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A 12 de Março de 2025, na CNN, Miguel Pinheiro dizia:
“Cada vez há mais pessoas a fazerem contas à derrota de Luís Montenegro, dentro do PSD … parece-me que isso é o mínimo da responsabilidade política, é nós termos pessoas que possam ter cargos de alguma importância no PSD, a tentarem olhar para o que é que vai acontecer daqui a dois ou três meses … até porque se o objectivo de Luís Montenegro é ir para eleições com esta estratégia … que é a estratégia assobiar para o lado, então isto vai ser uma hecatombe … Alguém que acha que este discurso cola, é alguém que ainda não percebeu o que está a acontecer”.
Não vou transcrever o resto, que pode ser ouvido e é exemplar, ouvido agora depois dos resultados eleitorais.
Não é a discussão sobre estar certo ou errado que me interessa, estar certo e errado acontece-nos a todos em diferentes momentos, o que me interessa é que, nessa altura, eu resolvi guardar a ligação para esta entrevista, exactamente por me ter parecido, nessa altura, não hoje, que os pressupostos da análise não só eram completamente delirantes, como eram baseados numa bolha mediática sem qualquer relação com a realidade.
De facto, uns dias antes, Miguel Santos Carrapatoso escrevia, num daqueles longos textos cheios de especulações, sem factos verificáveis e baseados em fontes anónimas que o caracterizam: “Ao longo dos últimos dias, foram crescendo alguns rumores de que poderiam estar em curso movimentações internas para tentar derrubar Luís Montenegro. Colocavam-se, essencialmente, dois cenários: o PSD indicava outro primeiro-ministro para se manter no Governo (solução Durão Barroso-Santana Lopes) ou, havendo dissolução da Assembleia da República e convocação de eleições antecipadas, as tropas anti-Montenegro organizavam-se para tentar indicar outro candidato a primeiro-ministro que não o atual líder social-democrata”.
Poderia citar inúmeros textos delirantes da bolha mediática – três ou quatro dias antes destas eleições, Pedro Adão e Silva escrevia, Público, uma crónica totalmente baseada na ideia de que as sondagens eram tão iguais às de há um ano, que era evidente que as eleições de 18 de Maio eram completamente inúteis porque ia ficar tudo na mesma – e Sebastião Bugalho, já na discussão dos resultados, chamava a atenção para o desfasamento entre a importância do Bloco no mundo mediático e a sua expressão eleitoral (e, acrescento eu, mais expressivo desse desfasamento seria olhar para a influência eleitoral do Chega quando comparada com a sua influência mediática).
Para fugir à discussão partidarizada, podemos usar outro exemplo do desfasamento entre a bolha mediática e a sociedade, falando na trivialidade com que se repetem as acusações de que Israel ataca sistematicamente hospitais em Gaza, sem qualquer correspondência nas vezes em que se diz que o Hamas é acusado de usar sistematicamente os hospitais como base para as suas acções militares, apesar de as duas afirmações serem equivalentes e se relacionarem directamente.
Claro que podemos falar nas dificuldades das sondagens reflectirem a realidade eleitoral, mas por que razão evitamos discutir o que leva a bolha mediática a não ver sinais de alteração social que desemboca nos resultados eleitorais que vamos conhecendo, independentemente das sondagens?
Os jornalistas não têm vizinhos, não vão ao supermercado, não andam em transportes públicos, não falam com estranhos ao balcão de um tasco, não frequentam reuniões de condomínio, não conversam nas reuniões de pais das escolas, etc., etc., etc.?
A questão está longe, muito longe, de ser especificamente portuguesa, alguma coisa mudou na forma como o jornalismo (e toda a bolha mediática relacionada) é produzido de tal forma que hoje o jornalismo não parece ter qualquer competência para ser o canário na mina, produzindo sinais avançados sobre a evolução da sociedade.
Aparentemente, o jornalismo, e a bolha mediática de que se alimenta e alimenta, perdeu a ligação com a sociedade, passou de um espectador relativamente amoral do mundo para um actor moralmente empenhado em criar mundos novos.
Para mal dos pecados da imprensa e do negócio jornalístico, para entreter há alternativas melhores, para mudar o mundo há instrumentos mais eficientes. Ao contrário do que parece ser a convicção de boa parte dos jornalistas, a importância do jornalismo é, hoje, bastante limitada.
Se dúvidas houvesse, é ver quantos jornalistas, nesta campanha eleitoral, se queixaram amargamente do facto de alguns actores políticos não lhe passarem cartão, preferindo ser entrevistados através de uma mediação diferente da do jornalismo.
A quantidade de jornalistas que concluíram que isso resultava da vontade de fugir ao escrutínio não tem conta.
O mais espantoso, para mim, é que a esmagadora maioria dos jornalistas que dizem isto nem se dão conta de como estão a demonstrar a sua própria irrelevância: o escrutínio jornalístico que interessa e tem valor não é aquele que depende da boa vontade do escrutinado, é mesmo aquele que é feito contra a vontade do escrutinado.
Se estão à espera de que os escrutinados queiram ser entrevistados para os escrutinar, não admira que a sociedade não atribua grande valor ao seu trabalho.
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