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Festas e impostos

por henrique pereira dos santos, em 27.12.17

 

Desde há muitos anos que me pergunto, e pergunto a quem estiver por ali, qual é a razão para se pegar no dinheiro dos impostos - que inclui os impostos dos mais pobres, por exemplo, os 6% de IVA do quilo de arroz que se compra, por menor que seja a percentagem da contribuição dos pobres para os impostos - e o gastar em festas.

Ontem, a propósito das cartolas de plástico (francamente, não há por ali ninguém que tenha um mínimo de noção do que é a sustentabilidade e o consumo responsável?), fiz um comentário curto em que repeti, mais uma vez, a minha pergunta: qual é o benefício social que justifica usar o dinheiro dos impostos para organizar festas?

Consciente do doentio sectarismo que a insegurança tem trazido à esquerda actual, tive o cuidado de acrescentar que o problema não eram as cartolas, Lisboa ou Medina, porque esta panca de gastar dinheiro dos contribuintes a rodos em festas é transversal e é exactamente o facto de quase ninguém se espantar com os 650 mil euros que custará a passagem de ano no Terreiro do Paço, com o milhão do fogo de artifício do Funchal, com as festas da Senhora da Agonia ou da Senhora do Alívio, com o São João no Porto, com as centenas de festas concelhias, das freguesias, das aldeias, etc., pagas, pelo menos parcialmente, com o dinheiro de todos, incluindo os mais pobres, os doentes que não vão à festa, os presos que gostariam de ir mas se limitam a pagar, etc., que me espanta.

Eu sei que as comunidades não podem viver numa Quaresma permanente e que o Carnaval é fundamental para manter equilíbrios, mas qual é a racionalidade de se gastar o dinheiro dos impostos em festas em vez de se fazer o que sempre se fez: os festeiros que paguem a festa.

Ainda me argumentaram com o efeito económico e de promoção da cidade mas, para além de grande parte dos que assim argumentaram coincidirem com os que passam a vida a queixar-se do excesso de turismo em Lisboa, sem aparentemente verem sombra de contradição em usar o dinheiro dos impostos no reforço do problema, a verdade é que se existe retorno económico para alguns sectores, então esses sectores que abram os cordões à bolsa e paguem a festa, os hoteleiros do Funchal que paguem o fogo de artifício, por exemplo e o comerciantes que paguem as iluminações de Natal, para usar outro exemplo.

A sensação com que fico é que uma boa parte das pessoas continuam convencidas de que o dinheiro público sai na farinha Amparo e são incapazes de o relacionar com a retirada coerciva de dinheiro a toda a gente, incluindo os mais pobres.

É a única explicação que encontro para ser tão baixa a exigência ética no seu uso.

Ao ponto de muita gente achar normal estoirar mais de 50 mil euros de dinheiro público em cartolas de plástico, ao mesmo tempo que se indigna com o desperdício de 50 euros de dinheiro privado em bolo rei.


12 comentários

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De Anónimo a 28.12.2017 às 23:10

Alvitrando sobre este tema, na TV, a ex-Ministra M. Ferreira Leite afirmou que "sem partidos políticos não há democracia".... Como pediu uma ajudinha aqui vai um lamiré.
O problema em Portugal é uma questão da criação e formato das listas eleitorias.
Por exemplo, no Reino Unido os partidos selecionam, com entrevistas, os candidatos que o partido vai propor. Se não for rejeitado o candidato terá o seu nome no "ballot paper" no boletim do círculo eleitoral a que se candidata. Se aí for o mais votado será o representante de esse círculo eleitoral....
E no seguinte mandato será reeleito, ou rejeitado, conforme a modo como actou no exercício transacto.
Em Portugal o eleitor não pode rejeitar um candidato que não lhe agradou, misturadinhos que estão todos no saco partidário. O resultado está à vista.

http://www.constitution.ms/wp-content/uploads/2017/01/Election-Pamphlet-2017.pdf

Além disso no Parlamento do Reino Unido um deputado quando defende algo no
Parlamento representa cerca de 50.000 a 70.000 eleitores, em média. Na Ilha de Man, o maior círculo eleitoral do R.Un. (100.000 eleitores) prepara-se uma divisão em 2 círculos eleitorais que reponha o equilíbrio de representatividade do(s) seus (MP) deputados....
Talvez desse algum trabalho mas não era nada que não devesse ser feito por cá. Feitas as contas 230 deputados 9.200.000 eleitores = círculos de 40.000 ... 
Em duas ou três eleições teríamos uma classe política a sério....
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De Tiro ao Alvo a 30.12.2017 às 16:32

Inteiramente de acordo. Mas, infelizmente, não podemos esperar que alterações desta natureza sejam propostas e aprovadas pela actual classe política. Para isso, temos que esperar por uma nova geração. 
E, mesmo assim, não é certo que Portugal, então, consiga dar esse passo. Neste particular estamos muito atrasados. 

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