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Da leitura que faço da história de Portugal na primeira metade do Séc. XX, fico com a ideia clara de que Salazar se limitou a governar ao “centro” que é para onde empurram sempre os ventos da História. Tenho o entendimento de que o chamado “centro” em política é simplesmente o pensamento dominante em determinada época. Ou seja, a luta política pelos seus actores e lideranças sectárias, não é mais do que a promoção de um determinado modelo de ideias no espaço do centro, que é definido pela maioria politica-sociológica em que os regimes se suportam numa determinada época. Quero eu dizer, simplificando muito, que o Estado Novo correspondeu durante mais de duas décadas às expectativas da grande maioria população portuguesa. O Estado Novo não promoveu o catolicismo, limitou-se a surfar a religiosidade da grande maioria dos portugueses, não era mais puritano que a grande maioria desses portugueses. Em grande medida, sem uma repressão exagerada como aconteceu a leste da Europa, o Estado Novo foi simplesmente o espelho das expectativas dos portugueses que, depois dos tempos revolucionários da 1ª República, o acolheram e aclamaram com vista à sua felicidade. Não foi só a prosperidade económica e a esperança numa vida melhor (o ponto de partida era muito baixo) que determinou a aquiescência popular àquele regime autoritário. No fundo, no fundo, Estado Novo foi, ao seu tempo e no seu auge, “politicamente correcto”.
A experiência que a rua me concede coincide com este perfil dos portugueses. A sua grande maioria é muito pouco ideológica e menos ainda sectária. Acredito pouco no sucesso das movimentações partidárias que pretendem mudar à força (ortopedicamente) esse “centro” político dos portugueses. Quero eu dizer que os “Educadores do Povo”, sejam eles partidos políticos, ou a Comunicação Social, têm genericamente pouco sucesso nas suas intenções. Foi isso que intui, por exemplo nos tempos da Covid, e que tentei explicar um dia destes num almoço de amigos “reacionários”, digamos assim, sem sucesso. Vencia naquela mesa a tese de que a epidemia de Covid teria sido uma conspiração dos governos ocidentais para maquiavelicamente subjugar, talvez através de vacinas de cariz duvidoso, o povo ignaro. Talvez motivados pelos interesses obscuros dos grandes laboratórios. Contra isso, argumentava eu que, independentemente da avaliação do verdadeiro grau severidade da crise sanitária, os governos e as medidas por si implementadas se limitaram a corresponder às expectativas das populações dentro dos seus condicionamentos económicos e culturais. Veja-se o que aconteceu a Boris Johnson, cuja displicência inicial e os escândalos finais o liquidaram politicamente. As medidas implementadas pelos governos, mais ou menos repressivas ou persecutórias, liberais ou antiliberais, incluindo as campanhas de vacinação, foram aquelas que foram abraçadas, desejadas e exigidas pelo grande “centrão” político de cada país, sem grande critério científico ou outro. De resto, quanto aos resultados das diferentes estratégias, bem sabemos como as estatísticas bem torturadas, darão aquilo que cada um pretenda.
Serve isto para dizer que acho que não vale a pena batalhar-se pelas ideias que cada um defende, tentar influenciar o centrão politicamente correcto que nos oprime a cada época? Sendo certo que é ingénuo querer-se mudar a direcção do vento com as mãos, a história prova-nos à saciedade que mudam-se os tempos e mudam-se as vontades. Como tento explicar pelo exemplo dado no primeiro parágrafo, os ventos mudam, afrontando a irrelevância da vontade de cada um. Nem sempre para melhor, entenda-se, o “centro” move-se. Desde que pareça moderno a cada geração.
Não tenho a ambição de possuir uma visão da verdade absoluta, que a Deus pertence. E se tivesse algo aproximado disso não era num blog que a exporia, em meia dúzia de linhas.
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