Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
O velho José Maria, no termo de muita controvérsia, parte enfim para o famigerado Panteão das figuras gradas da República. Cumpriu-se a vontade de não sei bem quem.
Ilustro, propositadamente, esta crónica com a cabaia exposta em Tormes que o seu amigo e parceiro dos Vencidos da Vida, o Conde de Arnoso, trouxe da China e lhe ofereceu. É mais que certo, Arnoso não se comparava literariamente a Eça de Queiroz. Ambos tiveram, porém, igual projecção na sociedade da sua época. E quando o escritor morreu e a viúva e os filhos orfãos ficaram na sua conhecida aflição financeira, foi Arnoso quem mais se mexeu para que lhes fosse atribuida uma pensão - que, anos volvidos, a República extinguiu, dadas as convicções monárquicas dos filhos de Eça e a sua intervenção nas Incursões de 1911-12.
Outrossim, não me compete a intromissão nos assuntos internos da Família Eça de Queiroz, dividida pelo vai-ou-não-vai dos restos mortais do antepassado para o Panteão. Mais depressa me ponho do lado dos fregueses de Santa Cruz do Douro e tento acompanhar o que seria a vontade de Eça se o pobre coitado se pudesse pronunciar sobre si mesmo.
Arnoso morreu na casa da sua gente, em cujo jazigo foi e está sepultado. Dali não creio que saia. Eça, decerto impossibilitado de rumar, pós-morte, para Verdemilho (Aveiro), trazido de Paris foi levado ao Alto de S. João. Muitas décadas corridas, os seus próprios familiares lograram trasladá-lo para Santa Cruz. De onde agora o propuseram ao Panteão!
Uma honra para Eça? Ou um penacho para os proponentes?
Sem voz já, indefeso, coberto por uma bandeira de que ele faria a maior troça - quem duvida de tal? - Eça foi, está a caminho. Ao encontro de quem? Quem lá está com quem se identifique?
Com o devido respeito por Sofia de Melo Breyner Andersen (in casu com manifestas afinidades com a Maria Amália Vaz de Carvalho contemporânea de Eça), o mais é nada. Nem arrisco Guerra Junqueiro, sem embargo da célebre fotografia dos "cinco"... Não, basta lembrar a sua reacção, em vésperas de casamento, ante o propósito ligeiramente biográfico de Ramalho Ortigão, para conhecer a distante vontade queirosiana face ao universo da política e das multidões. Mesmo, até, face ao magnetismo de Lisboa, do fascínio que a capital alimenta contra a província. A vida de Eça não foi linear, mas a sua derradeira fase literária são A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras.
Eça gostaria, estou certo, que as suas ossadas permanecessem em Tormes. Foi o que a sua familia quis e deixou de querer. Pode ser que um dia mais tarde deixe de querer o que agora quer. Mas será já demasiado tarde. E à História restará guardar os actos e o nome dos autores...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
A Europa inteira tem este problema comum, que não ...
A lei foi escrita, essencialmente, por Almeida San...
Exactamente. Este país tem aturado tanta aberração...
"As elites globalistas portuguesas tal como os seu...
Caro Henrique,Normalmente estou de acordo consigo....