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Um dos meus irmãos, de vez em quando, vê uma receita no Expresso e traz-me porque gostaria de provar o que lá está.
Se acho que sei fazer e não é muito complicado, experimento.
Fez exactamente isto um dia destes, fui deixando andar, até que lá fiz o que ele queria (ele diz que ficou bom, eu acho que eu deveria perceber que é preciso cuidado com o sal em coisas que levam anchovas) e o assunto passou, tendo o meu irmão dito que iria dar os parabéns ao cozinheiro (que é vizinho dele) que tinha escrito a receita.
Acontece que por causa de uma ocasião social decidi-me a fazer um doce de que gosto e que uma das minhas irmãs faz muito bem, e portanto pedi-lhe a receita.
Como não se fazem experiências com convidados, fui experimentando a receita e, para escândalo da minha irmã, mudando umas coisas (a receita até é fácil, mas a diferença entre ficar uma coisa banal e comestível, ficar uma coisa boa, ou ficar uma coisa óptima, no caso, é sobretudo uma questão de técnica de execução da receita, as variações na receita são meras adaptações a gostos particulares).
Como é um doce com mais gemas que claras, à conta das várias experiências fiquei com algumas claras.
Como farófias, suspiros, merengues, pavlovas e afins é coisa que não me assiste muito (como, porque sou bem educado, se tiver de ser), uso mais as claras para outras coisas, nomeadamente bolo de prata, o bolo preferido do meu pai, cuja receita sei mais ou menos de cor mas, pelo sim, pelo não, vou sempre confirmar na Isalita (por boas razões, tenho alguma tendência para trocar o peso do açucar com o da farinha, neste bolo).
Quando guardei o livro, porque a minha mulher tinha falado de saladas e o livro ao lado da Isalita é um livro que raramente abro, espanhol com receitas de saladas, tirei o livro e disse-lhe para ver se tinha alguma coisa que lhe interessasse para o que queria.
Qual não é nosso espanto quando a tal salada que vinha no Expresso aparece no livro (com pequenas alterações, claro).
Significa que quando decidi fazer a receita que pedi à minha irmã e a mudei, ou quando o cozinheiro que publica uma receita por semana do Expresso usa uma receita clássica com algumas alterações, alguém se apropriou do trabalho de outras pessoas?
Penso que toda a gente achará essa ideia um completo disparate.
Pois bem, o PS, que sempre se recusou a assumir qualquer responsabilidade na política de austeridade executada (e bem) por Passos Coelho, decidiu agora que era boa ideia dizer que tudo o que os outros fazem depois do PS ter passado por qualquer autarquia é apropriação do trabalho do PS (uma evolução do famoso "o dinheiro é do peiesse" de Elisa Ferreira).
Nem é preciso falar das obras de Santa Engrácia, que duraram 284 anos, para ilustrar a estupidez de dizer que alguém que executa obras previstas, preparadas ou lançadas antes de si se apropria do trabalho das pessoas que o precederam.
Pois bem, um jornalista da Sábado qualquer resolveu ir "investigar" as obras executadas no mandato de Moedas para avaliar se o PS tinha razão em dizer que tudo o que Moedas fez foi apropriar-se do trabalho do PS, concluindo que sim, que tudo o que Moedas fez foi executar obras que eram do PS.
Para fechar o ciclo e dar um bocadinho de credibilidade a esta patetice, dois dos mais ubíquos publicistas da esquerda estatista não partidária (pelo menos é o que dizem, nesta coisa do não partidário), Susana Peralta e Pedro Adão e Silva, fazem umas grandes intervenções dizendo que até uma investigação independente demonstra que Moedas não fez mais que apropriar-se do trabalho do PS na câmara de Lisboa.
O assunto não vale um chavo, vale tanto como virem-me acusar de me apropriar do trabalho da minha irmã porque executei (com alterações e menos técnica) uma receita que foi ela que recolheu.
Depois queixem-se de que a vida está difícil para os jornalistas: quando uma profissão deixa de ter utilidade social, de maneira geral, desaparece.
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