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Ganhar tempo

por henrique pereira dos santos, em 31.10.20

O governo (deveria escrever o Governo, talvez, porque é este e os outros) podem ter os mais diversos especialistas como conselheiros, que todos concordarão numa coisa: numa doença infecciosa respiratória, há uma subida da incidência, um pico ou planalto e uma descida.

Isto é certo como os impostos.

O problema central dos governos que têm medo de ser claros sobre o que é um surto epidémico, admitindo logo à partida que não há surtos de doenças altamente infecciosas, potencialmente fatais, sem mortes e hospitalizações, é gerir a expectativa de eleitorados que acreditam piamente que tudo o que acontece no mundo é controlado por nós - "e se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o mundo é uma criança", acrescentou José Mário Branco ao soneto "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

Reconhecendo isto, António Costa não se engana no que é a sua prioridade: chegar politicamente vivo ao fim das fases mais dramáticas da epidemia.

Como adoptar medidas radicais de confinamento liquida a base económica do país e da legislatura, a opção estratégica passa a ser bastante mais simples.

O fundamental é tomar medidas que, ao mesmo tempo, sejam simbolicamente fortes e práticamente irrelevantes para a economia. Terem ou não algum interesse para a gestão da epidemia passa a ser uma questão secundária: se possível, que sejam positivas para a gestão da epidemia, claro, mas se não for possível, paciência, os placebos servem perfeitamente para gerir a confiança e criar escapes para o medo.

O que levanta o problema da gestão do peso simbólico no tempo: se disparo um canhão agora, fico sem essa possibilidade no futuro.

António Costa tem sido bastante competente na gestão deste equilíbrio político frágil.

Primeiro toda a gente fala em três mil casos nos dias seguintes, preparando medidas muito visíveis, como a imposição de máscaras ou a proibição de circulação entre concelhos, qualquer das duas com tantas excepções que passam a meras "recomendações agravadas".

Depois os casos são mais de quatro mil, marca-se um conselho de ministros extraordinário para falar de medidas futuras e tomar algumas medidas imediatas com as mesmas características das anteriores (como o recolher obrigatório, por exemplo).

Começa a falar-se de um confinamento mais alargado no princípio de Dezembro, o que dependerá de como estará o nível de contágios, hospitalizações e mortes nos dias anteriores.

E o Natal vai servir de fusível: se o pico, ou planalto ainda não for evidente e o medo tiver crescido o suficiente, tomam-se medidas muito radicais (com excepções, claro), mas se o pico ou o planalto for suficientemente convincente (como é possível, nessa altura terão passado três meses desde o começo da subida acentuada de casos e dois meses da subida de mortes), pode anunciar-se que o êxito das políticas de contenção permitem um Natal mais distendido, salvando o ano comercial de muitas empresas e diminuindo a pressão social.

Desengane-se quem queira ler as medidas à luz da sua consistência com a ideia de que é preciso fechar tudo e o mais rapidamente possível para evitar males maiores: António Costa já não acredita nisso e está apenas a executar a política defendida na declaração de Great Barrington, sem o dizer a ninguém.

Podia ser pior, António Costa podia mesmo acreditar nos falcões do fecha tudo e já, e agir em conformidade, em vez de estar, como está, meramente a ganhar tempo sem ser responsabilizado pelo que suceda, responsabilidade que, em qualquer caso, já endossou aos cidadãos mal-comportados.


6 comentários

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De Anónimo a 31.10.2020 às 18:00

Dos seus melhores textos. Muito bem.
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De Anónimo a 31.10.2020 às 22:23


Os testes para detetar este virus têm que ser capazes de registar qualidade e quantidade, em cada caso de infectado.
Qualidade (quando à virulência) do vírus em cada infectado pois o vírus vai perdendo virulência.
Quantidade, o potencial, o estado de exito do vírus, a situação viral em cada caso de infectado, "doente" ou não.
A imunidade do grupo obtem-se porque indivíduos de um grupo contactam outros do mesmo grupo, não intensamente.

Esses outros já "infectados", assintomáticos, com o seu organismo resistindo ao vírus, "infectam" os outros com pequenas quantidades de vírus já com pouca virulância. Por sua vez estes, com sucesso, criam "facilmente" anti-corpos.
Uma caracteristica de este vírus, nos humanos, é provocar uma hiper reação do sistema imunitário, sendo esta a causa do colapso do organismo infectado. Este vírus, artificial, demasiado diferente do usual cria uma reação impar, prejudicial.

Com todo mundo fechado em casa nada disto jamais acontecerá.
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De V.Valente a 01.11.2020 às 01:35

declaração de Great Barrington.... ???  Essa é aquela com milhares de assinaturas médicos... que nao existem ? LOLLOL  Que qualquer ignorante no tema como o HPS pode la ir e assinar como médico ?  ah essa !   Ok

A esta altura do campeonato continuar com essa lenga lenga... começa a sair da paródia e a entrar no criminoso
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De Susana V. a 01.11.2020 às 08:10

Tem toda a razão. É isto.
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De Bic Laranja a 01.11.2020 às 08:55

Mais uma em cheio. Mas é memo.
Cumpts.
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De Anónimo a 02.11.2020 às 00:47


Já pensaram que números "ocorrência de infectados" todos os telejornais apresentariam se ano passado tivessem andado a testar as mesmas populações sobre ocorrência de vírus da gripe comum sazonal?.
Já se percebeu que não se deve confundir a comprovada letalidade de este covid com "ocorrência de infectados".
E a letalidade de este "covid" deve-se também ao facto de na infância e mesmo na juventude, ainda com um pertinente activo sistema imunológico, o nosso organismo não ter sido exposto a este artificial, incomum e invulgarmente extra-sazonal, vírus.

Claro que enquanto não houver vacinas faz todo o sentido seguir atentamente as medidas de precaução actualmente preconizadas pelas autoridades.     

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