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Suspeito, sem ter dado ao assunto muita atenção, que grande parte da divergência das duas candidaturas na Iniciativa Liberal se prende com o difícil equilíbrio entre funcionalização e abertura à sociedade, nos partidos políticos.
Não me meto na discussão de qual será a melhor opção para a Iniciativa Liberal, por um lado porque não sou militante, apesar da minha proximidade ideológica e colaboração, por outro porque conheço Carla Castro e Rui Rocha, não com proximidade, é certo, e gosto dos dois, achando que os dois são boas opções.
Os partidos (e mais ou menos todas as organizações sociais que pretendem ser transversais e chegar a todos) são sempre confrontados com a opção entre a lógica leninista de profissionalização e funcionalização para garantir a eficácia da acção, ou a abertura caótica à sociedade, para garantir criatividade e ligação da acção política ao quotidiano das pessoas concretas.
A candidatura de Rui Rocha parece-me pender para a lógica da eficácia eleitoral através da progressiva funcionalização do partido, a candidatura de Carla Rocha parece-me pender para a manutenção de uma matriz inicial do partido, de procura de pessoas e ideias políticas através de uma ligação mais aberta com a sociedade.
Não tenho muita base para fundamentar isto, mas é uma sensação com que fico.
Quando a Iniciativa Liberal lançou um concurso aberto para seleccionar umas dez pessoas para apoio ao seu grupo parlamentar, eu concorri, cheguei a uma fase de entrevista (acho que tiveram curiosidade em perceber por que raio um velho, com uma carreira profissional completamenta alheia à política, estava a concorrer a um lugar que tipicamente é preenchido por jotinhas e outros desirmanados da política) e até expliquei que estava a fechar a selecção para um lugar de chefe de departamento no sítio onde trabalhava, que eu tinha fortes probabilidades de ganhar (como ganhei, embora depois de ganhar tenha decidido não ocupar o lugar).
Uma das principais razões que me levavam a concorrer era mesmo sentir uma certa funcionalização da acção política da IL, que me parecia prejudicial, e portanto dar-lhes a oportunidade de escolher pessoas que não se reviam nessa lógica de funcionalização, acentuando mesmo que o meu contributo principal seria fazer pontes para terceiros, fora do partido, nas matérias para as quais tenho alguma competência.
Nada me move contra a profissionalização na política, mas políticos profissionais são os que concorrem a lugares políticos, o que jogam o seu futuro na roleta da política, não são os que vão pacientemente tecendo teias de influência na sombra dos partidos, nunca arriscando, para estar no lugar e tempo certo para serem nomeados para uma coisa qualquer que achem vantajosa.
Pode haver, como Mariana Vieira da Silva, pessoas com qualidade - pelo menos nunca ouvi ninguém dizer que não é uma mulher inteligente e trabalhadora - nesse grupo de funcionários que, com o tempo, até podem passar para o grupo dos políticos profissionais, depois de uma vida inteira na bolha social partidária, começando cedo nos gabinetes e afins, e continuando assim até à oportunidade de dar o salto de funcionário partidário para político.
Este é hoje o cenário esmagadoramente dominante no Partido Socialista, e dominante na generalidade dos outros partidos (ou, por exemplo, das associações ambientalistas, que conheço bem).
É inevitável que o mundo de Mariana Vieira da Silva seja o de quem nunca teve os problemas normais da generalidade das pessoas comuns, daquelas que não têm uns pais que pertencem às elites partidárias e sociais, que não têm a facilidade de uma extensa rede de contactos e por aí fora.
O que seria bom que uma pessoa com este percurso de vida fizesse, quando forma um gabinete?
Que tivesse consciência da sua condição e privilégio, que tivesse consciência de que isso condiciona a forma como se olha para as opções de política que tem de fazer, procurando limitar os problemas associados contratando pessoas de outros mundos e outras vidas, para que na diversidade do seu gabinete houvesse capacidade crítica suficiente para avaliar o que se vai fazendo.
Ao escolher quem escolheu, por adequação do perfil à tarefa pretendida - como bem nota Alexandre Homem Cristo, se aquele é o perfil adequado à tarefa, é porque se espera muito pouco da tarefa - Mariana Vieira da Silva demonstra que o contexto em que aplica a sua inteligência e capacidade de trabalho é um contexto miserável, em que a ambição não passa da intendência e mercearia partidária, intermediada pelo Estado, com dinheiro dos contribuintes.
Se dúvidas houvesse, António Costa fez a demonstração, ao escolher para seu secretário de estado adjunto Miguel Alves: o país não passa do cenário em que se movem os actores num palco e as pessoas comuns não passam de espectadores sem direito a intervir na peça que está em execução.
A acção central do governo consiste em arranjar quem pague a peça e o ordenado dos actores, visto que os espectadores têm vindo a perder a vontade de pagar pelo bilhete, tudo o resto, a qualidade da peça, a vida dos espectadores e esses pormenores não passam disso mesmo: pormenores.
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