De Anónimo a 31.03.2017 às 12:36
Indignados?. Quando um Titanic está a afundar é um "salve-se quem puder".
Uns saltam para os bem fornecidos botes salva-vidas, da política. Outros conseguem arranjar um coletezito de salvação, mas a água está desagradavelmente gelada. Outros afundam.
Há quem vá por aí fora, para esta nossa linda europa.
De aqui a umas dezenas de anos haverá filmes e documentários no NG, sobre um navio que naufragou num canto da europa. Chamava-se "Portugal". Tema um bocado monótono, desinteressante, diga-se.
De Anónimo a 31.03.2017 às 18:51
Sim, é monótono, mas a direita continua a prever o naufrágio, tsunamis, etc.. olha, só tens de mudar de filme.
De Fernando S a 03.04.2017 às 00:08
Antes de 2011, a direita, ou pelo menos uma parte dela, previu que o despesismo e o endividamento levariam o pais para o "naufrágio".
A esquerda socrática, no governo há vários anos, não corrigiu a tragétória e até a agravou (lembram-se do forte aumento dos vencimentos do funcionários e dos investimentos públicos em 2009 ?...), e o pais naufragou mesmo em 2010/11.
Veio um resgate, ainda negociado pelo governo socialista, que incluia um drástico programa de austeridade e ajustamento.
Coube a um governo de direita levar a cabo esse programa, em condições obviamente dificeis e ingratas.
A esquerda, então na oposição, incluindo os socialistas, que tinham sido os responsáveis directos pelo colapso e que tinham negociado e aprovado o programa da Troika, desde cedo se opôs frontalmente e anunciou os maiores ddsastres : lembram-se da "espiral recessiva", do desemprego acima de 20%, da explosão da divida pública, da impossibilidade de respeitar os compromissos com a Troika e de concluir o resgate dentro do prazo previsto, da inviabilidade do regresso aos mercados, da inevitabilidade de novos resgates ou mesmo da eventualidade de saida do Euro ?....
Afinal, não aconteceu nada disso : a partir de meados de 2013, apenas 2 anos depois do colapso, a economia recomeçou a crescer e o desemprego a baixar, a divida pública estabilizou e as taxas juro desceram fortemente, o resgate concluido com sucesso dentro do prazo, o pais regressou aos mercados em 2014, as agências de rating voltaram a subir a notação do pais e anunciava-se para finais de 2015 ou inicios de 2016 a saida do nivel de lixo e do procedimento por déficit excessivo, o crescimento real e previsivel do Pib era então já próximo de 2% ao ano para 2015 e acima nos anos seguintes ...
Mesmo assim, a oposição de esquerda continuou a dizer que o pais estava mal e os portugueses na miséria pelo que era necessário mudar radicalmente de politica, acabar com a austeridade, reverter as reformas estruturais feitas pelo governo anterior, apostar no aumento do consumo, pôr a economia a crescer muito mais, e que tudo isto iria finalmente permitir gastar mais mas ter menores déficits orçamentais e uma divida pública finalmente e diminuir.
Estas promessas convenceram um número suficiente de portugueses a votar pelos partidos da esquerda e, como o PS optou por não viabilizar um governo minoritário do PSD/CDS e preferiu aliar-se à extrema-esquerda, o governo mudou e com ele mudou a politica que vinha sendo seguida até então.
Passaram entretanto quase 2 anos mas, apesar de algumas devoluções de rendimentos a categorias clientelares e de algumas reversões, a verdade é que a austeridade não acabou e, apesar das condições internas e externas serem mais favoráveis, o crescimento economico abrandou em vez de acelarar, a divida pública voltou a crescer, as taxas de juro de referência aumentaram fortemente, as agências de rating continuam a manter o pais no lixo, e o futuro do pais é hoje mais problemático e incerto do que era em 2015 antes da chegada da "geringonça".
Actualmente, direita, na oposição, diz basicamente aquilo que dizem a maior parte dos observadores, das instituições europeias e internacionais, as agências de rating, e, através das cotações, os mercados : se a politica que está a ser seguida não for alterada e corrigida, a situação financeira e económica do pais tenderá a degradar-se progressivamente e, ao primeiro precalço interno (crise politica) ou externo (BCE, crescimento externo, câmbio Euro/US$, preço do petróleo, crise internacional, etc), poderá descanbar rápidamente num novo colapso financeiro !...
E, nesta eventualidade, estariamos em pleno no "filme do naufrágio" !!!...
De Renato a 03.04.2017 às 20:53
Não entendi se estamos já no inferno, se só faltam dois ou três dias. Isto parece um orgasmo prolongado, Fernando😉
De Anónimo a 04.04.2017 às 11:03
Renato,
Eu nunca disse que estávamos no "inferno" ou não sei a quantos dias de lá chegar ...
Há, isso sim, quem ache que estávamos no "inferno" até ao ultimo dia da legislatura do governo anterior mas que agora, desde o primeiro dia do novo governo, entrámos numa espécie de "paraiso", sem austeridade, com mais crescimento, e com a felicidade per capita a crescer a cada dia que passa !... (os apoiantes do governo actual é que parecem estar em fase de "orgasmo prolongado" !... é de aproveitar enquanto dura !... ;) )
O que eu digo é que estamos a seguir um mau caminho e que, se não houver mudanças na politica, se o contexto externo deixar de ser tão favorável, podemos rápidamente voltar a estar numa situação de colapso financeiro e recessão económica.
Não é uma hipótese meramente académica : aconteceu há apenas 6 anos, com o mesmo partido que agora governa e com o mesmo modelo economico que agora se procura preservar e reforçar.
Claro que os tempos são outros e as circunstâncias evoluiram. Mas os problemas de fundo e de primeira linha são básicamente os mesmos e os riscos também.
A politica não se deve ocupar apenas com o dia a dia mas deve sobretudo prevenir e preparar o futuro. Não é o que está a acontecer neste ciclo politico.
Invejo mas não gabo a inconsciência e a alegre despreocupação de pessoas como o Renato face à situação em que se encontra o nosso pais : os riscos de um novo colapso não acabaram em Outubro de 2015, antes pelo contrario, voltaram a acentuar-se.
De Fernando S a 04.04.2017 às 18:16
Este "Anónimo" sou eu, o Fernando.
De Renato a 04.04.2017 às 19:08
Fernando, julga que é mais consciente do que eu, por prever o colapso? Tenha calma. Não ando preocupado, nem deixo de andar. As minhas preocupações são o trabalho do dia a dia, que já não é pouco. Isso do "paraíso" nunca soube o que é. Quero é que as coisas andem melhor, para mim e para os outros (também me ajuda ao negócio...) e a minha percepção é que andam. Dizia o outro que o país estava melhor, as pessoas é que não notavam, ora f..-se, com sua licença. De resto, para morrer, basta estar vivo. Andamos nisto há algum tempo e ainda não descobri se é mesmo sincero a prever o tal colapso e o diabo a sete, ou se julga que deve dizer essas coisas😉. Já agora, se me acha descontraído, imagino que, sendo mais consciente do que eu, ande uma pilha de nervos, não?
De Fernando S a 05.04.2017 às 01:53
Renato,
O governo actual herdou do governo anterior um pais com contas públicas mais consolidadas (em particular, o déficit orçamental desceu fortemente entre 2010 e 2015) e com uma economia mais ajustada e em crescimento.
Acresce que as condições externas (politica monetária do BCE, maior crescimento das economias europeia e mundial, preço do petróleo baixo, câmbio Euro/US$ mais baixo, forte aumento do turismo a fugir do terrorismo, etc) têm sido bastante favoráveis.
Tudo isto, associado ao facto do governo actual, felizmente ao contrario do que anunciara e prometera, não ter revertido a totalidade das medidas do governo anterior (por exemplo, na austeridade do Estado e na legislação laboral), fez com que, apesar de uma série de erros de politica (por exemplo, ter aumentado rendimentos de certas categorias clientelares e encostadas ao Estado e ter revertido e esvaziado algumas das reformas estruturais em curso ou recomendadas), a economia continuasse a crescer e o desemprego a baixar, embora a um ritmo inferior.
Portanto, a situação económica não piorou porque o Pib continuou a crescer e o desemprego a baixar e, consequentemente, a condição geral das pessoas também acabou por melhorar ligeiramente.
Mas, importa perceber que o único mérito do governo actual é não ter feito pior do que poderia ter feito se tivesse feito tudo aquilo que prometera fazer.... Não foi nenhuma clarividência de última hora mas apenas a compreensão pragmática e oportunista de que se não tivesse recuado face à UE, ao BCE e aos mercados, a credibilidade do pais teria caido rápidamente a pique e com ela teria faltado o dinheiro necessário para financiar o Estado e a economia. E, se a economia continuou a crescer e o financiamento a chegar (embora agora com maiores custos financeiros), foi sobretudo graças ao trabalho feito até 2015 pelo governo anterior (o que é reconhecido pela generalidade dos observadores e entidades internacionais) e graças às condições externas mais favoráveis.
Dito de outro modo, se não tivesse havido uma mudança de governo em 2015, se a politica anterior tivesse continuado sem discontinuidade e sem hesitações e recuos, com as condições externas mais favoráveis, o mais certo teria sido a economia ter crescido nestes 2 anos em termos acumulados ainda mais do que cresceu até agora.
Ou seja, a situação económica e financeira seria hoje melhor e as pessoas em geral também estariam hoje melhor.
Portanto, a primeira coisa a lamentar é a perda de tempo (por exemplo, na consolidação do déficit e da divida e no atrasar das reformas) e o desperdicio de recursos (por exemplo, em custos financeiros e em novos investimentos) que, mesmo assim, estes 2 anos de "geringonça" já representaram.
Mas, significa isto que, embora não tão boa quanto poderia ser, a situação está mesmo assim controlada e não há por isso que ter grandes receios quanto ao futuro ?
Não, apesar de algumas aparências de curto prazo enganadoras, não está e por isso é que há razões para estar preocupado e para não excluir o risco de um novo colapso.
A insuficiente consolidação das contas públicas e o ainda fraco crescimento economico degradaram as condições de sustentabilidade do sistema financeiro português, sobretudo do Estado e dos bancos mas também das empresas e até das familias.
No fim de contas, o nosso endividamento global continua a ser muito elevado e por isso é que as taxas de juros de referência também estão altas.
A nossa margem de segurança é minima e muito curta.
Basta o BCE alterar a sua politica monetária ou haver alguma perturbação externa para nos podermos encontrar de novo numa situação critica.
Ninguém, eu não certamente, está neste momento em condições de prevêr exactamente e com que timing uma evolução negativa deste género poderá acontecer.
O que posso confirmar, respondendo sinceramente à sua pergunta, é que estou sinceramente preocupado com o que pode vir a acontecer nos tempos que se seguem.
Só não estou uma "pilha de nervos" porque não é muito o meu género !.. ;)
De Renato a 06.04.2017 às 11:29
Olhe, Fernando, não adianta, que eu sou básico. Não dizia alguém que a economia devia ser tratada como as finanças domésticas? Eu aplico a mesma coisa e só posso dizer-lhe o que vejo à minha volta, ao nível da minha rua, do meu bairro e do meu negócio. Houve de facto reposição de rendimentos, as pessoas consomem mais, e isso tem um efeito multiplicador na economia. Eu posso perguntar-lhe duzentas vezes, que tenho a certeza de que nunca me responderá à questão básica de se saber como podem cortes de rendimentos e “aumentos brutais de impostos” (não sou eu que digo…), contribuir para a melhoria da economia nacional. Nem vou insistir.
Diz que no anterior governo a economia já estava a crescer. Em que sectores, sabe? Posso-lhe perguntar também duzentas vezes, sem resposta, como é possível tal coisa ser generalizada, com o nível de falências que havia, tanto de particulares, como de empresas, os cortes, etc, etc. Diz o Fernando que a austeridade não acabou. É óbvio. Eu já lhe disse que não vivemos no paraíso. Basta-me que a austeridade seja menor.
A isso de que a coisa estaria agora muito melhor se o anterior governo tivesse continuado, nem sei como responder. Olhe, lixou-me com essa, pronto ;)
De Fernando S a 07.04.2017 às 21:34
Renato,
Tendo em conta o seu comentário acima, que me parece mostrar uma vontade e um esforço sinceros de diálogo e compreensão, vou tentar responder com um comentário que pode ser algo longo, pedindo desde já as minhas desculpas por isso !...
(1)
Eu também sou "básico", no sentido que dá à palavra, também olho para o que se passa à minha volta na vida do dia a dia.
Mas sei que o micro-cosmo que me envolve não representa necessáriamente e exactamente a situação mais geral.
E por isso também dou importância a outros elementos de informação e análise.
Nomeadamente, as estatisticas.
As estatisticas dizem-nos que a economia portuguesa estava a crescer a partir de meados de 2013 e que este crescimento atingiu o seu máximo em termos homólogos desde há muitos anos em 2015.
As estatisticas dizem-nos ainda que em 2016 o crescimento desacelarou em termos homólogos (embora tenha crescido no ultimo trimestre de 2016 como no primeiro trimestre de 2015).
Ora, se a economia cresce, em 2015 ou em 2016, pouco importa o ritmo, então isso significa que há mais produção, mais emprego, mais rendimento distribuido.
O Renato refere-se em particular às falências de empresas. É verdade que o número de falências estava a aumentar desde o tempo do governo ... Sócrates e que este aumento se ecentuou em 2011, 2012 e parte de 2013, no auge da crise e da austeridade. Mas já antes de 2015 (creio que já em 2013 mas não posso precisar), estando a economia a recuperar, e como é natural, o número de falências diminuiu e, sobretudo, o número de empresas criadas aumentou mais do que as falências (ou seja, o saldo de empresas criadas passou a ser positivo).
Portanto, numa altura como hoje, é natural que vejamos à nossa volta mais actividade, mais poder de compra, mais consumo.
O que não se compreende é que se possa dizer que antes do governo actual a economia não estava a crescer e que apenas o governo actual a pôs a crescer.
A economia estava a crescer antes e está a crescer depois. Isto é indiscutivel. O que podemos é avaliar e analizar diversamente o ritmo e o tipo de crescimento.
(continua)
De Fernando S a 07.04.2017 às 21:36
(continuação)
(2)
Recuando uns anos, os do governo anterior, o Renato fala nos cortes de rendimentos e nos aumentos de impostos e conclui que isso não foi bom para a economia e para as pessoas.
Convém lembrar que os cortes de rendimentos e o aumento de impostos já tinha começado com o governo Sócrates (eram os famigerados PECs).
O que o governo de Passos Coelho fez foi manter alguns, aumentar criar outros. Isso foi precisamente o aumento da austeridade.
O Renato percebe certamente que tal não se fez pelo mero prazer que teriam alguns em fazer sofrer as pessoas.
A primeira razão, a mais imediata, é que o pais estava então numa pré-bancarrota, sem dinheiro, a ser ajudado pelo estrangeiro, com um plano de resgate em que os credores impunham condições exigentes em termos de austeridade.
Outra razão importante é que, estando o pais a gastar estruturalmente mais do que produzia, para além das exigências dos credores, e até para procurar escapar a esta dependência o mais rápidamente posssivel, era absolutamente indispensável e recomendável fazer um ajuste, "apertar o cinto", cortar despesa, aumentar receita.
Enfim, fazer o que se faria numa familia normal. Como vê, salvaguardando algumas diferenças de dimensão e natureza, eu também acho que a economia de um pais deve ser tratada "básicamente" como as "finanças domésticas" !...
Mas há ainda um outra razão importante para se ter seguido uma politica de austeridade : o modelo economico estava desequilibrado pelo que era preciso ajustar o conjunto, com um Estado a gastar menos e com uma economia a ser mais orientada para a produção de bens e serviços transaccionáveis (exportações, substituição de importações, etc).
Digamos que, sendo certo que a austeridade tinha um efeito imediato recessivo sobre a economia, ela era necessária para ajustar essa economia, numa primeira fase, de modo que, numa segunda fase, pudesse retomar mas então em melhores condições de produtividade e sustentabilidade.
Por outras palavras, a austeridade não era efectivamente boa para a má economia mas era melhor para a boa economia. Neste sentido, a austeridade até podia e pôde "contribuir para a melhoria da economia nacional".
(continua)
De Fernando S a 07.04.2017 às 21:39
(continuação)
(3)
Eu percebo que, na fase de maior aumento ("enorme") da austeridade, o Renato e muitas outras pessoas, inclusivé eleitores e simpatizantes dos partidos do governo da altura, tenham tido muita dificuldade em suportar os respectivos custos e a tenham achado excessiva e contraproducente.
E eu percebo ainda que o Renato e essas pessoas tenham hoje a ideia de que só com a mudança de governo é que acabou a austeridade e se começou a verificar uma melhoria da economia e da vida dos portugueses.
Mas a verdade é que, desde a generalidade dos observadores e instituições internacionais até ao actual Presidente da Répública portuguesa, que apesar de ter sido eleito pela direita tem colaborado institucionalmente (e até mais do isso) com o governo actual e tem por isso uma grande popularidade à esquerda, todos são unâmimes em reconhecer que a situação de Portugal é hoje menos critica e até melhor do que em 2011 graças ao que foi feito desde então, em termos de austeridade ("os sacrificios dos portugueses") e de ajustamento ("as reformas estruturais", nomeadamente no mercado de trabalho). Ou seja, trata-se do que foi feito principalmente ao longo dos 4 anos de legislatura do governo anterior. Pode-se naturalmente discutir se se justificava ou não uma mudança forte de politica em 2015, quando o pais já recuperara e a situação era já melhor, mas não se compreende que se possa negar a realidade dos resultados alcançados e algum mérito ao trabalho feito pelo governo anterior.
Também é verdade que a austeridade, embora se mantivesse no essencial, já tinha começado a diminuir em 2015, ainda com o governo anterior, ainda que muito ligeiramente, e que as condições de vida de muitos portugueses tinham também começado a melhorar pouco a pouco (baixa do desemprego, aumento do consumo, inversão da evolução do salário médio, etc). Este relativo relaxamento da austeridade traduziu-se inclusivamente numa relativa diminuição no ritmo de consolidação das contas públicas e foi mesmo criticado por sectores mais liberais do espectro politico e mesmo por alguns dos observadores internacionais. Acresce ainda que estava previsto pelo governo anterior, se porventura tivesse continuado em funções nos anos seguintes, continuar a reduzir progressevimamente a austeridade (por exemplo, com devoluções e aumentos escalonados de rendimentos dependentes do Estado). Isto explica porque é que um governo que aplicou uma politica de austeridade forçosamente impopular vinha crescendo nas sondagens e ganhou inclusivamente as eleições legislativas ficando não muito longe de uma maioria absoluta, só não conseguindo ser reconduzido porque, pela primeira vez, as diferentes oposições à esquerda se aliaram para o impedir.
O que o governo actual fez foi apenas continuar e acelarar o ritmo de algumas destas "devoluções". Mas, como o Renato também reconhece, a austeridade (eu acrescentaria, o essencial da austeridade) não acabou e as condições de vida das pessoas, embora continuando a melhorar, apenas melhoraram muito ligeiramente e sobretudo em resultado do prosseguimento do crescimento económico que vinha de trás e não tanto das medidas orçamentais do governo, que grosso modo tiraram a uns para dar a outros. É o que explica que o consumo privado em 2016 não tenha aumentado mais rápidamente do que em 2015. Portanto, é verdade que a austeridade continuou a diminuir e os rendimentos das pessoas em geral cresceram mas também não se verificou nenhum salto que representasse uma mudança de fundo relativamente ao passado recente.
Dito isto, importa realçar mais uma vez que se não tivesse acontecido o que aconteceu nos anos anteriores, se não tivesse sido aplicada uma forte austeridade e não tivesse sido feito um ajustamento relativamente doloroso, o governo actual não teria sequer podido aproveitar a circunstância da economia estar a recuperar e algum alivio orçamental para ter tomado algumas das medidas que tomou.
(continua)
De Fernando S a 07.04.2017 às 21:42
(continuação)
(4)
Sendo assim, porque é que muitas pessoas, como o Renato, têm a percepção de que se está bastante melhor agora e que tal se deve à mudança de politica que o governo actual teria introduzido ?
Não é fácil perceber. Há claramente um desencontro entre a realidade e a sua percepção por muitos portugueses. Há certamente diversos factores que o podem explicar. Um deles é do âmbito da psicologia colectiva : os portugueses estavam naturalmente cansados do ambiente da crise e do discurso de que não havia alternativa à austeridade e querem agora acreditar que afinal até é possivel viver melhor e mais despreocupadamente. Mas, não bastam estes condimentos psicológicos. Este estado de espirito foi também suscitado e "ajudado" por alguns factores mais objectivos. Por exemplo, entre outros : uma habilidosa propaganda demagógica por parte do novo governo e uma "colaboração" preciosa por parte de um Presidente da Répública cuja postura e maneira de estar dá muito espaço ao optimismo. Talvez seja ainda de admitir que a oposição também não tem encontrado o registo mais apropriado para contrariar a narrativa do governo actual baseada na ideia de que antes tudo estava mal e agora é que está tudo bem.
Nestas condições é muito dificil chamar a atenção das pessoas para o facto de não ser verdade que estamos muito melhor e que isso se deve sobretudo à acção do governo actual e ainda para o facto de que aquilo que o governo actual tem feito e não tem feito (por exemplo, no plano das reformas estruturais) está infelizmente fazer-nos perder tempo e recursos e a tornar o nosso pais mais vulnerável num futuro mais ou menos próximo.
E é aqui que entra essa minha tese de que, mesmo mantendo-se problemática e dificil, muito provávelmente a situação estaria hoje globalmente melhor se o governo anterior não tivesse mudado ou pelo menos mudado para algo de tão diferente e atipico como é a actual "geringonça" liderada pelo PS de António Costa.
E pronto ! Se o Renato conseguiu aguentar e lêr tudo até aqui então merece a minha admiração e reconhecimento e ainda uma medalha de persistência e paciência !!... ;)