Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Fogos

por henrique pereira dos santos, em 29.05.25

Basta aumentar um bocadinho a temperatura, e lá vem a conversa dos riscos, dos fogos, das limpezas e, já agora, dos interesses obscuros à roda dos fogos.

Por partes.

Aumentar a temperatura, por si, aumenta pouco o risco de incêndio (quando eu escrevo risco de incêndio não estou a falar de haver mais ou menos fogos, mas sim de cada um deles representar um aumento do risco de dar origem a grande fogos incontroláveis).

Eu não entendo a conversa, vinda de bombeiros, protecção civil, jornalismo e fontes diversas, sobre alertas e afins sobre estes dias de temperaturas altas, não vi nada de relevante quer na intensidade do vento, quer na humidade atmosférica, que justifique o barulho público (coisa diferente é a informação técnica para quem combate fogos, que com certeza deve circular, porque vai haver mais uns fogos, e um bocadinho maiores e mais demorados, sem grandes riscos associados, mas que é preciso gerir).

Esta psicose é que dá origem às confusões que são referidas na ligação acima, sobre a contratação de meios aéreos, mas sobre financiamento de bombeiros, sobre vendas de equipamentos, sobre fornecimento de refeições, sobre utilização de combustíveis, o que se entender, quando existe um serviço que precisa de ser prestado com urgência e em quantidades razoáveis, o risco de más decisões (umas por corrupção, outras por incompetência, convém nunca desvalorizar o potencial negativo da incompetência) é altíssimo.

A montante de tudo isto está uma doutrina errada sobre fogos, que dá origem a muita legislação performativa (nem conhecia este conceito, mas Paulo Fernandes vai-me mandando umas coisas curiosas e divertidas que me permitem ir-me actualizando), isto é, legislação com objectivos, medidas, calendários que visam demonstrar que se quer fazer alguma coisa, mas que ninguém sabe como se aplica na realidade, a muita decisão igualmente performativa no mesmo sentido, como a da semana passada sobre mais dinheiro despejado sobre as equipas de sapadores florestais.

Esta coisa dos sapadores florestais é mesmo um bom exemplo, uma ideia que parece boa (o Estado pagar a pessoas para fazer gestão florestal que é fundamental para gerir o risco de fogo), mas cujo desenho esquece a realidade, criando um monstro sugador de recursos, completamente ineficiente e sem avaliação consequente.

As equipas de sapadores, que custam uns 65 mil euros anuais por equipa ao Estado, gerem em média uns 40 hectares de combustíveis, um pastor com 150 cabras gere uns 100 hectares de combustíveis, e toda a gente tem medo de desenhar um programa sério para lhe pagar esse serviço, por causa da fraude, porque torna, porque deixa, e lá continuam os sapadores a torrar dinheiro sem efeitos visiveis, seja qual for o governo.

Quem diz pastor diz resineiro, caçador, conservacionista, qualquer agente económico (empresário puro e duro ou de sectores sociais), cuja remuneração pelo serviço de gestão de combustíveis seria incomparavelmente mais eficiente que com equipas de sapadores florestais ou a permanente invenção de novas medidas, sempre complicadas, sempre com intermediários, que alguém acha mais eficiente que o pagamento directo a quem presta o serviço.

Sempre, sempre, com medo da fraude que esses agentes possam cometer, como se a complicação e emaranhado de regras das alternativas não dessem origem a fraudes de muito maiores dimensões.

O país tem um cancro no mundo rural (o abandono por falta de competitividade da gestão de grandes áreas) e passamos o tempo, governo após governo, a distribuir aspirinas para controlar os sintomas (os incêndios).

Se a minha mãe não tivesse insistido tanto na ideia de que há limites de boa educação que nunca devem ser ultrapassados, eu dir-vos-ia o que fazer à conversa sobre fogos.

 


8 comentários

Sem imagem de perfil

De cela.e.sela a 29.05.2025 às 11:26

de acordo consigo: qualquer citadino imbecil é catedrático sobre o mundo rural.
«o medo é que guarda a vinha».
a indústria dos fogos está hoje a ser avaliada pela PJ.
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 29.05.2025 às 14:51


O país tem um cancro no mundo rural (o abandono por falta de competitividade da gestão de grandes áreas) e passamos o tempo, governo após governo, a distribuir aspirinas para controlar os sintomas (os incêndios).



Pois, mas se ninguém sabe como curar o cancro, que fazer???
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 29.05.2025 às 14:54


um pastor com 150 cabras gere uns 100 hectares de combustíveis


Pois, e há pastores com cabras lá para Serpa, e na serra da Arrábida também, e noutros lugares.
Mas o queijo de cabra é mais caro do que o de vaca, e o pessoal prefere este último. O mesmo se diga da manteiga e dos iogurtes.
Se a União Europeia subsdiasse as cabras e não as vacas, o mundo giraria ao contrário. Mas a dita União é dominada por países nos quais as vacas são preferíveis às cabras...
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 29.05.2025 às 15:59

Para não girar ao contrário, meu caro, ponha mais tabaco na mistura ... 
Sem imagem de perfil

De passante a 29.05.2025 às 15:15

sempre, com medo da fraude


Método tuga: pedir dezenas de papéis, para ter fraude zero. Caso haja fraude, ficar a ver impotente.


Método bife: "confiar mas verificar". Caso haja fraude, cair-lhes em cima com a força toda.


dir-vos-ia o que fazer à conversa sobre fogos.


metê-la onde o sol não brilha? 
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 29.05.2025 às 18:39

Entreguem o território rural a privados e deixem ser estes a geri-lo.
Acabem com institutos e observatórios. O Estado que se limite a cobrar imposto, é isso que sabe fazer.
Sem imagem de perfil

De Carneiro a 29.05.2025 às 21:05

“Leis performativas”! Que beleza de conceito. Encaixa na perfeição naquilo em se se tornou o acto de governar em Portugal: leis espectáculo, respondem ao ruído mediático e ao cerco burocrático, e nada de substancial alteram.


Quanto à floresta e aos incêndios permanecermos no crónico desprezo ao meio rural e ao património Natural.
Sem imagem de perfil

De António Candeias a 30.05.2025 às 10:43

 Falarem da limpeza da floresta que destino dar à matéria mortta para eviitar grandes incêndios ninguém fala, só se ouvem a falar dos milhares ou milhões de euros despejados nos meios de combate aos incêndios, há décadas que os especialistas vem a alertar para a limpeza da floresta e até dizem o que tem de ser feito como não lhes interessa porque não sabem com resolver ou por interesses obscuros vão falando nos calores para distrair o povo, atenção que não digo que acabavam os incêndios, eles nunca irão acabar fazem parte da natureza, mas pode se sim diminuir a sua intensidade, com o venho a dizer a floresta deve ser limpa todos os dias do ano e todos os anos, enquanto isso não for feito os grandes incêndios vão continuar.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • Anonimo

    Existe um país liberal, que por coincidência é o m...

  • lucklucky

    Botswana, ali ao lado 20000 per capita.pppMoçambiq...

  • Anónimo

    Exatamente.Se a eficiência dos médicos, dos políci...

  • Anónimo

    Não, um aspirante a liberal cujo bolso disso não o...

  • Anonimo

    São todos, são todos.No fundo, querem liberalismo ...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2025
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2024
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2023
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2022
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2021
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2020
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2019
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2018
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2017
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2016
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2015
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2014
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2013
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2012
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2011
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2010
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2009
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2008
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2007
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D
    248. 2006
    249. J
    250. F
    251. M
    252. A
    253. M
    254. J
    255. J
    256. A
    257. S
    258. O
    259. N
    260. D