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Um dia destes fui entrevistado durante quase uma hora por Vítor Gonçalves sobre fogos.
Para além de muitos comentários simpáticos (por exemplo, um dos meus irmãos disse-me que o entrevistador era tão bom que eu até parecia inteligente, sensato e sabedor) e palmadinhas nas costas, houve bastantes comentários contestando a entrevista, como é normal numa matéria controversa.
Frequentemente não se contestam os argumentos que usei, e uma hora dá para bastante por onde pegar, eu próprio sou capaz de identificar meia dúzia de erros (alguns lapsos evidentes) e imprecisões, o que se contesta são as falhas de carácter que me fazem dizer o que digo, de que é exemplo este artigo, no Expresso, escrito por uma especialista em fogos que desconheço mas sei que é "residente em Lisboa, 50 anos [esta informação não deve estar actualizada], licenciada em Relações Internacionais pelo ISCSP e pós-graduada em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE. Foi professora, jornalista, assessora de imprensa e atualmente exerce funções de representação internacional no setor das telecomunicações (ANACOM)".
Onde eu cito Paulo Fernandes (um dos cinquenta cientistas mais influentes do mundo em ecologia do fogo), José Miguel Cardoso Pereira, Tiago Oliveira, António Salgueiro, Nuno Gracinhas Guiomar e outros, com sólido e incontestado curriculum relacionado com o estudo e a gestão do fogo, Marta Leandro cita Jorge Paiva (que não tem uma linha de investigação científica relacionada com ecologia do fogo), Helena Freitas (que desconheço que alguma vez tenha publicado uma linha de trabalho científico ou técnico sobre fogo, a sua gestão e o seu papel ecológico) e a minha colega Manuela Raposo Magalhães que, essa sim, foi coordenadora de um projecto relacionado com fogo (Scapefire), que se distingue por uma grande originalidade: envolve dezenas de investigadores e técnicos, mas nenhum deles tem qualquer curriculum, trabalho e investigação sobre ecologia do fogo.
Os comentários mais divertidos são os dos "corações muito grandes cheios de fúria e amor" (parafraseando Jorge de Sena), que escrevem inflamadas acusações e teorias de conspiração sobre a simultaneadade das ignições detectadas por satélite, sem fazerem a mínima ideia de que essas ignições são registadas pelo satélite em simultâneo, não porque ocorram ao mesmo tempo, mas porque é a hora que o satélite passa.
Tudo visto e ponderado, as grandes críticas não são ao que eu digo mas, por falha de carácter que me leva a ser um vendido aos interesses, ao facto de eu não alinhar com teorias de conspiração sobre ignições (leiam Cristina Soeiro, caramba) e dizer que muito mais importante que a composição do coberto florestal, é a quantidade e estrutura dos combustíveis finos (argumento que é simplificado, por quem se empenha na demonstração pública das suas virtudes, na afirmação falsa de que eu digo que arde tudo por igual).
Sobre este último assunto, durante esta entrevista, mandaram-me as fotografias abaixo que ilustram o que qualquer pessoa que estude o assunto diz, mais assim ou mais assado.
O que temos então nestas fotografias?
Na primeira, eucaliptal gerido, com pouca afectação de fogo, numa matriz de vegetação autóctone , e provavelmente não autóctone, (incluindo as áreas de vegetação natural mantidas na plantação ao longo das linhas de drenagem natural), sobreiral mediana a severamente afectado na segunda e sobreiral com combustíveis finos completamente incinerados na terceira, mantendo a biomassa de maior diâmetro, todas as fotografias provenientes do mesmo fogo, o fogo de Alferce/ Monchique de 2018.
Resumindo a sequência de imagem, não é por falha de carácter que passo o tempo a contestar ideias românticas sobre o efeito do fogo na vegetação, é porque tenho amigos que sabem muito mais que eu e passam o tempo a mostrar-me que o que eu pensava, e tinha aprendido na escola, não se verifica na realidade.
Seja em coisas mais complexas, como este artigo fundamental do Paulo Fernandes, já com uns valentes aninhos, seja em fotografias que me mandam durante um programa de televisão, para me ajudar a ilustrar as teses que vou repetindo a partir da investigação e criação de conhecimento de quem realmente estuda o assunto.
Dou de barato que eu seja um pulha vendido aos interesses, discutir isso não interessa a ninguém (se nem a mim me interessa, imaginem aos outros), mas não é seguramente a negar infantilmente que a terra anda à volta do Sol, porque é óbvio que qualquer pessoa pode verificar que é o Sol que anda à volta da terra, que se consegue demonstrar que os cálculos de Kepler não têm validade.
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