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Desde que me comecei a interessar pelo assunto da epidemia em curso que estranho a quantidade de pessoas, especialmente das que têm formação em ciências biológicas e afins, das quais discordo na forma de lidar com este surto epidémico.
Um excelente artigo de João Pires da Cruz fez-me ver as coisas de forma mais clara e perceber melhor a raiz dessas divergências, de muito do medo instalado e do apoio generalizado à adopção de medidas não farmacêuticas que ofendem direitos fundamentais das pessoas, sem que exista evidência sólida da utilidade de cada uma delas.
Lavar as mãos, de longe a medida não farmacêutica sobre a qual existe maior consenso e evidência empírica da sua eficácia, quase não aparece nas discussões, quando comparada com a ideia maluca de que passear cães é uma justificação mais válida para os Estados deixarem pessoas sair de suas casas que passear crianças.
Finalmente percebi os dois pontos fundamentais em que assentam as diferentes abordagens do problema.
A primeira, muito evidente no artigo que citei acima, é o diferente valor que atribuímos ao facto do contágio da doença se fazer através de um processo em que o vírus não passa directamente de uma pessoa para outra, mas sim através de um período em que o vírus tem de estar no meio exterior, que lhe é hostil, entre infectante e hospedeiro.
Já tinha uma ideia de que a desvalorização deste passo justifica muitas divergências, mas só quando li o artigo percebi até que ponto condiciona a visão da coisa, ao ver que como este passo está totalmente ausente do artigo em causa, levando à conclusão de que só mexendo na forma como as pessoas se relacionam se pode lidar com a epidemia.
O segundo ponto fundamental só o consegui perceber bem hoje de manhã: para a esmagadora maioria das pessoas, a percepção é a de que a principal via de contágio da doença é o facto de duas pessoas partilharem o ar que respiram.
A verdade é que não parece ser assim, muito pelo contrário, excepto em circunstâncias especiais como o contexto hospitalar (mais precisamente, para citar directamente o que Organização Mundial de Saúde diz: "In the context of COVID-19, airborne transmission may be possible in specific circumstances and settings in which procedures or support treatments that generate aerosols are performed; i.e., endotracheal intubation, bronchoscopy, open suctioning, administration of nebulized treatment, manual ventilation before intubation, turning the patient to the prone position, disconnecting the patient from the ventilator, non-invasive positive-pressure ventilation, tracheostomy, and cardiopulmonary resuscitation").
O que parecem ser as vias mais importantes de contágio são outras: a proximidade em relação a quem, estando infectado, tosse, espirra ou fala em cima de outra pessoa e, sobretudo, acima de todas as outras (existe também bibliografia para outros coronas que dão indicações nesse sentido), o toque em superfícies previamente contaminadas, seguida do toque das mãos com a boca, olhos e nariz.
A diferente consideração por estes dois factos (que há um passo desfavorável ao vírus entre infectante e hospedeiro e que a principal forma de contágio não é a partilha do ar que respiramos, mas o contacto com superfícies onde se depositam vírus) é a origem de formas diferentes de olharmos para a gestão da epidemia: a mim não me parece que seja o contacto directo a questão central e temos de nos concentrar em reduzir o risco do contacto com superfícies contaminadas, especialmente em espaços confinados, mas quem não atribui importância a estes dois factos e está mesmo convencido de que nos infectamos muito pela partilha do ar que respiramos, é natural que ache que o fundamental é não partilharmos o ar que respiramos.
E não admira a ferocidade das discussões das divergências: conceder ao Estado o direito de não nos permitir partilhar o ar que respiramos é uma experiência social radical, corrosiva para os fundamentos da nossa humanidade e da nossa vida em comum.
1- « O que existe para o vírus são pessoas, sendo que todo o espaço para ele é composto de contacto entre pessoas. Ainda que estas se mexam num espaço bidimensional como é o nosso chão, o espaço para o vírus tem uma geometria completamente diferente. Esta é alterada no tempo conforme as pessoas são suscetíveis ou não a transportar o vírus. Se calçarem os sapatos do vírus, percebem que o mundo para ele tem uma matemática completamente diferente.»
Tradução- o vírus entra onde mais facilmente consegue entrar. Portanto depende também de tempo.
2- «O vírus vê no metro de Tóquio ou de Nova Iorque uma geometria completamente diferente daquela que vê no Sul da Líbia ou no interior do Arizona. Fazer médias por milhão de habitantes é uma asneira infantil, mas fazer contas desde que foram implementadas medidas, que não parece assim tão pateta, depende do rigor das medidas e de como foram cumpridas pela população. Repare-se que o Norte e o Sul de Portugal estavam sujeitos às mesmas medidas de contenção e, no entanto, “por milhão de habitantes” temos resultados muito diferentes.»
Tradução- os locais e aglomerações populacionais são diferentes- a contaminação ou defesa dela também deve ser diferente. Não é percentagem por milhão de habitantes de um país- exemplo- Lisboa/Porto- Alentejo ou Norte interior isolado geograficamente
Depois diz que isto devia ser levado em conta mas não adiante como. Apenas refere que as estatísticas matemáticas não têm em conta estas variáveis.
Nem vou querer saber onde o HPS desencantou o “eureka” por um texto que nem percebeu.
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