Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Elites de má qualidade

por henrique pereira dos santos, em 17.01.23

Um amigo chamou-me a atenção para uma sessão que a Ordem dos Biólogos ia fazer sobre áreas protegidas, na Assembleia da República.

Pode ser vista aqui.

A sessão é o que é (um conjunto de intervenções mais ou menos de prever, conhecendo os autores, repetindo os clichés sobre a matéria que alimentam discussões eternas sobre áreas protegidas, com uma ou outra excepção, nomeadamente por parte de Miguel Araújo), mais um conjunto de intervenções de deputados (e assessores) deprimentes (as intervenções, não os deputados), como seria de esperar num país em que quase não existe pensamento estratégico sobre gestão da conservação da natureza e da paisagem, com respostas de uma assistência que essencialmente dava voz à vitimização em que se viciou a tecnoestrutura do ICNF.

O que é verdadeiramente relevante na sessão?

Os ausentes.

Para mim, pessoalmente, desgosta-me profundamente que a Iniciativa Liberal não tenha tido tempo, disponibilidade ou interesse em encontrar alguém, dentro ou fora do partido, para lá estar. Mas enfim, isto é o que é.

O mais relevante não é essa ausência, essa é apenas um incómodo pessoal.

O mais relevante é que sendo uma sessão da elite da conservação em Portugal, a Ordem dos Biólogos (em que se misturam cargos corporativos com funções passadas de direcção no ICNF e afins), com a participação de deputados, autarcas, dirigentes antigos e actuais do ICNF, técnicos do ICNF, ONGs do ambiente, não tenha havido espaço para quem realmente faz gestão do território: agricultores, pastores, produtores florestais, gestores de baldios, propietários, caçadores, empresas de retalho e ligadas ao consumo de produtos provenientes do sector primário, produtores de azeite, de vinho, de abacate, de amêndoa, etc., etc., etc..

Não me espanta pois a minha sensação de que, de um lado e de outro dos intervenientes, me ficasse quase sempre a sensação de que estavam a discutir o sexo dos anjos, porque os que realmente tomam decisões sobre a gestão do território, aos olhos destas elites, são inúteis na discussão das políticas que lhes dizem respeito.

As elites, em Portugal, não precisam de pôr os pés na terra para tratarem das suas vidinhas, e isso nota-se nestas alturas.


4 comentários

Sem imagem de perfil

De Manuel da Rocha a 17.01.2023 às 15:14

Infelizmente não há nada a fazer. 
Dou-lhe o exemplo de uma freguesia, no distrito da Guarda, em que o autarca criou um serviços para ajudar a reclamar propriedades que estão há 8-20 gerações na família mas, nunca foram feitas habilitações de herdeiros. O Bupi funciona, se for usado por um advogado ou se se pagar a um jurista. Em 2 freguesias, os autarcas (e amigos sabichões), aproveitaram isso para roubar (literalmente) milhares de hectares, dezenas de habitações e ficarem, num caso, com mais de metade de uma aldeia, pois para os contrariar, seria preciso pagar milhões de euros a advogados, recorrer para tribunais, em coisas que podem levar 30 anos a ser resolvidas. O meu avô tinha uma casa num desses locais, como não tenho automóvel, ir lá fica em mais de 120 euros de viagem e exige horários muito fixos. A minha mãe tratou do processo de habilitação de herdeiros mas, ao ter falecido, não consegui encontrar os documentos e as finanças também me dizem não ter o registo disponível. A opção era recorrer a um advogado que fizesse o levantamento e avançasse para tribunal para reaver a propriedade. Sim, a propriedade. É que um casal, "adquiriu" 9 casas "devolutas", deitou tudo abaixo e construiu habitação rural para arrendamento de curto prazo. Depois de confrontados, ofereceram 1500 euros para que os familiares vivos, assinassem o documento em como não recorrem do pedido de propriedade. Não aceitei mas, o processo está em águas de bacalhau. É que um advogado custa-me pouco mais de 9000 euros, provavelmente muito mais, pois a avaliação local é feita pelo pai da senhora proprietária forçada. Mesmo que conseguisse anular aquela situação, o terreno já lá tem uma habitação e as coisas que lá tinha desapareceu tudo, desde o meu primeiro ZX Spectrum, a coisas dos meus avós e da minha mãe. Uns foram vendidos para alguém que lá andou a comprar recheios de casas, o resto terá sido enfiado em aterros. E tudo ao abrigo da lei... 
É por isso que estas situações acontecem e vão continuar a acontecer. Quem tem dinheiro faz o que lhes apetecer e paga, aos advogados, para assim ser feito. Esses são destes grupos. 
Sem imagem de perfil

De uidade e a 18.01.2023 às 07:56

Da maneira como descreve, alguns dos detalhes configuram um caso de polícia. Porque mais parecem um autêntico saque ou pior, uma forma de esbulho violento através de coacção moral, de pressão sobre os esbulhados, criando dificuldades por ex, no acesso ao registo de propriedade "indisponíveis" nas finanças (!) ou outros estratagemas de legalidade duvidosa,  até que o esbulhado_ desarmado e esgotado_ desespere e desista por impotência. 
Vivemos num Estado de Direito, e essa arbitrariedade sem restrições que descreveu não está (como diz) "ao abrigo da Lei", é um crime de abuso de poder. Pelo que se percebe há bens e imóveis, "adquiridos" por particulares_ os tais "amigos muito sabichões"_ não para os fins de utilidade pública (previstos), mas para fins "pessoais", aumentando fraudulentamente o seu património!!!

 "Abuso de poder ou abuso de autoridade é conceituado como o ato humano de se prevalecer de cargos para fazer valer vontades particulares."
" A violência no esbulho pode ser exercida tanto sobre as pessoas como sobre as coisas  (...) Quando a actuação do esbulhador sobre a coisa esbulhada é de molde a, na realidade, tornar impossível a continuação da posse, seja através de obstáculos físicos ao acesso da coisa, seja através de meios que impedem a utilização pelo possuidor da coisa esbulhada, estaremos perante um caso de esbulho violento" 
Sem imagem de perfil

De Anonimo a 17.01.2023 às 16:17


Esses gajos não percebem nada de floresta.
Disso, saúde, educação, transportes, habitação, e todos os outros assuntos, percebem advogados, economistas e gestores de marketing.
Sem imagem de perfil

De passante a 19.01.2023 às 00:29

As elites, em Portugal,


... são de fraca qualidade.


Não sei porquê, se calhar porque as exportámos ou sangrámos de outro modo desde os tempos de D. João II, não se vê chefia competente. Excepto o assomo de Salazar, que foi possivelmente o estertor de morte deste país.


É triste, mas somos atabafados por nabos.

Comentar post



Corta-fitas

Inaugurações, implosões, panegíricos e vitupérios.

Contacte-nos: bloguecortafitas(arroba)gmail.com



Notícias

A Batalha
D. Notícias
D. Económico
Expresso
iOnline
J. Negócios
TVI24
JornalEconómico
Global
Público
SIC-Notícias
TSF
Observador

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

  • lucklucky

    Rui Ramos só pecou por defeito. É ir ler a Constit...

  • Anonimus

    Há tanta gente com vontade de ir para a guerra... ...

  • Anónimo

    Infelizmente por vezes há que jogar para o empate....

  • Anónimo

    Derrotem PutinIsto é mais fácil de dizer do que de...

  • Anonimus

    Espalhar a democracia é um bom cliché...A vitória ...


Links

Muito nossos

  •  
  • Outros blogs

  •  
  •  
  • Links úteis


    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D
    170. 2011
    171. J
    172. F
    173. M
    174. A
    175. M
    176. J
    177. J
    178. A
    179. S
    180. O
    181. N
    182. D
    183. 2010
    184. J
    185. F
    186. M
    187. A
    188. M
    189. J
    190. J
    191. A
    192. S
    193. O
    194. N
    195. D
    196. 2009
    197. J
    198. F
    199. M
    200. A
    201. M
    202. J
    203. J
    204. A
    205. S
    206. O
    207. N
    208. D
    209. 2008
    210. J
    211. F
    212. M
    213. A
    214. M
    215. J
    216. J
    217. A
    218. S
    219. O
    220. N
    221. D
    222. 2007
    223. J
    224. F
    225. M
    226. A
    227. M
    228. J
    229. J
    230. A
    231. S
    232. O
    233. N
    234. D
    235. 2006
    236. J
    237. F
    238. M
    239. A
    240. M
    241. J
    242. J
    243. A
    244. S
    245. O
    246. N
    247. D