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Quando entrei na Faculdade de Direito, na Universidade Clássica de Lisboa, não vivi nem ouvi falar de praxes, nem sequer da memória delas. Vivi e ouvi falar, sim, de uma nova e emocionante fase de vida.
Os bons professores dos bons liceus costumavam, aliás, advertir os finalistas sobre os benefícios e riscos desse novo passo que iam dar. Estávamos habituados, no liceu, a ser acompanhados, guiados, repreendidos, incentivados e ajudados. Ora, tudo isso acabava com a entrada na Faculdade. A Faculdade era a admissão à vida adulta. Era o fim do pastoreio. Na Faculdade cada um trabalhava conforme o seu juízo, ambição, objectivo e capacidade. Na Faculdade o elemento do rebanho ascendia a indivíduo. Era uma transição cheia de responsabilidade e orgulho.
Parece, agora, que alguns promovem as praxes como confirmação de pertença. Omitem sempre que, a haver acesso a uma pertença, se trata de pertença à manada.
Parece, agora, que há quem defenda as praxes como exercício de solidariedade. Distorcem grosseiramente as noções, e calam sempre que o exercício convida antes ao conformismo e promove a obediência como valor absoluto.
Havia, quando entrei na Faculdade, um outro excelente exercício para quem professa os valores do colectivo e da uniformidade: era o serviço militar obrigatório. Aprendia-se a marcar passo, a seguir sem pestanejar as ordens, a cultivar o espírito de corpo, e, no fim, até havia uma guerra capaz de satisfazer os que gostam de formas de comunhão mais violentas.
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