchez o ter tentado enganar.


Desde sempre que os independentistas catalães tornaram claro que queriam que fossem eliminados os processos judiciais contra eles, e desde sempre Pedro Sánchez se recusou a dizer que não negociaria com eles.


Ninguém em Espanha se pode queixar de ter sido enganado. Se não queriam isto, tivessem votado no Vox ou no PP.

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