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Luís Montenegro recebeu dos portugueses um bom capital: uma vitória por escassa margem, e a ordem para negociar e mudar. Negociar para mudar, não, obviamente, com quem a maioria absoluta dos portugueses quis rejeitar, o Partido Socialista. Negociar para a mudança.
Luís Montenegro e a AD poderiam ter aprendido alguma coisa com António Costa, que em estritas questões de sobrevivência é genuinamente hábil. Costa não hesitou em aliar-se com partidos esses sim antidemocráticos, para governar e, de passagem, engolir os aliados.
Mas não aprenderam nada. E, hoje, Luís Montenegro e a AD decidiram negociar com o PS, e deitar o capital todo pela janela, para não mais o recuperar.
Fio-me muito em certas imagens, e o rosto acinzentado, luzidio, a atitude corporal nervosa de André Ventura ao saber da partição da presidência da Assembleia da República, dizem-me que não esperava aquilo. Esperava negociar e obter alguma coisa que pudesse empunhar. Negociar in extremis, é claro; negociar a falar grosso, é claro; negociar ao fim de umas quantas contradições, é claro; e, depois, ceder. No fim, relevaria até os disparates extemporâneos com que Melo e Rangel se entretiveram a cavar fossos em bicos dos pés. [Quem creia que Ventura estava irredutível, terá que pensar que sacrificou intencionalmente a vice-presidência da AR, um completo absurdo].
Mas a AD preferiu negociar com o PS. E, assim, numa demonstração de embaraço verdadeiramente lamentável, assim e de uma penada só atirou a fiabilidade pela janela fora. E, com este gesto canhestro, a AD cometeu várias coisas, todas elas lamentáveis.
A primeira coisa que cometeu foi subscrever a ideia antidemocrática do Livre e do Bloco de que as novas bancadas da Assembleia são compostas de uma maioria de esquerda e uma minoria de direita constituída pela AD. Há depois, segundo esta tese, uma inexistência, um fumo, um vazio: 50 deploráveis eleitos por mais de um milhão deles. Perante a opção de Montenegro e da AD a extrema-esquerda sorri e esfrega as mãos.
A segunda coisa que a AD cometeu foi hipotecar de vez toda a capacidade de governar. Desde hoje, a AD só poderá tomar as medidas que o PS a deixar tomar. O PS sorri e esfrega as mãos.
Segue-se, portanto, que a AD cometeu uma terceira coisa, um outro erro: o de condenar-se a eleições antecipadas.
A AD cometeu, por fim, a quarta e mais grave de todas as coisas: no momento em que deitava fora o capital que lhe fora confiado, riu-se de quem lho confiou. O que a faz correr o risco de, nas eleições antecipadas a que se condenou, devolver o centro ao PS, a maioria à esquerda toda, e o primeiro lugar da oposição ao Chega (quanto ao CDS, lá terá provavelmente que desatarraxar a placa outra vez). E o PS ri a bom rir, e esfrega as mãos.
E o eleitorado, que pensa? Não faço ideia, mas imagino. Imagino a esquerda a dizer: «São burros, nunca se entendem, estão de saída não tarda». Imagino a maioria absoluta do eleitorado a dizer: «Foi para isto?!»
A turbulenta eleição do Presidente da Assembleia da República confirmou a tese do perspicaz Rui Tavares. Efetivamente, os três blocos são uma realidade, porém, a sua constituição e visão ideológica diverge substancialmente daquela que o porta-voz do Livre sugere. O modelo, a matriz, a grelha de interpretação do mundo político ocidental, alicerçado na clássica dicotomia entre esquerda e direita, desmoronou. A tradicional divisão assente na organização económica cedeu lugar a um novo paradigma cujo âmago é a identidade. A gritante clivagem que se manifesta é entre globalistas e nacional-populistas, dado que é a identidade nacional a única com força para se opor à avalanche da “governança” global.
Confrontada com o impasse, a corrente do liberal globalismo em Portugal optou por uma solução pouco inovadora: consensualizou-se dividir o mandato em períodos de dois anos, atribuindo os primeiros dois a Aguiar-Branco e, posteriormente, outros dois a Francisco Assis. Esta é uma prática estabelecida ao longo dos anos no Parlamento da União Europeia (UE), um dos mais infames centros do liberal globalismo, resultante do consenso entre os grupos políticos que o Partido Socialista (PS) e o PSD integram, respetivamente o Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e o Partido Popular Europeu (PPE). O leitor não se engane: a atual elite política dominante na UE é vincadamente anti-nacional. O Chega destaca-se, inequivocamente, como o único partido com representação parlamentar que se posiciona em oposição ao globalismo. De facto, a defesa de uma “Europa das nações” traduz essa postura num ambiente de marcada clivagem identitária.
Jorge Humberto Pinto no Observador (artigo Esquerda e direita já não existem)
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