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Filomena Martins versus Jorge Torgal

por henrique pereira dos santos, em 28.06.20

De vez em quando entretenho-me a ouvir os comentários diários de Filomena Martins sobre os números diários da covid que acho do mais divertido que existe nesta matéria, sempre gostei de non-sense em estado puro.

Só que Filomena Martins não é uma pessoa qualquer, é directora-adjunta do Observador.

Vou saltar por cima da opção editorial do Observador de pôr um jornalista a fazer comentários sobre números que é incapaz de interpretar em vez de pedir a alguém que perceba do assunto para fazer esse comentário - os jornalistas deveriam estar a fazer notícias, não vejo razão para passarem o tempo a fazer comentários para os quais não têm nenhuma preparação específica - e concentrar-me neste comentário, a partir do minuto 7.58. Note-se que dizer generalidades a partir de coisas sobre as quais não tenho preparação é o que faço aqui no blog, mas eu não tenho responsabilidade nenhuma, toda a gente que me lê sabe as limitações do que escrevo e consegue distinguir os assuntos sobre os quais sei mais, daquelas em que digo mais asneiras ou coisas mais imprecisas.

O que tem de interessante este comentário de Filomena Martins é que a jornalista que lhe faz perguntas refere explicitamente esta entrevista de Jorge Torgal em que comenta os mesmos números que Filomena Martins comenta.

André Dias, numa das várias trocas de mails que vamos fazendo (estive em férias no Facebook e portanto não tenho acompanhado o que por lá se passa, no principal canal de comunicação do André), chamou-me a atenção para esta outra entrevista de Jorge Torgal, também recente (ver a partir do minuto 40) que tem, em grande parte, as mesmas ideias da entrevista do Observador, mas em alguns aspectos, de forma mais clara.

Nesta entrevista à RTP3 Jorge Torgal diz uma coisa que ainda não me tinha ocorrido: no próximo Inverno, quando chegarem as constipações e gripes, vai ser bastante difícil gerir a percepção das pessoas das várias doenças, incluindo Covid, já que os sintomas são muito parecidos (por exemplo, digo eu, não Jorge Torgal, todo o mecanismo de separação covid e não covid no atendimento das urgências corre o risco de ruir às mãos das constipações e gripes que não se deixam distinguir facilmente da covid, na maior parte dos casos, pelo menos para as pessoas comuns).

Filomena Martins, que é uma jornalista que não sei se será especialista em saúde (não me parece, pela sua apresentação no Observador), resolve falar, falar, falar, sem dizer grande coisa, para não responder directamente ao que lhe é perguntado: como justifica o seu alarme face aos números da covid quando Jorge Torgal diz que os números em Lisboa mostram uma situação banal?

No pouco que acaba por dizer, essencialmente a sua justificação é a de que Jorge Torgal, médico, dermatologista com uma carreira inteiramente dedicada à epidemiologia e saúde pública, com formação e experiência no assunto, não está a perceber nada dos números, ao contrário de Filomena Martins, jornalista de generalidades.

Note-se que não tenho a menor simpatia por argumentos de autoridade e acharia normal se Filomena Martins questionasse os argumentos de Jorge Torgal (que são fortes, apresentando o contexto dos números, relacionando-os com outras doenças, articulando vários indicadores, etc., mas são evidentemente questionáveis), mas não, não é isso que Filomena Martins faz, o que faz é um processo de intenções - isto é tudo uma questão de perspectiva e Jorge Torgal quer é tranquilizar as pessoas, como as autoridades, e por isso diz o que diz - para concluir que Jorge Torgal (e todos os que não alinham no alarmismo de Filomena Martins), não tem a menor noção da realidade.

Uma demonstração fabulosa do jornalismo dominante, que jamais deixará que os factos influenciem o que o jornalista escreve ou diz.

Adenda, por causa de uma referência de Jorge Torgal, em que, aliás, acho que está a ser um bocado demagógico, fui ver os números da Nova Zelândia, aquele país em que a primeira ministra foi muito gabada por ter controlado, no fim do Verão, uma doença que será mais do meio e fim do Inverno. De facto, durante muitos dias não era detectado nenhum caso, a não ser um ou outro esporádico e com internalos grandes. Mas, na última semana, tem havido casos todos os dias, embora em número irrisório (2 ou 3, houve um dia em que foram quatro). O pico da época gripal na Nova Zelândia varia, mas o mais frequente é ser entre Julho e Agosto. Lá para Setembro ou Outubro teremos uma ideia mais clara sobre se a Nova Zelândia realmente venceu o vírus, como é frequente ouvir-se, ou se está na mesma situação que os outros: o vírus está em circulação e vai tendo flutuações, sendo provável que ocorram picos em circunstâncias que ainda conhecemos mal, bem como épocas de acalmia. A dimensão desses picos varia muito geograficamente, e ainda não sabemos bem que factores explicam essas variações.


13 comentários

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De Anónimo a 29.06.2020 às 10:01

O aumento do número de infectados segue a sua ordem natural, ou melhor dizendo, a propagação do vírus está a seguir o seu curso normal. E vai continuar assim em roda livre, alastrando para outras zonas do país. Porque nada sr fez. Comprovadamente, não está ninguém ao leme.  Os números não param de aumentar. Era mais que previsível que isto ia acontecer: "desconfinou-se" sem planeamento atempado, sem prevenção, sem coordenação, sem medidas de protecção, em suma, sem visão e sem sentido de responsabilidade. Governar não é tudo isso?! Embora a "propaganda" diga que a zona de contágio está circunscrita e apenas em bairros periféricos e não no centro de Lisboa, esquecem-se  que existe mobilidade e circulação de pessoas, ininterruptamente, para todo o lado, pelas mais variadas razões.

Se no início tudo aparentava estar a correr bem, deveu-se apenas e exclusivamente às medidas que os portugueses adoptaram, por moto próprio,  para se auto-protegerem. Se, temporariamente, estancámos a propagação inicial  das infecções,  foi por mérito nosso, da população. Da parte das "autoridades"(!) só vinham contradições e desnorte como se sabe e a única "medida" por eles adoptada foi a de incitamento ao pânico  (porque em pânico estavam "eles" com a possibilidade de os hospitais entrarem em ruptura).


 Muito mau sinal, quando se entra na fase do passa-culpas. Sinal de que estão de cabeça perdida.




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De henrique pereira dos santos a 29.06.2020 às 11:52

É o vírus que comanda a evolução, não são as pessoas
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De Anónimo a 29.06.2020 às 12:58

Não  "lhes"  forneça argumentos...  :-))
Tudo serve de bode expiatório.
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De pitwo a 29.06.2020 às 18:52


HPS, não sou só eu quem lhe vende conselhos. O anón. das 12:58 parece ter idêntica 'mania'.
Abraço
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De Anónimo a 29.06.2020 às 14:47

HPS, o vírus comanda e faz o seu percurso, é certo. Mas o governo pode tomar algumas medidas que evitem um descontrolo na sua propagação, por ex., nos transportes colectivos e cuidados acrescidos em eventos potenciadores de supertransmissão. Como nos fogos! Que não se evitam, mas monitorizam-se, assim haja competência.
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De henrique pereira dos santos a 29.06.2020 às 15:46

Sim, como nos fogos: os governos contam muito pouco
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De Luís Lavoura a 29.06.2020 às 16:03

como nos fogos: os governos contam muito pouco

Isto não é bem assim.

Se os bombeiros apagam um incêndio, isso tem influência. Pode ser que a coisa que hoje foi apagada acabe por arder no próximo ano: mas sempre é melhor arder em duas ocasiões separadas, ambas elas pequenos fogos, do que arder tudo num único grande incêndio.

Da mesma forma, o facto de o governo combater o covid faz com que a infeção se propague mais lentamente, permitindo "achatar a curva".

O combate ao vírus tem outro efeito importante, que é colocar sobre o vírus uma pressão seletiva forte no sentido de este se esconder. O vírus é pressionado no sentido de se ocultar, em particular não causando sintomas (doença) às pessoas que estão por ele infetadas. E isso é bom: o vírus não desaparece, mas diminui os estragos que causa.
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De henrique pereira dos santos a 29.06.2020 às 18:15

Não, Luís, os bombeiros não influenciam muito a área global ardida
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De Anónimo a 29.06.2020 às 20:52

O desconfinamento só pecou, e muito, por tardio!
O objectivo tem de ser o de proteger as pessoas clinicamente, não o de tentar ridiculamente "matar" a pandemia, o que obviamente está condenado ao fracasso.
O aumento dos casos em Lisboa, afectando maioritariamente as classes etárias mais jovens e saudáveis, e esmagadoramente assintomáticos, não só não são razão para alarme, como são na verdade boas notícias! É  progresso natural da doença, e feito de forma "benevolente" com está a suceder é  melhr dos cenários.
Não acredito nem um minuto nessa estória dos jovens em festas a espalharem o vírus, mas da minha parte têm não apenas a compreensão como  meu aplauso e incentivo. Algo que já transmiti as meus filhos.
Desculpem não ser carneiro
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De voza0db a 29.06.2020 às 23:14


O pecado foi o confinamento...


Só indivíduos com o sistema imunitário a dar as últimas - independentemente da idade - é que correm o pequeno risco de morrer devido a este alegado novo e fraco derivado do SARS-CoV.
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De Luís Lavoura a 29.06.2020 às 10:04

o vírus está em circulação e vai tendo flutuações

Sendo que o vírus, se não causar doença, dificilmente é detetado.
A mim parece-me que o vírus, sujeito como está a intensa pressão seletiva, já evoluiu, e possivelmente continuará a evoluir, no sentido de se tornar menos mórbido e, nestas condições, poder multiplicar-se sem ser detetado.
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De voza0db a 29.06.2020 às 16:14


Bom... Pelos vistos continuamos em fase de Hipocrisia Crónica!


Em 2018 de Janeiro a Junho SÓ DE PNEUMONIA (a alegada doença que o hipotético RNA "SARS-CoV-2" também causa) morreram neste belo Portróikal 3.529 tugas
Por meses: 835, 745, 630, 507, 428, 384


Relembro aos HIPÓCRITAS que ainda só vamos com 1.568 mortes ALEGADAMENTE causadas por RNA "SARS-CoV-2"!



QUEM SE IMPORTOU com aqueles 3.529 tugas? Onde andava a ordem dos mérdicos e dos enfermeiros a EXIGIR que nos hospitais TODOS ANDASSEM SEMPRE DE MÁSCARAS E LUVAS E A DESINFECTAR AS PATAS?


Afinal de contas se neste glorioso ano da Graça de 2020 pelos vistos as máscaras são assim tão vitais para evitar infecções (virais/bacterianas) não compreendo porque NUNCA fomos obrigados a EVITAR infecções nos hospitais?!


Em resumo: A época de Gripe de 2019/2020 está a ser MUITO BEM UTILIZADA pelos donos do Sistema Monetário e pelos Bilionários para IMPLEMENTAREM as MEDIDAS para Eles necessárias e fundamentais para permitir que a Vida Deles no futuro não tenha tantos riscos...
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De voza0db a 29.06.2020 às 16:37


Já agora ficam aqui os números mais recentes do INE para 2018...


Pneumonia 2018 vs 2020!
https://i.postimg.cc/TP8bMKPM/Pneumonia-2020.png


E ainda anda o ignorante e idiota António Costa a dizer que os antibióticos são eficazes!


"A vacina é para nós ficarmos imunes aos vírus, os antibióticos é para combater os vírus"!


E é este deficiente que nos manda para prisão domiciliária e que anda a fazer de conta que está preocupado com a Saúde dos tugas...


Votem nele! Merecem...

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