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Já aqui fiz um rasgado elogio a António Costa pela habilidade política que tem demonstrado em conseguir ir aproximando a gestão da epidemia da abordagem sueca (ou da declaração de Great Barrington, ou da epidemiologia clássica) , sem correr os riscos políticos associados, usando o valor simbólico das acções e a simpatia da imprensa por tudo o que António Costa faça.
É certo que não é nenhuma originalidade, praticamente essa tem sido a opção por toda a Europa, sendo as escolas o grande exemplo: toda a gente hoje as mantém abertas e apenas a primeira ministra norueguesa teve a decência de explicitamente reconhecer que o seu fecho tinha sido um erro.
Por mim, nada contra, prefiro uma boa cosmética que permita contrabandear uma política melhor a uma discussão estéril sobre quem tinha razão desde o tempo dos afonsinhos.
Há, no entanto, erros que podem resultar desta abordagem (o problema dos mentirosos é que é difícil uma pessoa lembrar-se da mesma história, com os mesmos pormenores, de cada vez que a conta), que minam a confiança nas instituições, e são reveladoras das opções de classe em que assenta a ideia de que a evolução da epidemia depende de todos (quando a responsabilidade é de todos, sobra muito pouca para cada um, aqui).
A decisão sobre o encerramento das feiras de levante (vi uma discussão muito interessante entre intelectuais burgueses sobre a expressão "feiras de levante", interessante em si para mim, que gosto da discussão sobre a linguagem, mas muito mais interessante pela total ausência de referência aos injustiçados pela decisão) é um desses tropeções gigantes que nos ajudam a perceber como na base das decisões das autoridades estão os mundinhos da "casta" e não os mundinhos das pessoas comuns.
O que é acentuado pela forma como publicamente o assunto é tratado. Por exemplo, toda a crónica de hoje de Rui Tavares, um comentador burguês cuja lucidez e sagacidade política é lendária (confirmar aqui) é sobre o "processo de confinamento" e as questões de justiça social associadas à proibição de feiras estão totalmente ausentes desse texto que ocupa uma página inteira de jornal.
A decisão de fechar feiras de levante não tem o menor fundamento em questões técnicas: são ao ar livre, implicam menos riscos que fazer compras em espaços fechados, implicam contactos menos prolongados que em restaurantes, têm mais espaço de circulação que permite o distanciamento físico que os centros comerciais.
Há, no entanto, uma diferença fundamental entre as feiras e os espaços comerciais onde existem o mesmo tipo de actividades: os feirantes ou são pequenos produtores e comerciantes locais que vão vender umas couves, uns ovos ou uns queijos vegan (a sério, há queijos vegan, feitos a partir de caju, e até são óptimos, mesmo tendo de reconhecer que só os provei por conhecer bem quem faz os queijos muka), ou são comerciantes não organizados, frequentemente ciganos e bastante na margem económica (e às vezes social). São sítios a que a elite burguesa que pressiona a elite administrativa a tomar decisões sobre a gestão da epidemia vai pouco.
E por frequentarem pouco as feiras - e, provavelmente, as poucas vezes que as frequentam é nas feiras mais in, onde está mais gente, ou nas mais pitorescas, quando se vai ver a paisagem - não sabem o que na verdade significam para dezenas de famílias de mais baixo rendimento.
Como de costume, quando a burguesia se sente ameaçada, a atenção aos "deplorables" tende a desaparecer e tomam-se decisões idiotas como proibir as feiras de levante, ao mesmo tempo que as lojas, os supermercados, os centros comerciais estão todos abertos.
Depois queixem-se das votações nos populistas.
Urbanos ignorantes é o que estes governantes são. Proibir as feiras e feirinhas que se realizam todos os dias por esse Portugal fora, não é mais do que uma medida tola que. se for acatada, vai pôr muita gente a passar fome. Desnecessariamente.
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