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A coisa que mais me faz confusão, desde o início da pandemia, é a demisão voluntária dos jornalistas.
Para gerir uma epidemia, qualquer epidemia, uma das questões fundamentais é avaliar o grau de ameaça que a epidemia representa.
Isto é válido para as nossas epidemias, mas claro que é válido também para as epidemias relacionadas com a produção pecuária, com a conservação da natureza - sim, gerir a conservação do lince significa compreender as epidemias regulares das populações de coelho, por exemplo - e, já agora, embora não lhes chamemos epidemias mas pragas, para as que afectam as culturas de plantas.
Por isso, para mim, seria evidente o interesse dos jornalistas em saber quem é mais afectado pela doença e quem morre da doença, para termos uma ideia de grupos de risco e grau de ameaça para a sociedade, no momento em que for preciso tomar decisões sobre a gestão da epidemia.
De entre as informações mais úteis para caracterizar a mortalidade e, consequentemente, o grau de ameaça, estão três informações, das quais apenas uma é de fácil acesso, embora muitas vezes mesmo essa seja omitida.
A primeira, mais fácil, razoavelmente conhecida, é a da idade das pessoas que morrem. É completamente diferente ter uma doença que afecta sobretudo os mais velhos, como a covid, que mata sobretudo os mais velhos, mas também os muito novos, como a gripe ou que mata os mais velhos, os mais novos e, estranhamente, os jovens adultos, como era o caso da gripe espanhola.
A segunda, praticamente impossível de obter em Portugal de forma fácil, é a distinção entre morte por covid e morte com covid. A distinção nem sempre é fácil e, muitas vezes, vários factores concorrem para a morte, podendo a covid ser o empurrão final de uma situação que é, em si, de extrema fragilidade. Neil Ferguson falava, desde o início da epidemia, em metade a dois terços de mortes de pessoas que, em qualquer caso, dada a sua condição de saúde, morreriam no prazo de um ano, mas a produção e divulgação de informação sobre este aspecto, pelo menos em Portugal, é praticamente nula, não havendo distinção entre mortes com covid e mortes por covid.
A terceira, directamente relacionada com a anterior, e por isso já referida acima, é a da condição de saúde dos que são registados como mortos covid. Conheço várias pessoas com idades acima dos 90 anos que tiveram covid e não tiveram problemas de maior com a doença, sendo absolutamente inqualificável a forma como se apresenta a covid em idades elevadas como uma quase sentença de morte. Sem entrar em linha de conta com a condição prévia dos infectados, ainda antes das vacinas, a verdade é que a mortalidade em lares com elevadas incidências dificilmente subia acima dos 10% a 15%, ou seja, sete a nove em cada dez infectados, internados em lares, o grupo mais susceptível e de maior risco, não morriam da doença, mas evidentemente eram levadom a passar umas semanas aterrorizados pela ideia de que a covid em idades elevadas é quase uma sentença de morte. Ora a informação sobre este assunto, que é fulcral para definir o grau de ameaça que a doença representa para a sociedade, não existe e, estranhamente nunca é exigida pelo jornalismo.
Eu não entendo, mas não entendo mesmo, o que nos conduziu a este jornalismo de derrotados, a esta demissão do jornalismo informativo em benefício do jornalismo de emoções, mas talvez seja apenas mais um sintoma de sociedades de abundância, em que há muito conforto a perder se quisermos arrsicar qulquer coisa na vida.
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