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"Diga amigo Miguel
Como está você?
Em todo o Xipamanine
Já ninguém o vê
Vou dar-lhe a minha viola
Para tocar outra vez
O seu valor um dia
Você mostrou
Todo o mainato o ouvia
E até dançou
Miguel só você sabia
Tocar como já tocou
Vinha maningue gente
Para aprender
Moda lá da sua terra
Bonita a valer
O Jaime e o Etekinse
Amigos não volt´haver
Quando a noite se ouvia
Miguel tocar
Também havia a marimba
Para acompanhar
A noite
Na Ponta Geia
Amigos hei-de recordar
O barco foi andando
E a Nanga vi
Foi a saudade aumentando
Longe daí
A gente
Na minha terra
Não canta assim
Como eu ouvi"
O colono José Afonso - de acordo com as especulações de Cláudia Castelo, "As oportunidades acrescidas de promoção social, a abundância de mão-de-obra barata e subjugada, a certeza de um estatuto inquestionável perante o conjunto da população africana – largamente maioritária – terão influenciado na decisão de migrar" - viveu várias vezes nas colónias portuguesas, tendo dois irmãos a viver em Moçambique até depois da independência, um na Beira, e outra em Lourenço Marques.
Esta letra de uma das suas músicas está longe de ser a única sobre a sua experiência colonial, escolhi-a por ser, de acordo com a grelha de análise woke, uma visão paternalista tipicamente colonial do seu criado Miguel Djedje (já agora, a letra é tirada da Associação José Afonso, mas tenho as maiores dúvidas de que a transcrição "o barco foi andando e a Nanga vi" esteja certa. Para mim, faz muito mais sentido "o barco foi andando e a Manga vi", quer porque a Nanga parece ser uma pessoa e do barco não se vêem pessoas, quer porque a letra mistura referências de Lourenço Marques (Xipamanine e o uso de vocábulos de uma das línguas moçambicanas dessa região) e da Beira (como seria o caso da Manga, essa sim, visível do barco), os dois sítios onde o colono José Afonso viveu.
É também, mantendo a mesma grelha de análise, uma visão luso-tropicalista das sociedades coloniais, em que se descreve um ambiente de miscigenação que não passa da lenga-lenga habitual dos retornados que são incapazes de ler o mundo que os rodeia, nomeadamente a injustiça em que assenta o seu privilégio, incapacidade que parece evidente no colono José Afonso.
Já agora, para quem tenha interesse, deixo aqui quatro ligações para mais testemunhos que pretendem dulcificar os aspectos pesados do regime colonial, que se relacionam com este discurso luso-tropicalista do colono José Afonso.
Podem ver-se, em três partes, um vídeo de mais dois colonos imersos numa visão cor de rosa do colonialismo e das sociedades coloniais, e uma referência a um livro de memórias de outro colono que afirma, sem rebuço: "O debate anti-colonial é uma coisa que remonta quase ao início dos descobrimentos. A circunstância de eu ter estado em Moçambique não altera a minha posição anticolonial, anti-exploração colonial. Não tenho grandes complexos em relação ao meu passado, a não ser a circunstância de ser uma pessoa que pertenceu ao setor colonizador, à administração colonial, à soberania exercida por um país sobre os outros. Foi uma coisa que teve o seu tempo e que demorou a acabar entre nós. Mas a questão da anticolonização não surgiu só agora, existe há muito tempo. Mesmo entre os que viveram em África, havia alguns anticolonialistas, que se puseram ao lado da possibilidade de um regime negro. Havia colonos — poucos, é certo — que percebiam perfeitamente que o regime colonial, que se baseava na exploração do negro, nunca levaria África a um desenvolvimento minimamente aceitável para a população".
Ou então, não, não é nada disso, é só a demonstração de que o mundo a preto e branco que nos pretendem vender nunca existiu e as sociedades humanas são bem mais variadas e complexas do que nos querem fazer crer.
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esse rey é meu...e não gostava dele de início , pa...
Para este tipo de gente, tudo se resume a alteraçõ...
A arma não foi disparada involuntariamente, isso é...
Não Felipe,não é assim que deve funcionar uma demo...
Tomem nota deste video(26 min)no qual a narrativa ...