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Dos interesses

por henrique pereira dos santos, em 26.08.18

Um destes dias tive uma discussão civilizada e cordata sobre o corporativsmo dos jornalistas, com um jornalista, e a páginas tantas usei este artigo para ilustrar as minhas teses sobre jornalistas que torcem as coisas até que a peça diga o que querem, mas sem que possam ser acusados de mentir directamente.

Perante os dados verificáveis, que contrariam a tese a que o jornalista quer dar força, opta-se por ouvir duas pessoas.

Uma das pessoas, Paulo Fernandes, é um investigador reconhecido internacionalmente pelo trabalho científico na área a que diz respeito o artigo e que contraria a tese a que o jornalista tem afeição.

Outra das pessoas, João Camargo, é um dirigente político que nunca escreveu nada de reconhecidamente relevante sobre o assunto em causa (na altura do artigo tinha uns artigos de opinião com muita circulação, mas cujo conteúdo técnico nunca foi avalizado pelos que produzem conhecimento sobre o tema em questão), tendo a grande vantagem de dizer as coisas que o jornalista quer que estejam escritas, sem que seja ele próprio a escrevê-las.

Perante a diferença de credibilidade dos dois testemunhos com estas proveniências sobre o assunto em causa, o jornalista usa um truque comum: o da suspeição sobre os interesses que motivam o testemunho que não lhe interessa para a defesa da sua tese.

O mais interessante disto é que se considere o eventual interesse económico pessoal como uma questão pertinente, mas não o mais que óbvio interesse político pessoal de outro dos intervenientes, não havendo necessidade de adaptar a pergunta feita a Paulo Fernandes, tendo em atenção a condição de dirigente do BE, casado com uma assessora do grupo parlamentar do BE "Esta condição [totalmente omissa na peça em causa] não levanta suspeitas quanto à isenção das suas opiniões?".

Esta duplicidade de critério no tratamento dos interesses pessoais económicos e os interesses igualmente pessoais, mas políticos, está muito longe de ser uma questão portuguesa: "Is it really true that political self-interest is nobler somehow than economic self-interest?" já é uma pergunta com bastantes anos e então feita nos Estados Unidos.

É pena o nosso jornalismo esquecer-se sistematicamente de que interesse próprio temos todos e de que não há nada de estruturalmente diferente entre o interesse económico do sindicalista que exige melhores condições salariais ou interesse pessoal do político que defende qualquer coisa que o possa beneficiar na eleição seguinte.

A diferença que interessa é apenas entre a defesa de interesses próprios de forma legítima e a defesa de interesses próprios de forma ilegítima.

Na peça que usei como exemplo, a grande diferença é entre quem diz umas coisas suportadas em coisa nenhuma para fazer avançar a sua agenda política e quem diz o que sabe a partir de investigação avaliada e avalizada pelos sistema científico.

O resto é a manipulação habitual de muitos jornalistas (que também têm interesses próprios) e com a qual muitos outros, corporativamente, contemporizam, aparentemente sem perceber que estão a minar o único activo que conta na sua profissão: a confiança dos seus leitores.


1 comentário

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De Anónimo a 27.08.2018 às 11:16

Infelizmente é o jornalismo que temos. Colocar no mesmo plano um investigador sério, sóbrio, com um cv longo na área, com um tipo que se apresenta como "ambientalista e doutorando em alterações climáticas" diz muito sobre o enviezamento da discussão pública sobre o eucalipto. Para o J. Camargo se uma especie não é bombeira então é incendiária!!
Declaração de interesses: não possuo quaisquer interesses no eucalipto. Herdei uma propriedade com pinheiros, estevas e alguns sobreiros.

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