Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A propósito da provocação de dirigentes do PNR a Mamadou Ba, confrontando-o de forma hostil e com argumentos idiotas na rua, ouvi mais que uma vez o argumento que da título a este post como se a questão estivesse entre estar do lado do agressor ou da vítima.
Não podia estar mais em desacordo com este reforço de uma visão maniqueísta do mundo, ninguém é obrigado a estar de um lado ou de outro neste caso.
Nunca gostei destas abordagens hostis e não desejadas a adversários políticos como forma de combate político, mas não gostei quando os visados eram Passos Coelho e os seus ministros, dezenas de vezes abordados desta forma e tratados de ladrões e gatunos para baixo, tal como não gostei agora quando o visado é Mamadou Ba.
Não posso é deixar de reconhecer a legítimidade deste tipo de actuação: Mamadou Ba nunca esteve fisicamente em risco, não deixou de poder continuar a andar para onde queria, não foi ameaçado, foi simplesmente abordado de forma hostil e incómoda por gente que, para criticar Mamadou, usa argumentos que são uma bosta, tal como aconteceu, salvo raríssimas excepções, nas vezes em que Passos Coelho e os seus ministros também foram abordados por gente com pouca cabeça e ainda menos argumentos, como estes de agora.
Por isso não existe vítima e agressores, existem adversários políticos que acham que a gentileza e as boas maneiras são dispensáveis, como se não fosse possível manter um mínimo de civilidade na discussão sem que a contestação perca um átomo da dureza que se lhe quiser dar (no fundo, seguindo o que me parece ser o melhor exemplo que conheço de civilidade e dureza no discurso: "“Aonde vos achais sei que dizeis sempre mal de mim; eu, pelo contrário, não perco ocasião de dizer louvores vossos: porém, quem a ambos nos conhecer, a nenhum de nós há-de dar crédito”).
Se o discurso troglodita do PNR é conhecido, talvez não seja pior saber o que defende Mamadou Ba e o SOS Racismo, uma espécie de Partido os Verdes, do BE, uma fraude política que me parece servir essencialmente para canibalizar a militância anti-racistas e canalizar financiamento ilegal para a actividade política do partido (sim, eu sei, não tenho maneira de provar que assim é, mas a opacidade sobre a organização e financiamento do SOS Racismo é da sua responsabilidade, não minha).
"As recentes conquistas desportivas nacionais têm vindo a ser usadas para a reprodução de mitos sobre a multiculturalidade e harmonia inter-racial do Portugal contemporâneo. Como portugueses não-brancos, e imigrantes não-brancos residentes em Portugal, recusamos ser cúmplices desse branqueamento.
...
o recente sucesso desportivo de tantos portugueses não-brancos está a ser posto ao serviço da reprodução de narrativas mitológicas, descrevendo um país multicultural e não-racista, que não existe nem nunca existiu, como as nossas histórias e experiência quotidiana nos fazem questão de recordar permanentemente. Ao mesmo tempo, as celebrações do triunfo recuperam referências culturais exaltando o passado dito glorioso dos “descobrimentos”, que na verdade não corresponde senão a séculos de pilhagem colonial e imperial dos nossos territórios de origem, e de redução dos nossos povos à indignidade da escravidão.
...
um país que pratica o terrorismo de Estado nos bairros periféricos de Lisboa, essas autênticas colónias internas onde se concentram as populações não-brancas, nas quais vigora um estado de exceção permanente, e onde uma polícia militarizada se comporta como um exército ocupante levando a cabo, com total impunidade, execuções extrajudiciais
...
Para lá de palavras, o combate ao racismo branco da sociedade portuguesa exige medidas concretas. Nesse sentido, exigimos:
1. Medidas que garantam o acesso efectivo às esferas da sociedade que nos permanecem vedadas. Não aceitamos que, das unidades de saúde à função pública, passando pelos órgãos de comunicação social, escolas e universidades, todos estes espaços permaneçam exclusivos a portugueses brancos;
2. A desmilitarização imediata da polícia, e o fim imediato das operações do CIR (Corpo de Intervenção Rápida) nos nossos bairros, como primeiro passo rumo à abolição total da PSP e GNR, e sua substituição por mecanismos de garantia da segurança colectiva, baseados nas comunidades;
3. Uma comissão de inquérito independente aos assassinatos perpetrados pela policia;
..."
Chega de citações de uma petição assinada por Mamadou Ba e mais 160 pessoas (numa demonstração de representatividade desta visão radical da luta anti-racista) para deixar claro que entre o PNR e Mamadou Ba eu não tenho de fazer, nem faço, escolhas, são excrescências simbióticas que se alimentam mutuamente.
Que o racismo existe na nossa sociedade, isso é uma evidência que não pode ser negada, que esse racismo tem expressão excessiva na cultura das nossas polícias é menos evidente, mas ainda assim não me parece que isso possa ser negado, que discursos de ódio e incendiários como o que citei contribuam minimamente para resolver o problema é que francamente não me parece sequer que mereça grande discussão.
Soluções lineares, maniqueístas, para problemas sociais complexos não ajudam a fazer sociedades melhores, apenas servem para dar visibilidade e proveito político (os outros não discuto) a quem se alimenta desse maniqueísmo e das fracturas sociais.
Eu não tenho de estar de um lado ou de outro, eu estou firmemente contra esses dois lados.
“…uma fraude política que me parece servir essencialmente para canibalizar a militância anti-racistas e canalizar financiamento ilegal para a actividade política do partido (sim, eu sei, não tenho maneira de provar que assim é, mas a opacidade sobre a organização e financiamento do SOS Racismo é da sua responsabilidade, não minha).”
Portanto, eu não sei das contas de alguém ou de alguma organização. Portanto, na dúvida, acuso de ilegalidade. Excelente, Henrique.
Mas para que serve a história do caterpillar? Henrique, riscos existem em imensas profissões. Seja de acidentes, seja de ameaças pessoais. Existiu consigo, como existe com médicos, fiscais das finanças, policias, agentes de exeução, etc, e muitas outras, incluindo árbitros de futebol, com mais riscos ainda e com muito maior frequência. No caso do Mamadou, ou de muitas outras pessoas negras ou outras raças, não tem a ver com a profissão, tem a ver com a sua condição natural. Não me diga que não consegue ver a diferença….
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
A Europa inteira tem este problema comum, que não ...
A lei foi escrita, essencialmente, por Almeida San...
Exactamente. Este país tem aturado tanta aberração...
"As elites globalistas portuguesas tal como os seu...
Caro Henrique,Normalmente estou de acordo consigo....