Aceitei com gosto o convite do João Távora para um repasto em sua casa [almoço anual do Corta-fitas] em vésperas de casamento real. A morada dada era muito exata, mas se não fosse também teria sido fácil identificá-la pela bandeira azul e branca (nada relacionado com futebol) na janela. Uma bandeira bonita, diga-se. Eu não monárquico, não aprecio privilégios políticos herdados e tenho pouco interesse pelas componentes estéticas da monarquia, embora uma parte dos países que utilizo como exemplos de boa governação o sejam. Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Suécia, todos monarquias. Pelo contrário, todos os maus exemplos são repúblicas.
Depois do almoço, fui pela autoestrada a fazer o exercício mental de pensar em todas as coisas negativas para o país que resultariam de termos uma monarquia.
- Se fôssemos uma monarquia, arriscaríamos a ter constantemente familiares diretos em diferentes lugares de governação... hummm...Bem, se calhar não é por aqui.
- Se fôssemos uma monarquia, poderíamos hoje ainda ser liderados pelos filhos das elites do estado novo... hummm... Se calhar, também não é por aqui.
- Se fôssemos uma monarquia, veríamos os mesmos apelidos a repetirem-se constantemente nas direções de várias organizações, de empresas a universidades... humm... Também não.
- Se fôssemos uma monarquia, a mobilidade social de quem nasce fora de boas famílias poderia ser complicada... hummm... ainda não foi desta.
Continuo republicano, mas... é muito difícil ser republicano num país de privilégios em que o apelido vale tanto. Naquela tarde foi especialmente difícil ser republicano, depois de comer tão bem em casa de monárquicos.
Carlos Guimarães Pinto