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Eu é mais bolos

por henrique pereira dos santos, em 28.12.20

Como diz, e bem, um criativo das Produções Fictícias, e bioquímico, a epidemiologia não é para amadores.

No entanto, os amadores, como eu, não estão impedidos, de dizer as asneiras que quiserem (pese embora haver quem defenda que opiniões médicas são actos médicos e portanto devem ser sancionados os médicos que tenham opiniões médicas fora da ortodoxia, como Marçal, revelando alguma confusão entre opiniões e actos, confusão frequente entre os inimigos da liberdade).

Hoje, por exemplo, deu-me para asneirar sobre os gráficos globais de casos e mortos por Covid (não entrando nas dificuldades relacionadas com critérios de registos e afins).

world.jpg

world2.jpg

Olhando para estes dois gráficos ressaltam algumas diferenças sobre as quais vou fazer uns comentários de amador.

1) Em primeiro lugar convém ter em atenção que os critérios e números de teste variaram muito ao longo do tempo, portanto os números de casos não podem ser lidos sem um filtro que faça notar que os dados da primeira época de doenças pulmonares infecciosas não dizem o mesmo que os dados da segunda época de doenças infecciosas e do Verão do hemisfério Norte;

2) Ressalvando o ponto 1, o que se verifica é que há três períodos de subida brusca de casos positivos. a) Março; b) Junho/ Julho (menos brusco) e Outubro/ princípios de Novembro, e que as subidas de mortalidade apresentam um padrão substancialmente diferente. Na mortalidade há claramente a subida da entrada em cena de uma nova doença, uma oscilação em Junho/ Julho e uma subida, bem mais suave que a primeira, do meio de Outubro a meio de Dezembro;

3) Ainda estamos longe do fim da segunda época de doenças pulmonares infecto contagiosas (ainda nem estamos na semana 1 do ano de 2021 e essa época costuma ir até à semana 19), portanto não sabemos se a subida que terminou a meio de Dezembro (entrou num planalto desde essa altura, com uma subida lenta no caso da mortalidade e esqueçamos a ponta direita dos gráficos porque o Natal baralha os números) vai retomar o seu curso agora de Janeiro a Maio, ou se o facto de ter sido antecipada a época habitual das doenças pulmonares infecciosas limita o crescimento no resto da estação, ninguém pode dizer nada sobre isso porque não há informação;

4) O relevante é que estes padrões são o que é de esperar de uma doença infecciosa nova: um rápido crescimento da mortalidade inicial, e uma progressiva "normalização" no curso da doença;

5) Note-se que, se se desagregarem geográficamente os números, este padrão é ainda mais evidente, com as áreas mais afectadas na primeira época a terem mortalidades menores na segunda época. Em países com mortalidades semelhantes, como a Itália, há diferenças internas que parecem mostrar maiores mortalidades agora em áreas antes poupadas, ou o caso dos Estados Unidos, que tem os seus três Estados mais populosos no Sul, em latitudes sem grande correspondente na Europa. O tal "sun belt" americano foi mais afectado no Verão, com mortalidades médias, e que agora apresenta um grande número de casos e alguma mortalidade relevante, de que o exemplo mais interessante é a Califórnia, o estado americano com medidas mais restritivas de combate à epidemia, mas um dos que estão mais afectados neste momento. O mesmo se poderia dizer da Europa de Leste, incluindo o Leste da Alemanha.;

6) Ou seja, o grande consenso inicial sobre o padrão de uma curva epidémica, sem medidas - subida rápida, seguida de oscilações progressivamente mais pequenas - parece estar a verificar-se, só que entretanto esse grande consenso se desfez e agora há uma grande quantidade de gente que rejeita esse padrão, interpretando todas as variações das curvas epidémicas com base nas medidas tomadas (ou, quando as medidas não batem certo com o que se verifica na evolução da curva, no cumprimento das medidas por parte da população, uma abstracção impossível de medir de forma objectiva sem um esforço brutal, e recursos quase ilimitados);

7) Esta alteração não deixa de ser interessante, porque a linha de fractura entre as duas formas principais de olhar para a gestão da epidemia não punha em causa esse consenso científico, situava-se mais à frente, entre os que entendiam que tomando medidas radicais era possível alterar a evolução da curva epidémica, e os que entendiam que a gestão de uma epidemia se fazia sobretudo na contenção de danos na sociedade e não tanto fazendo de aprendiz de feiticeiro;

8) Veremos o que o futuro nos reserva, mas para já, uma das principais vítimas da epidemia, é o consenso científico sobre a evolução de uma epidemia, ao ponto de haver uma quantidade enorme de gente que nega um facto perfeitamente verificável: todas as epidemias anteriores à vacinação (e à loucura das medidas assentes na ideia de que é possível parar os contactos sociais pelo tempo necessário ao controlo de uma epidemia, sem que os efeitos sociais negativos sejam maiores que os provocados pela epidemia em si) pararam algures, como mais ou menos mortes, com mais ou menos tragédias, como mais ou menos efeitos na sociedade, a verdade é que pararam sempre;

9) No incêndios é conhecida a famosa defesa de Jaime Marta Soares em relação à qualidade dos bombeiros portugueses: "nunca um incêndio ficou por apagar" e suspeito que ao longo de 2021 irão aparecendo vários Jaime Marta Soares das epidemias a explicar que nunca um surto ficou por resolver.

Adenda: esqueci-me de fazer notar que a diferença entre o pico de casos da Primavera e de agora é de mais de sete vezes, mas a diferença dos picos de mortes anda pelo dobro, o que também era o normal esperar-se que acontecesse, antes de se ter rompido o consenso científico sobre o que é o comportamento de uma epidemia


9 comentários

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De Anónimo a 28.12.2020 às 15:29

sou uma vítima de erros médicos
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De voza0db a 28.12.2020 às 19:18

Quem se mete com mérdicos... lixa-se!
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De Anónimo a 28.12.2020 às 17:33

Entretanto, o governo sueco entrou em pânico (ou, sabe-se lá o que é que lhe deu) e decidiu inverter o rumo 180 graus: pediu poderes para fechar negócios e empresas com o objetivo de controlar a epidemia. Aquilo que a embaixadora da Suécia dizia há uns meses que não se podia fazer no país dela, afinal já se vai poder.
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De henrique pereira dos santos a 28.12.2020 às 18:23

Se pediu poderes é porque não os tinha, não é?
Já agora, sabe se já os tem e se já os usou?
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De Anónimo a 29.12.2020 às 10:28


Se pediu poderes é porque não os tinha


Recordo-me de ter lido que a embaixadora da Suécia em Portugal afirmou, numa entrevista, que na Constituição sueca o estado de emergência pura e simplesmente não está previsto, pelo que o goevrno sueco jamais poderia tomar as mesmas medidas que o português.


Mas, pelos vistos, agora talvez já venha a poder...


sabe se já os tem e se já os usou?


Não sei. Li a notícia na RT.com. Pode ir lá lê-la, ainda lá está.
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De voza0db a 28.12.2020 às 19:17


Visto que isto NUNCA FOI UMA PANDEMIA... resta-me apontar para a REALIDADE!


https://i.postimg.cc/QNvsnQS1/MASCARAS.jpg


enquanto como um BOLO!
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De Anónimo a 28.12.2020 às 20:56

A leitura dos gráficos parece simples;
Primeiro houve mais mortos porque se desconhecia o vírus, e escassearam medidas de o conter, e houve menos infetados porque houve menos testes.
Depois, no verão, a coisa estabilizou, tanto em mortes como em infetados (estes últimos parece terem subido mas foi do aumento de testes).
Depois veio o inverno, que é época de gripes. Aumentaram os casos e com eles as mortes.


Esta lógica baseia-se no facto de os países mais afetados serem do hemisfério norte, com os invernos e os verões nos mesmos períodos do ano.
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De Andre Miguel a 30.12.2020 às 10:07

Existe um gráfico com os testes diários? Só assim se poderia fazer uma análise mais completa.
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De Anónimo a 31.12.2020 às 12:09


Nem por isso, porque o número de casos encontrados depende, não somente do número total de testes efetuados, como também da escolha das pessoas que se decide testar.
Por exemplo, se se fizer muitos testes mas todos eles forem feitos no Alentejo, que é uma região pouco afetada pela epidemia, então encontrar-se-á poucos casos. Se se fizer muitos testes repetidamente à mesma pessoa (por exemplo, os futebolistas têm sido repetidamente testados), a probabilidade de encontrar casos positivos também diminui.
Ou seja, o número de infeções encontradas não depende somente do número de testes efetuados, mas também da inteligência com que se escolhe as pessoas que se testa.

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