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Desconheço que actividade tem a Comissão de Cultura do parlamento português, ou que acção desenvolvem os assessores ditos culturais — se os há — dos partidos de centro-direita, mas não deixa de ser flagrante a ausência de escrutínio parlamentar às políticas de cultura dos governos de António Costa e seus aliados, diante do avolumar de casos de burocratização, desinvestimento ou do mais insultuoso desleixo patrimonial.
A recentíssima denúncia de que a maioria dos directores de museus e monumentos nacionais está em situação de precaridade por ausência de concursos, com todos os prazos legais ultrapassados para esse efeito — enquanto são forçados por lei nova a planos de actividade plurianuais que não sabem se eles ou outros vão cumprir —, é apenas um desses casos que raiam o absurdo de o próprio Estado não cumprir ele próprio leis que aprovou. Mas há bastante mais, desde a gravíssima e lastimosa situação da Biblioteca Nacional ao adiamento da renovação da lei do depósito legal de livros, da falta de uma campanha nacional de digitalização documental à medíocre mas bastante dispendiosa «internacionalização da cultura portuguesa», onde o clientelismo impera sem pudor, e milhões gastos de nada servem de facto. E claro — acima de tudo — a complacência e a tibieza com que vê empurrada com a barriga a permanência de um mentecapto «acordo ortográfico» com graves consequências educativas e culturais para as gerações do futuro.
Enfrentar e desmarcarar — e tão fácil é — o mais que propagandístico «amor da esquerda pela cultura» é algo que precisa de ser feito, e a chamada de ministros a prestar contas e esclarecer políticas deveria ser parte do trabalho parlamentar de quem não quer resignar-se a uma fatídica travessia de deserto.
Vasco Rosa
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