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De vez em quando entretenho-me a ouvir os comentários diários de Filomena Martins sobre os números diários da covid que acho do mais divertido que existe nesta matéria, sempre gostei de non-sense em estado puro.
Só que Filomena Martins não é uma pessoa qualquer, é directora-adjunta do Observador.
Vou saltar por cima da opção editorial do Observador de pôr um jornalista a fazer comentários sobre números que é incapaz de interpretar em vez de pedir a alguém que perceba do assunto para fazer esse comentário - os jornalistas deveriam estar a fazer notícias, não vejo razão para passarem o tempo a fazer comentários para os quais não têm nenhuma preparação específica - e concentrar-me neste comentário, a partir do minuto 7.58. Note-se que dizer generalidades a partir de coisas sobre as quais não tenho preparação é o que faço aqui no blog, mas eu não tenho responsabilidade nenhuma, toda a gente que me lê sabe as limitações do que escrevo e consegue distinguir os assuntos sobre os quais sei mais, daquelas em que digo mais asneiras ou coisas mais imprecisas.
O que tem de interessante este comentário de Filomena Martins é que a jornalista que lhe faz perguntas refere explicitamente esta entrevista de Jorge Torgal em que comenta os mesmos números que Filomena Martins comenta.
André Dias, numa das várias trocas de mails que vamos fazendo (estive em férias no Facebook e portanto não tenho acompanhado o que por lá se passa, no principal canal de comunicação do André), chamou-me a atenção para esta outra entrevista de Jorge Torgal, também recente (ver a partir do minuto 40) que tem, em grande parte, as mesmas ideias da entrevista do Observador, mas em alguns aspectos, de forma mais clara.
Nesta entrevista à RTP3 Jorge Torgal diz uma coisa que ainda não me tinha ocorrido: no próximo Inverno, quando chegarem as constipações e gripes, vai ser bastante difícil gerir a percepção das pessoas das várias doenças, incluindo Covid, já que os sintomas são muito parecidos (por exemplo, digo eu, não Jorge Torgal, todo o mecanismo de separação covid e não covid no atendimento das urgências corre o risco de ruir às mãos das constipações e gripes que não se deixam distinguir facilmente da covid, na maior parte dos casos, pelo menos para as pessoas comuns).
Filomena Martins, que é uma jornalista que não sei se será especialista em saúde (não me parece, pela sua apresentação no Observador), resolve falar, falar, falar, sem dizer grande coisa, para não responder directamente ao que lhe é perguntado: como justifica o seu alarme face aos números da covid quando Jorge Torgal diz que os números em Lisboa mostram uma situação banal?
No pouco que acaba por dizer, essencialmente a sua justificação é a de que Jorge Torgal, médico, dermatologista com uma carreira inteiramente dedicada à epidemiologia e saúde pública, com formação e experiência no assunto, não está a perceber nada dos números, ao contrário de Filomena Martins, jornalista de generalidades.
Note-se que não tenho a menor simpatia por argumentos de autoridade e acharia normal se Filomena Martins questionasse os argumentos de Jorge Torgal (que são fortes, apresentando o contexto dos números, relacionando-os com outras doenças, articulando vários indicadores, etc., mas são evidentemente questionáveis), mas não, não é isso que Filomena Martins faz, o que faz é um processo de intenções - isto é tudo uma questão de perspectiva e Jorge Torgal quer é tranquilizar as pessoas, como as autoridades, e por isso diz o que diz - para concluir que Jorge Torgal (e todos os que não alinham no alarmismo de Filomena Martins), não tem a menor noção da realidade.
Uma demonstração fabulosa do jornalismo dominante, que jamais deixará que os factos influenciem o que o jornalista escreve ou diz.
Adenda, por causa de uma referência de Jorge Torgal, em que, aliás, acho que está a ser um bocado demagógico, fui ver os números da Nova Zelândia, aquele país em que a primeira ministra foi muito gabada por ter controlado, no fim do Verão, uma doença que será mais do meio e fim do Inverno. De facto, durante muitos dias não era detectado nenhum caso, a não ser um ou outro esporádico e com internalos grandes. Mas, na última semana, tem havido casos todos os dias, embora em número irrisório (2 ou 3, houve um dia em que foram quatro). O pico da época gripal na Nova Zelândia varia, mas o mais frequente é ser entre Julho e Agosto. Lá para Setembro ou Outubro teremos uma ideia mais clara sobre se a Nova Zelândia realmente venceu o vírus, como é frequente ouvir-se, ou se está na mesma situação que os outros: o vírus está em circulação e vai tendo flutuações, sendo provável que ocorram picos em circunstâncias que ainda conhecemos mal, bem como épocas de acalmia. A dimensão desses picos varia muito geograficamente, e ainda não sabemos bem que factores explicam essas variações.
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