João Távora, esse "método" é-nos demasiado familiar... e fez "escola". Os actores mudaram pouco, de modo que, enfim, isto é apenas uma "reprise".
Mas como a memória é fraca, às vezes convém repescar velhos tempos (peço desculpa pela extensão) recuando ao ano de 2010, 10 de Fev. Assim escrevia Pacheco Pereira no seu "Abrupto blog":
"...escrevendo este artigo à sexta-feira à tarde, não sei muito bem que situação existirá em Portugal no sábado de manhã, quando for publicado. Não por causa da encenação grosseira destes últimos dias à volta da Lei das Finanças Regionais, uma mistura de farronca e de dolo, cujo único efeito foi agravar ainda mais o espectáculo da instabilidade política face aos mercados internacionais. O Governo, que se prestou a este espectáculo, não tem qualquer espécie de noção da gravidade da situação em que colocou o país, isto na hipótese benigna. Porque, na hipótese menos benigna, sabe muito bem o que nos espera qualquer dia destes, e pretende arranjar um pretexto para se pôr a milhas, de preferência culpabilizando outros por uma "situação explosiva" que sempre negou existir e que, bem pelo contrário, ajudou e muito a agravar. Já toda a gente percebeu que Portugal é mesmo uma Grécia que acabará por ter que fazer à força, e por imposição exterior, aquilo que se recusou a fazer, mesmo apesar de ter sido de há dois anos para cá avisado dia sim, dia não, por quase todos os economistas, pelo Presidente da República e por essa senhora frágil que todos atacam e que disse sempre as coisas certas para Portugal, sem qualquer vantagem pessoal e política, pagando um preço elevado por o ter feito num país de irresponsabilidade optimista, outro nome para o desperdício, sob a égide da Casa de Sócrates.
Basta ver a agenda política dos últimos dias do primeiro-ministro para perceber até que ponto é assim. Estas semanas, com a crise "grega" a crescer no horizonte, comemorou os cem dias de um Governo que foi um não-Governo. Não tinha medidas para apresentar, obra dos cem dias, a não ser que se considere as suas experiências de engenharia social "fracturante", como o casamento de pessoas do mesmo sexo, uma "obra" governamental. Almoçou num dos vários dias em que comemorou os cem dias - sempre com a complacência da comunicação social para lhe permitir prolongar a comemoração do vazio - com umas senhoras da moda, alegre e contente, no seu melhor estilo Armani-Boss e deu 200 euros a cada nova criança. Pagos daqui a 18 anos. Este tipo de "oferta", puro desperdício sem sentido social, sem qualquer efeito benéfico mensurável, é mais uma das formas perversas de alimentar a ideia de um Estado que "dá" coisas aos cidadãos, ainda por cima dinheiro. E "dá" coisas com um profundo sentido de injustiça social, porque ricos e pobres vão receber os mesmos 200 euros."