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O governo (deveria escrever o Governo, talvez, porque é este e os outros) podem ter os mais diversos especialistas como conselheiros, que todos concordarão numa coisa: numa doença infecciosa respiratória, há uma subida da incidência, um pico ou planalto e uma descida.
Isto é certo como os impostos.
O problema central dos governos que têm medo de ser claros sobre o que é um surto epidémico, admitindo logo à partida que não há surtos de doenças altamente infecciosas, potencialmente fatais, sem mortes e hospitalizações, é gerir a expectativa de eleitorados que acreditam piamente que tudo o que acontece no mundo é controlado por nós - "e se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o mundo é uma criança", acrescentou José Mário Branco ao soneto "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".
Reconhecendo isto, António Costa não se engana no que é a sua prioridade: chegar politicamente vivo ao fim das fases mais dramáticas da epidemia.
Como adoptar medidas radicais de confinamento liquida a base económica do país e da legislatura, a opção estratégica passa a ser bastante mais simples.
O fundamental é tomar medidas que, ao mesmo tempo, sejam simbolicamente fortes e práticamente irrelevantes para a economia. Terem ou não algum interesse para a gestão da epidemia passa a ser uma questão secundária: se possível, que sejam positivas para a gestão da epidemia, claro, mas se não for possível, paciência, os placebos servem perfeitamente para gerir a confiança e criar escapes para o medo.
O que levanta o problema da gestão do peso simbólico no tempo: se disparo um canhão agora, fico sem essa possibilidade no futuro.
António Costa tem sido bastante competente na gestão deste equilíbrio político frágil.
Primeiro toda a gente fala em três mil casos nos dias seguintes, preparando medidas muito visíveis, como a imposição de máscaras ou a proibição de circulação entre concelhos, qualquer das duas com tantas excepções que passam a meras "recomendações agravadas".
Depois os casos são mais de quatro mil, marca-se um conselho de ministros extraordinário para falar de medidas futuras e tomar algumas medidas imediatas com as mesmas características das anteriores (como o recolher obrigatório, por exemplo).
Começa a falar-se de um confinamento mais alargado no princípio de Dezembro, o que dependerá de como estará o nível de contágios, hospitalizações e mortes nos dias anteriores.
E o Natal vai servir de fusível: se o pico, ou planalto ainda não for evidente e o medo tiver crescido o suficiente, tomam-se medidas muito radicais (com excepções, claro), mas se o pico ou o planalto for suficientemente convincente (como é possível, nessa altura terão passado três meses desde o começo da subida acentuada de casos e dois meses da subida de mortes), pode anunciar-se que o êxito das políticas de contenção permitem um Natal mais distendido, salvando o ano comercial de muitas empresas e diminuindo a pressão social.
Desengane-se quem queira ler as medidas à luz da sua consistência com a ideia de que é preciso fechar tudo e o mais rapidamente possível para evitar males maiores: António Costa já não acredita nisso e está apenas a executar a política defendida na declaração de Great Barrington, sem o dizer a ninguém.
Podia ser pior, António Costa podia mesmo acreditar nos falcões do fecha tudo e já, e agir em conformidade, em vez de estar, como está, meramente a ganhar tempo sem ser responsabilizado pelo que suceda, responsabilidade que, em qualquer caso, já endossou aos cidadãos mal-comportados.
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