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Há dias, numa tertúlia de amigos, arrisquei a hipótese de que o Raul Brandão e o Vergílio Ferreira seriam os maiores escritores portugueses do século XX. Fui massacrado, claro. Atiraram-me logo com o Saramago e o Lobo Antunes à cabeça. Os mais velhos foram até buscar o Torga às profundas da memória, valha-me Deus. Vencido, mas não convencido, fiquei a pensar na receita do sucesso literário. Eis um dos temas mais fascinantes da sociologia da literatura. O mérito conta, mas é a base da pizza: tem que levar em cima os ingredientes que lhe dão sabor. Uma boa máquina editorial, o favor da crítica, os contactos certos, a pose, o mito, as ideias (de preferência à esquerda, mas não necessariamente, veja-se o Houellebecq) e, sobretudo, essa coisa intangível: a sintonia com o zeitgeist, o ar do tempo, a conjuntura. Numa palavra, a moda.
Também conta. No caso do Saramago, talvez a dissonância entre o agora revelado machismo e os efeitos do movimento Me Too provoque algum desdouro. Não sei, mas não me preocupa. Seria um absurdo tão grande deixar de lê-lo por causa do machismo como começar a lê-lo só por causa do Nobel. Se a moda ajuda ao sucesso, não contribui para o génio. Fará um bestseller, mas não uma obra-prima. Quando me querem obrigar a ler o Saramago, ou o Lobo Antunes, ou o Torga, lembro-me do velho professor de Cambridge que respondia sempre, a quem lhe perguntava se já tinha lido o último êxito: "Não tive tempo. Ainda me faltam uns diálogos do Platão..."
A esta hora, o próximo Platão há-de estar a escrever num T2 da Brandoa ou de Argenteuil, findo o dia de trabalho no McDonald`s. O Mestrado em Semiótica não lhe serviu de nada, mas se tiver a sorte de publicar (depois da recusa de várias editoras) será lido, conhecido e amado - mais tarde ou mais cedo. Pode não ser em vida, mas o seu tempo chegará. Chega sempre porque os grandes livros, dizia o Steiner, esperam toda a eternidade pelos seus leitores.
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